Domingo é dia de frango. Domingo é dia de frango bronzeado, bonito, requintado, enfeitado, adornado, ensopado, inteiro, repartido ou o que seja, na mesa. Por isso frango, ao contrário dos humanos, deve abominar domingo. Domingo é um dia de frango às avessas, apesar de ser o dia dele.
Frango foi feito por Deus para ser devorado aos domingos, a família reunida, sem dó nem piedade, nem educação. Minha mãe adora dizer - e adora frango também - que não é falta de educação comer frango utilizando as mãos. Mal acaba de se justificar, agarra uma coxa de frango e dá-lhe uma dentada de puro êxtase e satisfação. Se limpasse os beiços com a manga da camisa - assim como muitos de nós fazemos - a cena estaria completa.
Frango na mesa em dia de domingo vem desde tempos imemoriais. Meu pai, com 89 anos, ainda se lembra dos almoços de domingo da sua infância, cujo prato principal era quase invariavelmente um frango - ou mais, dependendo da freguesia - caneludo, atlético e esguio, apanhado de última hora no galinheiro da fazenda. Minha avó materna, lembro, tinha uma coleção deles no seu quintal. Frangos daqueles de canelas amarelinhas - que ela fazia questão da cor das canelas - só para os almoços de domingo.
Cavalgada de domingo sem encomenda de frango no destino é defeituosa. Pode ser cavalgada pro povoado do Barracão, do Ribeirão ou da Restinga, não interessa o lugar, só vai ser perfeita se tiver frango, de preferência ao molho pardo, servido acompanhado de angu e couve.
Dia de domingo você sai pela cidade e a cidade transpira e exala aroma de frango. Ou o frango está sendo preparado em casa ou estará atuando como protagonista nas televisões de cachorro espalhadas pela cidade, à espera do seu resgate. Isso mesmo, televisões de cachorro, que são aquelas assadeiras de frango – que os cachorros, auto-adestrados, adoram assistir sentados – todas elas viradas para a rua só para lembrar que hoje, domingo, é dia de frango. E tome frango!
E frango tem uma qualidade que pode até legitimar a sua escolha como prato principal de domingo: raramente dá briga entre os consortes. Reparte-se o frango em pedaços e cada um avança no seu. No final cada um está com o pedaço que o satisfaz. Porque quem gosta de peito não gosta de asa, quem gosta de coxa não gosta das costelas, e vice-versa. Se alguém já pegou a coxa, come-se a sobrecoxa, que é quase a mesma coisa. Eu então não tenho motivo nenhum para discutir com ninguém: eu gosto e avanço é no pescoço, pra comer com as mãos e lamber os beiços.
E tem outra peculiaridade: sempre está na medida certa. Frango não falta nem sobra. Pode-se dividi-lo em tantos pedaços quantos sejam os comensais. Frango tem um só peito, mas que, milagrosamente, pode ser dividido em tantos peitos: que delícia! Somente os ossos sobram, para a felicidade e delírio dos cachorros - aqueles mesmos cachorros que há pouco assistiram o frango assando na tv de cachorro - que esperaram pacientemente a sua vez e que, por fim, não deixam o menor vestígio da existência daquela vida. Frango pode até ter o tamanho que se precisar. Em certos lugares ainda há o hábito de se criar o frango capão. Castra-se o frango e o confina até o ponto de abate, aos 7, 8 meses, com cerca de 4 ou 5 quilos. O frango se transforma quase num peru.
E uma última, é barato! Baratinho! Todo mundo hoje em dia pode comprar um frango aos domingos, daqueles transgênicos que nascem do ovo, crescem e são abatidos aos quarenta e poucos dias. Coitados! Felizes são aqueles frangos caipiras que ciscam a terra em busca de minhoca! E felizes também aqueles que podem se dar ao luxo de comer um desses! Que nos digam os frequentadores do sítio do Dr. Luiz, mas aí já é outro caso, que o frango não é o de domingo e sim, o da segunda-feira.
Esse mistério interminável de quem veio primeiro, se o ovo ou a galinha, já desisti de desvendar. Para mim não tem discussão, nem me interessa outra solução: o frango em primeiro lugar (pelo menos no domingo)!
Adivinhem quem vem para o almoço de domingo?
13 de Junho de 2009, por Rafael Chaves
Leitor do JL - 21/06/2009
Bem lembrado o almoço com frango na mesa, com quiabo, macarão, batata , ensopado, assado, frito , ao molho pardo, ei trem bão, este ano quero conhecer Rezende Costa, terra de meus antecedentes e quero comer frango feito por mineiro, moro no Es. sou amigo do Rosalvo.