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Amigo oculto

10 de Janeiro de 2012, por Rafael Chaves

Meu caro amigo oculto,

lamentavelmente não pude trocar de “papelzinho” no sorteio, pois quando fui fazê-lo a nossa colega respondeu, com um sorriso sarcástico no canto dos lábios, que isso não era possível, pois não havia mais papelzinho a ser sorteado e “além do mais, onde já se viu querer escolher amigo oculto?”, disse. Apesar de alguns colegas terem vindo ao meu socorro, solícitos e se prontificando a trocar, eu não achei justo fazer isto com eles. Aliás, achei até estranho que tantos tivessem se disposto à troca, “que haveria de errado com seus amigos ocultos?”, pensei, “melhor ficar com o meu mesmo!”.

Acontece, meu caro amigo, que por falta de curiosidade ou pura displicência, não abri o papelzinho no mesmo instante em que o peguei da sacola. E um tempo depois, ao estender o papel dobrado, é que, para minha surpresa, deparei-me com seu nome.

Quero que saiba que essa minha vontade de trocá-lo por outro não significa, de modo algum e longe disso, que tenha algo contra sua pessoa, ou que você seja uma pessoa difícil, ou que fosse custoso encontrar um presente à sua altura, ou mesmo que você fosse, na verdade, meu inimigo oculto. Pelo contrário, tenho por você enorme apreço e consideração. E nem poderia ser diferente! Você é uma pessoa que, acima de ser meu amigo oculto, é meu amigo de verdade, confidente e íntimo. E, ainda, foi muito fácil e tranquilo comprar o seu presente, pois sabia exatamente o que você queria. Portanto, livrei você de ganhar um desses presentes inapropriados e de mau gosto que a gente costuma ganhar de amigo oculto.

O meu problema era falar de você em público, de seus predicados e de seus defeitos, por meias palavras, até que alguém adivinhasse quem você é. Isto, sim, era complicado para mim. E foi única e exclusivamente por esse motivo que aventei a possibilidade de substituí-lo. Embora eu tivesse muito a dizer de você e para você, eu prefiro fazê-lo reservadamente, numa conversa para mais tarde, longe dos olhares curiosos e ansiosos desses nossos colegas. Desde já, então, peço-lhe que guarde um pouco do seu tempo nesta última semana do ano, que é muito propícia para eu lhe dizer o que você representou para nós e o que esperamos de você para o ano que vem. E adianto-lhe que você tem muito, muito a melhorar.

Falar nisso, em ano novo, quero lhe desejar um feliz 2012, e que neste ano vindouro você possa, finalmente, cumprir com seus propósitos e promessas, as mesmas que fez no ano passado, que, bem me lembro, são as de:

1. aprender inglês de verdade, de fato, e não esse “the book is on the table” que você fica vomitando, verborrágico, aí pelos corredores, como se fosse um poliglota;
2. parar de fumar de uma vez por todas, que esse seu hábito está fazendo muito mal para sua saúde e também para o seu convívio social e
3. perder um pouco dessa barriga que, permita-me a franqueza e “tenha paciência”, deprecia bastante sua imagem, já combalida pelo tempo.

Finalmente, espero que esta lembrança, embora seja a que você quisesse ganhar, lhe tenha realmente serventia e não que seja mais uma daquelas coisas que você costuma comprar, compulsivamente, para entulhar sua casa de quinquilharias que jamais ou muito esporadicamente serão utilizadas. Desculpe a sinceridade.

Meu abraço.

Carta de mim para mim mesmo, que fui meu próprio amigo oculto entre os colegas de trabalho.

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