Bebês não falam. Talvez possam se expressar ou se comunicar de algum modo que nós não sabemos ou não identificamos. Ainda não achamos a pedra da Roseta, a chave, o mistério que decifre a linguagem dos bebês. Para todos os efeitos, é melhor a gente considerar que eles pensam, têm suas vontades e possam mesmo se comunicar, pelo menos entre eles próprios.
Entre nós, adultos, e eles, bebês, não creio que seja possível estabelecer um entendimento. Seguimos a nossa intuição, na crença de que estamos fazendo o melhor para eles. Tentamos adivinhar. Veja, por exemplo, o caso dos médicos pediatras. Você leva seu bebê inquieto ao pediatra e ele examina dali, examina daqui e vai logo decretando:
Isso é uma virose! – e prescreve uma avalanche de medicamentos, cada qual para um dos sintomas que a mãe descreveu, para alegria e felicidade da mãe, que sai consolada do consultório, dever cumprido, direto à farmácia, porque com aqueles remédios todos não era possível que o filho não iria dormir à noite e, ‘graças a Deus’, ela própria.
O bebê ali, chorando e esperneando, fulo de raiva, tentando esclarecer, imagino:
Pô, para de me bater essa m... de martelo no meu joelho e de enfiar esse ferro no meu ouvido e esse palitão na minha boca!!! Tá querendo me sacanear? Você num tá vendo que eu tô é com uma indisposiçãozinha por causa da mamadeira com leite azedo que minha mãe me obrigou a tomar ontem, pô!?
Teve a vez em que a mãe chegou desesperada ao consultório para dizer que o seu bebê não estava querendo comer:
Doutor, essa menina não come nada de sal, doutor, já tentei de um tudo...
Calma, minha senhora, o que está acontecendo? - consola o pediatra.
É, doutor, essa menina não tá alimentando nada, não quer saber de comida! Só gosta de bobagem...
Explica isso direito, minha senhora...
É o seguinte, doutor, ela acorda lá pelas 6 horas da manhã e eu dou uma mamadeira com mingau de maizena para ela. Aí ela dorme até mais ou menos umas 8 horas. Quando acorda, eu dou para ela uma ou duas bananas amassadas, bem amassadinhas com açúcar, doutor, porque senão ele não come, ou outra fruta. Aí ela dorme de novo. Acorda lá pelas onze, mas como o almoço ainda não está pronto, ela choraminga, então eu dou uns biscoitinhos para ela esperar o almoço. Mas quando chega meio dia e eu vou dar almoço para ela, doutor, ela não quer de jeito nenhum, só come um pedaço de doce que eu dou. Adora doce! Depois dorme até mais ou menos umas 2 horas e aí acorda e eu dou uma mamadeira de vitamina para ela. Ela fica um tempo acordada de tarde e eu dou uns biscoitinhos para ela distrair. Ela gosta muito de biscoito, doutor, principalmente aqueles recheados, sabe?!. Lá pelas 5 horas eu dou uma fruta para ela. A que ela mais gosta é de banana mesmo, doutor. É para esperar a janta, entende?. E gosta de tomar leite também, ela gosta muito de leite com chocolate, doutor, principalmente se tiver bem docinho. Aí eu faço uma sopinha para ela, mas ela não aceita de jeito nenhum, doutor, não quer saber da sopinha de jeito nenhum... Que que eu faço, doutor?
Será que essa minha mãe não entende que eu não tenho fome nem na hora do almoço nem na hora do jantar!? – reclama o bebê, enquanto vira os olhos e torce o nariz.
Segundo um internauta, a conversa entre dois bebês que se encontram seria mais ou menos assim:
E aí, como é que vai?
- Mais ou menos. Tô muito bem não.
Ué, o que que aconteceu?
- É minha mãe, ela não anda muito bem não. Acho que ela anda meio maluca, meio estranha...
Como assim?
- Uai, noite passada ela resolveu, assim do nada, botar terror na minha cabeça! Disse que uma tal de Cuca ia me pegar...
Cuca?
- É... e imagina você que eu nem conheço essa tal de Cuca. Será que ela tá querendo me entregar para outra pessoa? E ela disse que quando a Cuca viesse me pegar eu ia estar sozinho, sozinho... imagina, ia me deixar sozinho!
Ih... isso é grave! Minha mãe também deu para uma doideiras. O caso dela é nervoso mesmo...
- È?
- É, sabe que ela disse que pegou um pedaço de pau e atirou num gato?
- É?
- É, assim do nada, de pura maldade. Vê se isso se faz com o coitado do bichinho? E, ainda por cima, disse, por puro sarcasmo, que apesar da paulada o gato não morreu.
- Nossa! Sua mãe tá doida mesmo!
- Prá você ver... E ainda disse que uma tal de Dona Chica ouviu o berro que o gato deu de dor e não fez nada. Ficou lá, só admirada pelo ganido do tadinho do gato.
- Putz grila!
- E você não sabe o pior. Depois ainda mandou um boi preto me pegar, e tudo isso com a cara mais safada desse mundo, cantando, sabe? Assim como se eu estivesse achando graça dessa selvageria dela. Sei não, tô querendo aprender a andar logo e vou cascar fora...
- Acho que nós não demos sorte com essas nossas mães não!
- É... Tamos perdidos nesse mundo! Começamos mal...
Por via das dúvidas, de hoje em diante eu jamais vou apertar as bochechas dos bebês e chamá-los de bonitinhos. Sei lá o que eles vão pensar...
Bebês não falam! Ou falam?
18 de Abril de 2009, por Rafael Chaves