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Diversidade

14 de Marco de 2011, por Rafael Chaves

Se há uma coisa que impressiona na humanidade é a diversidade. Afora algum acontecimento, natural ou artificial, congênito ou adquirido, todos os seres humanos têm cabelos, dois olhos, um nariz, uma boca, dois ouvidos, dois braços, tronco e duas pernas, mas ninguém é igual a ninguém.

Os cabelos podem ser crespos ou lisos, fartos ou raros, escuros ou claros, compridos ou curtos. Os olhos podem ser azuis ou castanhos, oblíquos ou arredondados, pequenos ou grandes, vivos ou apagados. O nariz pode ser achatado ou adunco, arrebitado ou reto, proporcional ou saliente, fino ou grosso. A boca pode ser larga ou miúda, pode ser carnuda ou delgada, sanguínea ou anêmica, cordiforme ou elíptica. Os ouvidos podem ser de abano ou paralelos, diminutos ou taludos, lobulosos ou contíguos. O corpo pode ser brevilíneo, mediolíneo ou longilíneo, atlético ou flácido, moreno ou claro, cabeludo ou alopécico, violão ou quadrilátero, gordo ou magro.

Afora isso, ou seja, além do que a natureza nos deu ou o acidente nos deformou, do que não depende de nós ou de nossa vontade, existem os artifícios.

Pode-se pintar ou alisar os cabelos, colocar neles uns adereços, uma fita ou um arco, fazer neles uma trança, um rabo de cavalo, raspá-los ou eriçá-los. Os olhos podem ser realçados com lápis, pode-se passar neles uma sombra de qualquer cor, afinar as sobrancelhas, alongar os cílios com rímel ou ainda mudá-los de cor com lentes de contato. Nos ouvidos cabem brincos e na boca batom. Para o nariz, se não houver solução, cabe uma plástica. Os braços e mãos foram feitos para relógio, pulseiras e anéis. No corpo tatuagens,  piercings e depilação.

E a indumentária? Veste-se o corpo com roupa descontraída ou formal, fashion ou démodé, de cores sóbrias ou multicores, manga comprida ou camiseta regata, calça ou bermuda, vestido ou saia, chinelo ou tênis, sapato ou tênis, chapéu ou boné, ou não se veste nada, à moda playboy.

E o conjunto das características psicológicas que fazem a personalidade? Há o tímido e o extrovertido, o carismático e o cordeiro, o altruísta e o egoísta, o racional e o sentimental. E ainda não tentei descrever as doenças, as síndromes e os distúrbios que acometem cada um, que de louco todo mundo tem um pouco.

E por que estou falando disso tudo? É que não sou um sujeito muito observador e detalhista, mas de vez em quando eu me pego a olhar as pessoas nas ruas, nas praças, nos bares, cada um no seu cada qual, cada um no seu quadrado. Você já fez essa experiência? O fantástico disso tudo é que você, ali, olhando as pessoas, se surpreende como parâmetro e juiz da normalidade. E quem disse que eu ou você somos paradigma para alguma coisa? Que pessoa é esta – me diga, por favor – que poderia ter a perfeição plástica, vestindo-se da moda universal e definitiva e irrepreensível na sua personalidade?

Talvez um dia eu mande pintar meu cabelo de vermelho, corte-o à moda punk, ponha na vitrola um funk, ensaie uns passos de axé, troque os sapatos por andar descalço, durma na rua sob um manto de jornal, vasculhe o lixo à procura de alguma coisa útil – quem sabe latinhas de alumínio? –, vista uma calça skinning, mande tatuar um dragão no meu deltoide, almoce no restaurante popular – e coma caviar de sobremesa para saber que gosto tem –, faça as necessidades sólidas num banheiro químico, deixe a barba crescer, deixe de fumar e beber, viaje de helicóptero, me converta a alguma religião, me filie ao DEM, me matricule numa academia de ginástica, só para eu ser diferente de mim mesmo.

Talvez um dia eu me interne numa clínica psiquiátrica! Talvez um dia eu entenda tanta diversidade, talvez um dia eu entenda a humanidade!

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