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Fora de fuso

11 de Outubro de 2010, por Rafael Chaves

Andei viajando, de férias. Viajar é sempre ótimo. Além de descansar (da rotina do cotidiano e, principalmente, do trabalho) faz a gente pensar. Andei pensando...

O homem, em geral, é meio antropocêntrico. Nós todos, no particular, somos meio egocêntricos. Mas quando a gente viaja, mais para longe um pouco, você muda de fuso horário. E se você muda de fuso horário tudo muda e sua mente se confunde. De repente, a hora em que você está já não é mais a hora do almoço, ou do jantar, ou de dormir ou seja lá o que for. Você está noutra hora que não a sua hora. Daí você se pergunta, caso fosse, em tese, a hora do almoço lá de onde você saiu: se seria a hora de eu estar almoçando agora se estivesse lá, porque então não está na hora de almoçar aqui? Dizer que são 9 horas da manhã onde você está e que é meio-dia lá onde você esteve responde parcialmente à questão. Sim, pois na verdade, sendo nove ou meio-dia, estamos no mesmo momento, no mesmo instante, embora em horas e locais diferentes. E se estamos no mesmo instante, por que não é a hora do almoço para todos?

Agora são onze horas da manhã em Resende Costa. Provavelmente você estará trabalhando, esperando a hora do almoço. Em Nuuk, no Polo Norte, é meio-dia e já devem estar comendo um peixe de almoço. Nos Açores já comeram. Lá são duas da tarde. Em Londres são três da tarde, devem estar trabalhando também, pensando no chá das cinco. Em Roma são quatro e inúmeros turistas devem estar visitando o Vaticano, na esperança de ver o papa. No Líbano são cinco da tarde e devem estar preocupados com algum ataque israelense no crepúsculo vespertino. Em Dubai são seis da tarde e podem estar apurando o quanto venderam de petróleo no dia. Nova Deli, na Índia, são sete da noite. Será que em Dhaka, Blangadesh, tem novela das oito? Em Hong Kong são dez da noite.

Dez da noite faz a gente pensar. Considerando que essa seja uma hora propícia para as relações amorosas, ou seja, digamos que 80% dos casos no dia ocorram nessa hora, e que a China tenha 20% da população mundial, ou seja, um bilhão e duzentas mil pessoas, que dessa população 50% seja sexualmente ativa, que as relações envolvam duas pessoas e que a frequência seja de três relações por semana, estariam ocorrendo 102.857 relações sexuais neste exato momento na China.

Enquanto isso, no Japão e na Austrália as pessoas dormem e no oeste americano as pessoas acordam. Pelo menos é o que se espera que estejam fazendo.

Além disso, tem uma curiosidade. Existe uma linha imaginária na terra, a Linha Internacional de Data, ou apenas Linha de Data, lá no meio do oceano Pacífico, que implica, necessariamente, em uma mudança de data ao cruzá-la. Isso significa que, se você estiver sobre essa linha, poderá colocar o pé direito em um dia e o esquerdo em outro. Interessante, não?!

E a gente não se dá conta, no nosso dia-a-dia, das coisas que estão acontecendo no mundo. Seria mesmo uma tarefa impossível. Mas enquanto você resolve seus problemas e suas atividades aí, que para você é o que mais interessa, outros resolvem os seus, totalmente diferentes. E o mundo gira, gira, gira, até chegar a hora, aquela hora da qual ninguém escapa.

Já voltei da viagem. Voltei para minha hora, a hora da minha rotina, a hora da minha realidade. Essa hora, nesse instante, é que determina as minhas necessidades. Já não são onze horas da manhã em Resende Costa, enquanto escrevia a hora mudou e é meio-dia. É hora do almoço. Que me perdoem os chineses, mas eu vou é almoçar.

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