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Formologia

10 de Agosto de 2010, por Rafael Chaves

Potros da raça Mangalarga Marchador sendo observados pelo juiz do julgamento

Exposição Agropecuária, inclusive a nossa, de Resende Costa, quase se tornou uma mostra de duplas sertanejas, de bandas pop, de grupos de pagode ou de conjuntos de rock. Quase! Graças aos sitiantes e fazendeiros - embora gostem de um showzinho -, os bovinos, equinos e asininos continuam sendo levados ao Parque de Exposição, para alegria e prazer deles e do público interessado.

Gente é assim, congênita ou domesticada na diversidade e no costume. Exposição para uns é à noite, para outros é durante o dia. A noite é das músicas, bebidas e seus resultados orgíacos. A noite é da audição, do paladar e do tato. O dia é dos concursos de morfologia, leiteiro e de marcha e seus resultados “troféicos”. O dia é da visão e do faro. Bom de verdade é exercitar os cinco sentidos, seja noite ou dia!

E é nesse turbilhão de acontecimentos que permeiam a exposição que esse filósofo, praticante dos cinco sentidos e estudante do sexto, mais conhecido como André do Pimpa, vem questionar, admirado e embasbacado com as explicações didáticas do juiz, sobre as partes dos cavalos. “Morfologia? É isso mesmo?”, investiga, curioso. E quer que se explique, cronicamente, sobre as orelhas, cabeça, tronco, membros e andamentos dos cavalos de tal sorte que o leitor, ignorante do assunto, entenda dessa tal morfologia.

A morfologia é o estudo das formas e estruturas. Pode ser de qualquer coisa, embora aqui se cuide de seres vivos. Deve haver quem cuide da morfologia das baratas, das lagostas, das lombrigas e de tantos outros seres repulsivos e horrorosos. Melhor voltarmos aos cavalos. Cada raça é uma raça e, como raça, se presta a algum objetivo, na sua forma. Você pode ter um cachorro, que tanto pode ser um poodle quanto um rottweiler, e eles não se confundem, nem na forma nem no objetivo. E entre os poodles ou entre os rottweilers, cada um terá uma forma/estrutura, embora parecida. Nos cavalos acontece do mesmo jeito. E, de acordo com a raça em que o animal está inscrito (porque há a necessidade de o animal estar registrado e documentado em alguma associação de raça para ser julgado), ele será julgado nas formas que preveem o padrão oficial da raça. O padrão racial informará, então, a forma desejada e, ainda, em alguns casos, o seu andamento. Com fundamento nesses parâmetros é que o juiz fará o vencedor, por mais subjetivo que seja um julgamento.

Nas nossas festas é comum a exposição de três raças de equídeos: os asininos, os campolinas e os mangalarga marchadores. Eles não se confundem, assim como um poodle se distingue de um rottweiler. O visitante, por mais leigo que seja, dirá: “esse é um mangalarga marchador” ou “esse é um campolina” e assim por diante. A diferença visual estará na forma da cabeça, orelhas, pescoço etc. Assim é que cada raça será julgada em separado, porque não há como comparar, para se ter um vencedor, padrões diferentes.

Os cavalos chamam a atenção. Além da utilidade, são animais bonitos de se ver. “Olha que lindo esse alazão crinalvo do Fabinho do Pimpa! E esse lobuno do Aldemarzinho e do Cláudio do Roberto do Sanico! E esse pampa do Lucas do Aldemarzinho!”. Falar nisso, cor não é raça, embora possa ser uma característica de raça, como os baios nos campolina e os tordilhos nos mangalarga marchador, ou possa embelezar um animal. Um cavalo pode ser pampa e não atender ao padrão racial preconizado na raça pampa. Cor é acessório, embora algumas raças julguem pelagem mais bonita.

Diz-se que dois conversavam, sendo um deles cego. Nisso passa um cavalo diante dos dois e o que enxergava disse “Ô cavalo bonito!”, ao que o cego retrucou “E gordo!”. O criador Aldemar Aarão já dizia que 50% da raça de um cavalo estava na gordura dele. O negociante Júlio do Benevides já dizia que a arroba de carne mais cara do mundo é a de cavalo. De fato, a beleza do cavalo está associada aos cuidados que se tem com ele. Mas cuidado! Conheço animais que, magros e a campo, foram comprados por ninharia e chegaram a campeonatos de raça. E conheço animais que, gordos, foram comprados a peso de ouro e depois descartados.

Como diria o Tonho da Santa, caro André, esse concurso de “formologia” (talvez associando ao adjetivo formoso) é, no fundo no fundo, concurso de beleza, mas, como diria o juiz, de beleza zootécnica, dentro do que preconiza o padrão racial. Entendeu? Não? Então vamos tomar uma lá em cima, ouvindo um sertanejo, na barraca do Batata, que essa exposição tá boa demais!

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