Lawanny Anne apareceu na vida dele de repente. Surgiu pedindo-lhe apenas a amizade, nada mais. Ele aceitou, despretensiosamente. As coisas, no entanto, não se sucederiam tão fácil quanto lhe parecera a princípio.
O rostinho angelical e meticulosamente desenhado de Lawanny Anne despertou nele mais que curiosidade. Ele começou a ver nela mais que alguns simples traços de lápis de cera. A pele era lisa, suave, tênue e imaculada. Os cabelos louros, ligeiramente avermelhados, e presos, deixavam escapar uma mecha que lhe caía sobre a sua bochecha até a nuca. A nuca era delgada, esbelta. O rosto fazia sombra à nuca, como se a quisesse esconder de alguma mordida. “A nuca dela parecia querer ser mordida, lambida, sorvida”, assim ele me disse, vampírico. Os cabelos, a mecha, acentuavam e emolduravam as curvas perfeitas de sua orelha, que pareciam querer ouvir ou assimilar os pensamentos dele. Os olhos grandes, cor-de-mel, todavia, não lhe miravam. Pareciam enxergar alguma coisa ao mesmo tempo triste e vaga, como se essa coisa estivesse distante, mas perto do coração. O nariz pequeno e a boca rósea, de lábios finos, complementavam a beleza extrema de Lawanny Anne. E toda aquela imagem de Lawanny Anne despertou nele o interesse de encontrá-la, onde ela estivesse. Queria protegê-la de sua fragilidade, queria amá-la em sua formosura. E ela parecia querer que ele a trouxesse para o mundo onde ela pudesse, definitivamente, encarnar.
Então ele começou a procurar por Lawanny Anne. Uma busca solitária, meticulosa e silenciosa. Solitária porque não queria dividir com ninguém sua busca, nem que soubessem de suas intenções. Meticulosa porque dependia de um esforço hercúleo pelos mínimos detalhes e vestígios de onde pudesse estar Lawanny Anne. Silenciosa porque ocupavam suas noites e madrugadas.
Ele procurou pelos outros amigos de Lawanny Anne. Quase todos eles eram de Resende Costa. “Resende Costa não é tão grande assim!”, pensou. Através deles ele procurou por Lawanny Anne. Viu álbum por álbum, foto por foto dos amigos de Lawanny Anne, tentando localizar algum indício qualquer onde Lawanny Anne estivesse “marcada”. Releu todos os “feed” de notícias, desde quando Lawanny Anne deu seu primeiro sinal de existência, na tentativa obstinada de ter informações dela. Inscreveu-se nos grupos onde os amigos de Lawanny Anne publicavam supondo que ela pudesse ter algum interesse em particular. Nada!
Lawanny Anne não era fácil. Nada havia sobre ela, nem informações públicas nem privadas. Nada ela lhe contara de sua vida. Quando e onde teria nascido Lawanny Anne? Onde teria estudado? Onde trabalhava? Onde? Quem era essa Lawanny Anne que tomava conta da sua mente, do seu coração e do seu tempo? Por que lhe pedira a amizade e depois desaparecera?
Foi num dia desses de busca insana e persistente que ele recebeu uma mensagem no bate-papo do facebook:
- Ei, tudo bem? – alguém perguntou
- Olá, tudo bem e com você? – ele respondeu.
- Tudo ótimo! Aqui, posso te perguntar uma coisa?
- Claro que pode. Diga.
- Quem é essa sua amiga, a Lawanny Anne?
- Heim? Uai, eu já ia te fazer a mesma pergunta!
- Ihh... Ela me adicionou aqui e eu tô doido prá saber quem é, mas não consigo encontrar nada. Acho que é “fake”!
- “Fake”?
- É, “fake”. “Fake” é um perfil imaginário. É alguém que se inscreve no facebook com dados falsos.
- Ahh...
De repente tudo ficou claro como o dia para ele. Enquanto as lembranças de suas buscas intermináveis lhe vinham, ao mesmo tempo seu amor ruía, desmoronava. Calmamente foi até busca e lupou Lawanny Anne. Deixou-lhe uma mensagem: “eu sei quem você é!”. Depois buscou e clicou em “amigos” e escolheu a opção “desfazer amizade”, não sem antes admirar, pela última vez, seu rosto perfeito.