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Na balada, até a badalada

12 de Fevereiro de 2014, por Rafael Chaves

“A vida é um processo em que se vive por fases. Infância, adolescência, maturidade, maturidade, maturidade e velhice. As fases podem ter subfases, não importa. As coisas aumentam ou diminuem de importância conforme a fase em que vivemos”. Assim começou uma conversa entre quatro amigos, na pizzaria La Fontana, e que se estendeu por toda noite.

Segundo essa teoria, ele disse que estava na “subfase cinderelo”, de uma de suas maturidades. Não aguentava mais ir para a balada e ficar até o amanhecer. Determinada hora, entre a primeira e segunda das badaladas da madrugada, era acometido de uma inquietação tal que, invariavelmente, era forçado a ir para casa (dormir). Era como se perdesse o encantamento. Foi essa a razão que ele encontrou para não estar em nenhum relacionamento. “Não tenho sapatinho de cristal”, disse, rindo de si mesmo.

Entre umas e outras cervejas que se seguiram, cada um ia fazendo conjecturas sobre a noite, sobre as baladas. Fulano chegou à conclusão de que as mulheres não vão à balada à procura de homem. “Homem é que sai pensando em conquistar mulher”, disse ele. “Ué, então o que a mulherada pensa quando sai para a balada?”, questionou Beltrano. “Sei não”, alguém respondeu. Seguiu-se um silêncio meditabundo. “Vai entender as mulheres!”, pensou um. “Vai entender as mulheres!”, pensou outro. “Vai entender as mulheres!”, pensou o terceiro. “Vai entender as mulheres!”, pensou o último.

De repente, uma voz tomou conta do silêncio: “mulher vai à balada só para ser paquerada”. “Por todos”, emendou um deles. “Não, não, mulher vai à balada pela balada, só isso! Eu sei, eu li.”, tentou consertar o mais bem informado dos quatro. “É, mas no final da noite, ninguém fica sozinho!”, disse o mais empírico. Repetiu-se um silêncio resignado. Pediram mais uma cerveja e decidiram brindar mais uma vez. Enquanto brindava, ele decidiu que na próxima noite iria ficar até o final da balada. Queria saber qual deles tinha razão. Queria prestar atenção nas mulheres, queria entender as mulheres, queria quebrar o jejum.

Então, numa noite, saiu um pouco mais tarde, já decidido a aguentar até o fim. Deixou seu carro na garagem e foi com um amigo. Pelo menos, teria que esperar a carona para voltar para casa. O bar era bom, a música era boa, as pessoas eram boas, tudo estava bom. O olhar que trocou com uma das meninas estava bom também. “Que linda! E olhando para mim! É hoje!”. Ele partiu na direção dela e roçou seu braço no dela, com certa força. Ela olhou para ele, como quem fosse repreendê-lo, mas ao invés disso deu-lhe um sorriso aquiescente. O coração dele bateu forte e ele sentiu-se nas nuvens. Não importava mais se ela estava ali paquerando todos ou sendo paquerada por todos ou se estava somente pela balada ou se ele seria o troféu do final da noite...

 

Mas a bebida também estava boa, ótima. E seguiu-se uma, duas, três, quatro doses de uísque. Foram as doses que ele conseguiu contar. De repente ele se perdeu do amigo e já não encontrava o olhar da menina. Quando o relógio bateu duas horas da madrugada uma inquietação tomou conta dele, uma inquietação tal que, quando deu notícia de si, estava dentro de um táxi, indo para casa. Voltou ao bar algumas vezes, mas nunca mais encontrou aquele olhar de novo...

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