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Não passe dos 60

16 de Abril de 2013, por Rafael Chaves

Eu ando meio nervoso. Meio não, inteiro! Não vejo TV, não leio notícias, nada! Estou um completo alienado. O que foi feito de mim, um quase trotskista? Cadê o “libelu” que combatia a ditadura militar e insuflava greves? Onde estão guardados os discursos inflamados de sentimentos? E os sonhos utópicos?

Não é que eu não tenha mais ideologia. Eu creio que seja de esquerda, mas a impotência, a descrença e o pessimismo tomaram conta de mim. Quem sabe eu tenha hoje um ideário próprio? Assim como se, a essa altura de minha vida, me fosse permitido pensar por conta própria. Seria isso possível ou permitido?  “De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra”.

Charles de Gaulle não disse, mas o Brasil não é mesmo um país sério! Somos um país hipócrita.

A maioria das pessoas diz que as coisas estão melhorando. Têm esperança! Eu não! É por isso que eu me alieno: para não me enraivecer além da conta. Seria isso o que estou fazendo uma crônica? Por via das dúvidas, peço licença.

Eu poderia citar uma infinidade de motivos que me fazem pensar o que eu penso. Vou me restringir a um fato só. Há algum tempo aconteceu um acidente com o João do Galo e sua família que me deixou estarrecido. Segundo a versão que eu conheço (mesmo que haja outras, não invalidam o que eu vou dizer), ele vinha de Belo Horizonte para nossa Resende Costa quando, em Congonhas, um caminhão veio batendo em diversos veículos, entre os quais o dele. O caminhão não conseguiu reduzir a 60 km/h, velocidade permitida pelo radar, e bateu em dois carros antes de bater no dele e depois em mais outros três, num total de sete veículos envolvidos. Uma senhora morreu no momento do acidente, parece que outros três morreram depois. João perdeu o carro e quase a família toda!

A causa do acidente foi o radar. Quem vai a Belo Horizonte sabe o que eu estou dizendo. O radar foi instalado depois de um longo declive, de mais de cinco quilômetros, em uma rodovia de mão dupla, a BR 040, e camuflado depois de uma curva. O local de instalação foi meticulosamente estudado. Não para cumprir sua função de segurança, mas para multar. Todo mundo sabe que, no local, o que cabe é uma passarela, não um radar. Ainda que houvesse a necessidade de redução de velocidade, não poderia ser desse modo, instantaneamente, de repente, sem mais nem menos. Haveria de ser paulatina, desde o início do declive, com avisos e outros meios mais.

Eu tenho quase a convicção, a certeza, a ousadia de dizer que, após a instalação do radar, mais acidentes e mais mortes passaram a acontecer nesse lugar. Caberia apurar. Seria trágico se se confirmasse essa hipótese.

No dia do acidente, o caminhão que provocou o acidente estava no nome de uma empresa transportadora. No processo, segundo João, apareceu um recibo de venda do caminhão, com data anterior ao do acidente, provavelmente para isentar a transportadora. Devem ter colocado como responsável no lugar da transportadora um pobre coitado que dificilmente terá condições de pagar pelo prejuízo.

Definitivamente não sou contra radar ou, antes, pelo desrespeito às leis de trânsito. Mas do jeito que está sendo feito, não! Os radares são instalados quase todos com velocidade máxima de 60 km/h, aparentemente sem qualquer estudo de ser esta a velocidade de segurança para a via, e geralmente em locais preparados para flagrante, com intuito de arrecadar.

Nossa sociedade, nossas leis, nosso país esta infestado de hipocrisia. Hipocrisias como essa. Hipocrisias noticiadas nos jornais (que evito de ver ou ler) todos os dias. Dizem para a gente não passar dos 60 e, embora isso possa nos causar a morte, continuamos calados, subservientes, inertes, mansos... 

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