Meu compadre Barreto,
Tentei e tentei. Procurei por metáforas, metonímias, perífrases, sinestesias, elipses, pleonasmos, polissíndetos, anacolutos, silepses, onomatopéias, antíteses, apóstrofes, eufemismos, gradações, hipérboles, paradoxos, ironias, personificações, neologismos, sinônimos, antônimos, parônimos, homônimos... Qualquer “figura” através ou atrás da qual eu pudesse esconder meu ignóbil escrito, ou que lhe desse algum significado especial. Nada!
Apelei. Apelei! Em transe acerbo gritei “Oh! Os Ambulacros das holotúrias”, venham a mim!”. Mas espírito de escritor vivo (graças a Deus!) mal tem tempo de cuidar do corpo onde encarna. “Oh! Camões, Guimarães, Vinícius, Andrade, Pessoa, venham a mim!” Os dos mortos? Nem se deram ao trabalho; tinham mais o que fazer e melhores em quem investir. Nada!
Resignei-me. Melhor continuar a escrever chorrilhos de bobagens (pax-vobis) no Jornal das Lajes, sem compromisso, sem estresse, cada mês. Que mais posso almejar que falar com cavalos e ser amigo do Guiminha, lá no Beleléu? É tudo que posso (graças a ti) e já é demais!
Mas a cavalo dado não se olha os dentes, num é? Então toma! Toma este aqui, este redigido de agradecimento. Toma este reconhecimento, embora debilitado de aguamento, faltando dentes de revelho, prógnata dos que sobraram, orelhas acabanadas e bambas, bussolando uma a norte outra a sul, vezes uma a leste e outra a oeste, belfo, cego de um olho, cabeça de martelo, pescoço cangado, dorso selado, garupa com lordose, ancas caídas, acampado de diante, joelhos e jarretes cambaios... Contudo (ou sem tudo) é dado de coração!
Bom, “cumpadi”, é isso aí: obrigado!.
Abraços,
Carta a Antônio Barreto
Antônio Barreto é escritor de vocação e competência, meu compadre, autor de NO BELELÉU, que merece ser lido e discutido, e no qual fez especial referência a mim.