Creio que todo mundo já percebeu que eu sou cético e pessimista quanto ao futuro da humanidade. Eu até gostaria de pensar diferente, de acreditar, mas infelizmente, praticamente tudo o que vejo, os fatos com que me deparo só fazem reforçar essa minha, digamos, impressão. Premonição? E não digo isso achando que se o mundo fosse todo povoado por mim, ou pessoas iguais a mim, poderia ser diferente!
Pois bem, outro dia um conhecido meu, jovem ainda, declarou-se capitalista e filiado ao Democratas, o partido das novas ideias (sic). O fato veio à tona juntamente com as manifestações populares ocorridas aqui, que, por sua vez, foi consequência das inúmeras manifestações ocorridas no país. Não fosse isso, o fato poderia jamais ter vindo à tona, ainda mais que eu ando meio alheio aos movimentos políticos.
O que me espantou foi encontrar um funcionário público, formado em História por uma Universidade Federal (portanto educado e vivendo com e dos recursos públicos), cujos únicos bens parecem ser uma moto, um lote e um guarda-roupa cheio de roupas da marca “gangster” assumir-se um capitalista! Inacreditável!
Para mim, existem três tipos de capitalistas: 1) os ricos; 2) os privilegiados e 3) os tolos.
Os ricos, por uma questão óbvia. Ser rico é muito bom! Desfrutar dos prazeres dessa vida é orgástico. Comer e beber do bom e do melhor, vestir-se dos mais finos tecidos, extasiar-se nos mais lindos lugares, ser servido... carros, iates e castelos! Você pode imaginar o quão bom seria hospedar-se na Royal Villa, no Gran Resort Lagonissi, Grécia, pela bagatela de R$ 85.000,00 a diária? Pois tem gente que poderia passar a vida inteira lá! Um dito popular, sabiamente, fala que o dinheiro não traz felicidade, compra.
Os privilegiados, por sua vez, querem manter seus privilégios. Dinheiro e privilégio não são sinônimos. Ninguém quer se desfazer de suas prerrogativas, das vantagens que têm e que excluem os outros. Os ricos compram o Estado através dos privilégios que concedem, por exemplo, aos políticos. Dão-lhes apartamentos funcionais, verbas paletó, passagens aéreas, motoristas, salários polpudos, imunidades, aposentadorias compulsórias etc. Eu disse “por exemplo”, porque os privilégios estão aspergidos em inúmeras comodidades e em todas as esferas.
E por último os tolos. Os tolos são aqueles que justificam os ricos e os privilegiados. Para eles o mundo está repleto de oportunidades, iguais para todos, cabendo a cada um montar o cavalo arreado, literalmente. Trabalhar, esforçar-se para, finalmente, tornar-se rico.
O fato de existirem os nobres nas monarquias, que são um misto de riqueza e privilégio, ou de haverem os novos-ricos, que são um misto de riqueza com tolice, não invalida a classificação. Existem os puros e os miscigenados.
Não me acusem de que eu esteja aqui fazendo apologia do socialismo ou comunismo. Escrevo como escreveria Millôr Fernandes, para quem o capitalismo é a exploração do homem pelo homem. E o comunismo exatamente o contrário. Estou, sim, tecendo considerações que pudessem me fazer entender as razões de alguém, digamos, pobre, pretender-se defensor de um sistema que justifica a sua própria expropriação. Quase tão difícil quanto um rato que demonstrasse a necessidade dos gatos! O mundo é um prato de comida e se alguém come mais que o outro nesse prato, o outro há de passar fome.
Antes que digam que melhor uns se fartarem às custas dos outros que todos passarem fome juntos, vou encerrar este assunto, e do mesmo jeito que comecei: incrédulo e pessimista. Premonitório?