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O Rio de Janeiro continua... feio

14 de Maio de 2012, por Rafael Chaves

Outro dia fui ao Rio de Janeiro, meio que obrigado, resolver algumas coisas. Desci na rodoviária, depois de uma viagem noturna, tranquila e rápida pela 040. Durou bem menos que as 9 horas que costumava durar no tempo em que morei lá, há 35 anos mais ou menos. Rodoviária é como toda rodoviária: misto de aromas de salgados – pastel, principalmente – e café, de banheiro precário e pago e caro (às vezes sujo), de ar denso, de aspecto sombrio e de gente, muita gente, gente de todo lugar e de todo jeito... E táxi.

Eu ia mesmo precisar de um táxi, mas antes mesmo que eu avaliasse o lugar, à minha frente, umas quatro ou cinco “garotas” gritavam e gesticulavam de suas minúsculas cabinas em minha direção:

- Táxi! Táxi! Taxi, táxi! Preço tabelado, preço tabelado! Táxi, aqui, táxi!

A gritaria acabou de me despertar. Mirei e me dirigi a uma das cabinas da extremidade, para evitar ser prensado e pressionado pelas outras “garotas”. Eu também temia pela saúde delas, que ameaçavam se engalfinhar, numa disputa em que eu seria o prêmio. No outro dia, fatalmente, eu seria notícia nas páginas sangrentas de “O Dia”: “Mineiro desembarca na rodoviária, causa morte de duas jovens e foge de táxi”. E vá explicar para a polícia carioca que não era nada disso que tinha acontecido, enquanto me levavam, aos trancos e algemado, para Bangu I.

Enfim, delírios a parte, contratei a viagem ao centro da cidade a preço fixo. Pelo menos não fiquei a mercê de um “tour” involuntário e alternativo (passando por ruelas e favelas) pela cidade, cobrado por metro percorrido, pensei.

O cheiro da rodoviária foi trocado pelo cheiro fétido do canal do mangue. O esgoto pútrido e infeccioso escorria pelo meio da rua e chamava a atenção para os excrementos flutuantes que se moviam no seu leito, lenta e preguiçosamente, até serem despejados e se desintegrarem nas águas da baía de Guanabara. Enquanto não alcançamos a Avenida Getúlio Vargas, uma sensação de insegurança e medo tomou conta de mim. Ainda que fosse manhãzinha, a sujeira das ruas, as construções decadentes, empobrecidas e pichadas e o horizonte cinzento me causavam inquietação e repugnância. Já na Avenida Getúlio Vargas, minha velha conhecida dos tempos de office-boy, fiquei mais confiante. Pelo menos a sujeira agora era outra, sequelas do carnaval, expelidas pelo sambódromo.

Fiz o que eu tinha que fazer, não sem antes ter de deixar meus pertences aos cuidados de um guardador. Por questões de segurança eu não poderia entrar com celular no prédio onde eu tinha meu compromisso, então o mais seguro para mim, por incrível que pareça, foi deixar aos cuidados de um guardador de rua. Os cariocas são alegres e solícitos, principalmente se vai lhes render algum dinheiro. Mas não confie em ninguém que troca o s pelo x, o negócio deles é te extorquir. Experimente deixar um carro na rua sem pagar o que lhes pedem.

Como eu tinha o dia inteiro na cidade, pois havia de esperar pela condução de volta, resolvi dar um giro pelos arredores. Andei pelas ruas entre camelôs e gente até chegar à Praça XV, que havia sido tomada por viadutos. Era quase impossível de se ver o céu da praça. Peguei um ônibus que ia na direção oposta à da zona sul. Deixei o Pão de Açúcar e Corcovado pelas minhas costas. Esqueci de Copacabana ou Ipanema. Fui sentir o cheiro de fábrica de sardinha. Fui ver favelas da janela do ônibus. Desci num caótico centro de subúrbio. Andei novamente entre camelôs que tomavam conta de passeios e ruas. Lembrei-me dos preços exorbitantes dos pedágios quando fui a Cabo Frio. Lembrei das viaturas atravessando a Avenida Brasil, apinhada de policiais apontando seus fuzis para os lados. Lembrei de tanta coisa... Perguntei onde estavam os royalties de petróleo, que tornavam o Estado tão rico.
O Rio de Janeiro é lindo, visto de longe, do alto do Pão de Açúcar, do alto do Corcovado, de um ponto qualquer de Niterói ou das orlas cuidadas de suas praias da zona sul. Mas o Rio que vi é feio, muito feio e muito maior que a zona sul e é onde vive o povo carioca...

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