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O velho e o mar (Parte I)

17 de Setembro de 2014, por Rafael Chaves

Ele desceu do carro em frente ao mar, em Sítio do Conde, e olhou o horizonte. Ventava forte. As folhas dos coqueiros pendiam para um lado, lutando contra o vento. O mar, bravo, ia e vinha, incansável, jogando ondas, uma atrás da outra, na areia da praia. Não havia vivalma na praia. Sinal de que o mar não estava para peixe, não para um peixe das Minas Gerais. Deu as costas para o mar. Antes de entrar no carro novamente, viu uma pousada e pensou que seria bom passar a noite ali, dependendo do preço. Foi até a pousada e perguntou pelo preço da diária. Estava muito, muito barato. Olhou as instalações: piscina, ar condicionado, frigobar, televisão, café da manhã... “Nada como viajar fora de temporada”, pensou. Depois de dormir com oito marmanjos num albergue em Aracaju, quis se dar ao luxo de uma noite de relativo conforto.  E Sítio do Conde era a base com alguma infraestrutura para quem andava por aquelas bandas.

Era cedo. Resolveu ir antes conhecer Siribinha. Siribinha era indicação de visita de gente da região e Gil, o recepcionista da pousada, confirmou: “Siribinha é o cartão postal daqui”.

Siribinha é uma pequena vila de pescadores, à beira do encontro do rio Itapicuru com o mar, a treze quilômetros de Sítio do Conde. A estrada de terra batida seguia, entre coqueiros esparsos, beirando o mar, até o povoado. A praia de Siribinha era também de mar aberto e o tempo ventoso não permitia banhos de mar. Parou diante da igrejinha, desceu do carro e como era seu costume, posou para tirar uma “selfie”, registrando sua visita. De repente, ouviu uma voz:

- Oi, oi você, traz sua mulher aqui! Tem doce de coco com banana e doce de coco com goiaba...

Era Dona Antônia, que gritava da varanda de sua casa, insistente, chamando atenção para oferecer os doces que ela própria fazia. Por experiência, queria oferecer a uma provável esposa que, supostamente, achou que o acompanhava na viagem. Ele caminhou até ela sem pressa – porque ele não tinha pressa - para lhe dizer que viajava sozinho. Enquanto ele ia até a casa, quase em frente à igrejinha, do outro lado da rua, Seu Valter, seu marido, levantava-se do banco em que estava deitado, como convém a um baiano, também na varanda, para ajudar a fazer sala. Dona Antônia continuou a falar e a falar, meio inconformada com o isolamento daquele viajante, enquanto ia buscar o doce para ele provar. “Onde já se viu, viajar sozinho!” – deve ter imaginado, por suposto. Seu Valter começou a falar num dialeto siribinhense que ele pouco entendeu. Enquanto ele se esforçava parara decifrar Seu Valter, Dona Antônia voltava carregando o doce e já decidida a vender alguma coisa àquele turista inesperado e improvável de uma quinta-feira de inverno.

- Encosta o carro aqui em frente, vai. Vai, o Buja, meu filho, vai te levar de barco para passear. Ele foi levar uns estudantes do outro lado do rio mas já volta. Encosta aí, vai...

Dona Antônia foi falando e apontando de um modo que não lhe deixava alternativa. Então ele obedeceu, mas não a contragosto, porque ele estava para o que desse e viesse. Afinal, ele queria conhecer o cartão postal daquela região. Encostou o carro em frente à casa de Dona Antônia e Seu Valter e foi seguindo ela e as ordens dela até o píer, onde ela queria que ele esperasse Buja. Enfim, o que ela vendia para ele era o passeio no barco de Buja, seu filho, pelos pontos turísticos de Siribinha, no rio Itapicuru.

O píer era uma estrutura de madeira, parecendo uma ponte, de uns 30 metros de comprimento, que ligava as dunas de Siribinha até as margens do rio Itapicuru. Enquanto esperavam, Dona Antônia falava e gesticulava sem parar:

- É Adailton, é Adailton...

Adailton era seu outro filho, pescador, ela explicou, sem parar de falar um minuto. Ele vinha pelo píer. Estava saindo para o mar para recolher os peixes da sua rede e de seu espinel. D. Antônia continuou a falar e a gesticular e a negociar para que Adailton o levasse, quem sabe, ao passeio pelo rio. Mas uma incerteza pairou no ar enquanto D. Antônia advertia Adailton se seria prudente levar aquele turista desavisado ao mar...

 

                                               Continua na próxima edição do jornal...

           

 

 

 

 

 

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