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O velho e o mar (Parte II – a saga continua)

17 de Outubro de 2014, por Rafael Chaves

Em poucos minutos, numa das negociações mais rápidas de que se tem notícia em Siribinha, quiçá na Bahia, ele, o turista desavisado, viu-se dentro do barco de Adailton, o pescador, indo para não sabia direito nem onde nem fazer o quê. O barco era de alumínio e tinha uns 13, não mais que 15 pés de comprimento. O motor, entretanto, era potente e os levou em pouco tempo a outro lado do rio, onde Adailton atracou o barco.

A primeira parada foi em Cajurinho, um povoado de poucas casas em meio a dunas, na margem oposta de Siribinha, no rio Itapicuru. A atração do lugar era um poço de água doce escondido no meio das dunas, e provavelmente cajueiros, uns dois quilômetros longe da margem. Ele seguiu Adailton com dificuldade pelos corredores de dunas fofas até o poço. Adailton apontou o poço com o desdém de quem está acostumado àquelas maravilhas. Em poucos minutos retornaram ao barco.

De Cajurinho seguiram pelo rio até quase a sua foz, no mar. Adailton parou o barco à beira da praia, às margens do rio. Ali começou um ritual enquanto ele se banhava no rio para aplacar o calor e lavar a alma. Ele saía do rio enquanto Adailton pegava sua mochila e a colocava em um saco plástico – “para não molhar”, disse –, tomou um salva-vidas de um compartimento do barco e mandou que ele o vestisse.

- Se você quiser tirar alguma foto, a gente tira suas coisas do saco lá no mar – disse Adailton. 

Quando ele se viu de salva-vidas e sem sua máquina fotográfica é que sentiu que as coisas poderiam ser mais sérias do que lhe pareceu à primeira vista. E lembrou-se das apreensões e recomendações de D. Antônia a Adailton.

- Melhor você deixar ele em Cajurinho enquanto vai ao mar, meu filho – teria dito D. Antônia, no dialeto Siribinhês.

Era tarde. Eles entraram no barco e Adailton avançou em direção às arrebentações das ondas. O barco subia pelas ondas, escapando das arrebentações, e voava até bater de novo na superfície do mar, como se o barco desse bofetadas no mar: “sossega aí, mar danado!”. Assim que o barco ultrapassou as arrebentações, mas não as ondas, que continuavam enormes, Adailton passou o controle do barco a ele. Então ele se viu ali, marinheiro de primeira viagem, comandante de embarcação.

Adailton empunhou uma corda na proa do barco e em pé apontava a direção em que ele deveria seguir. Adailton procurava pelas bandeiras das boias onde deixara a sua rede, em alto mar:

- Olha, num para de repente não, senão eu caio! Nós vamos lá para onde a água está mais clara, tá vendo? – alertou Adailton da possibilidade de ele se ver sozinho no mar se fizesse alguma besteira no leme do barco.

O medo tomou conta de seus sentimentos, um frio na barriga subiu-lhe até as entranhas, e ele quis acovardar-se e pedir para voltar. Mas voltar para onde se já não avistavam mais terra firme. “Ai, meu Deus, onde fui me meter”, pensou ele.

 

Adailton apontava, ora para um lado, ora para o outro, para uma direção e para uma bandeira “está vendo lá, está vendo lá?” que ele nunca via e que nunca chegava. Mas como tudo tem um fim, alcançaram, depois de mais de hora mar adentro, as boias e a rede de pesca...

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