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Office-boy, Office-mother, Office-old-aged

13 de Agosto de 2015, por Rafael Chaves

Outro dia fui ao banco. Dia de pagamento de funcionário público. Entre as coisas mais desgastantes que uma pessoa pode fazer é ir ao banco em dia de “rush”. Só vá mesmo se for indispensável, aconselho. E eu estava obrigado a ir ao banco nesse dia.

Peguei uma senha de atendimento negocial, usando prerrogativas do meu “black card”. Senha S006. Mas, muito infelizmente, tive que enfrentar a fila do caixa. A minha questão tinha que ser resolvida no caixa, enfrentando a fila dos pobres mortais, dos sem “card”. Senha R168. Imaginem sair de sexto na fila para o centésimo sexagésimo oitavo? Sentei no saguão de espera. Atualmente espera-se sentado no banco do banco. Por força de expressão e também literalmente. A TV soou um sinal de aviso: R123. Quarenta e cinco na minha frente!

O atendimento, a princípio, me pareceu até rápido. Logo chamaram o R124, R 125, R126. A alegria durou pouco. Começou uma sequência de P68, P69. “Que P é esse?”, pensei. Não demorou eu me dar conta de que o P era de prioritário. Atendimento Prioritário.

Daí que comecei a reparar nas pessoas em volta. O banco mais parecia uma assembleia da terceira idade! Vários estavam acompanhados de pessoas mais novas, todos com senha P. Pensei: “vovô, hoje é dia de a gente ir passear no banco! Vamos lá, vovô?” E lá ia o velhinho ou a velhinha, capengando, coitados, fazer fila para marmanjo.

Ou parquinho infantil. Nunca vi tanta criança passeando em banco. As mães inventaram essa diversão para as crianças! Pensei: “filhinho, vamos passear, hoje mamãe vai te levar num lugar muito legal!”. Algumas mães pareciam mais avós. Seriam avós levando netinhos para se divertirem no banco? Dava dó mesmo é de ver os recém-nascidos. Tadinhos, todos!

Lembrei do meu tempo de “office-boy”. Os tempos mudaram. As “office-mother” e os “office-old-aged” tomaram conta do negócio que, um dia, serviu para introduzir os jovens, os aspirantes ao mercado de trabalho.

Antes de deixar o banco, duas horas depois, tive a oportunidade de reencontrar um antigo colega de banco. Eu o questionei sobre os disparates que presenciei. Ele então me contou que identificaram um velhinho que oferecia seus serviços na porta do banco e tentaram impedi-lo de fazer esse serviço. O velhinho foi ao PROCON. No outro dia o banco estava sendo interpelado. O banco nada podia fazer, não tinha o direito de impedir ninguém de exercer seu “direito” de atendimento preferencial, de furar fila.

Atender prioritariamente idosos, gestantes, mães com crianças ao colo e deficientes que realmente necessitem dessa prerrogativa acontece em qualquer país civilizado, naturalmente.  Não há necessidade nem de lei. Mas aqui, um país que se pretende mais civilizado que os outros, está nas leis: na escrita e na de Gerson.

 

Assim como há velhinhos saudáveis e sem ter o que fazer oferecendo seus serviços preferenciais, imagino que não vai demorar e haverá mães alugando seus pimpolhos para uma senha P na porta do banco. Pelo menos até o dia em que, inesperadamente, descobrirem que há mais P que R na fila. Também não demora a acontecer!

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