De olho na cidade

A Semana Santa depois da pandemia

26 de Abril de 2023, por Edésio Lara 0

Ao longo dos vinte anos de circulação do Jornal das Lajes, celebrados neste ano, a Semana Santa sempre foi abordada por vários colunistas deste jornal. A religiosidade do povo, as belas cerimônias realizadas durante a Quaresma e a Páscoa sempre foram bem cuidadas pelo povo. É um dos momentos mais aguardados pelos religiosos a cada ano, sejam eles da cidade ou de outros lugares, que para cá vêm acompanhá-la.

Trazida pelos religiosos portugueses no século XVII, a celebração da Paixão e Morte de Jesus Cristo se espalhou pela Colônia, sendo representada em todas as vilas desde meados daquele século. Ao longo do tempo, a festa cresceu em todos os aspectos, com participação de figurantes, andores, participação ativa de associações, irmandades, orquestras, bandas de música e corais. A construção de igrejas, dos passinhos, colocação de sinos e inclusão das imagens de Nossa Senhora das Dores, de Jesus Cristo e, também a do Senhor morto, foram dando forma às cerimônias que ainda hoje apreciamos na cidade.

A Semana Santa, pela importância que tem para os cristãos, tornou-se fato social e cultural de extrema importância. O envolvimento da comunidade sempre foi intenso, com pessoas de todas as camadas da sociedade participando ativamente da preparação e da realização de cerimônias desse grandioso espetáculo litúrgico.

Quando a pandemia do coronavírus fez com que suspendêssemos todas as atividades cívicas, escolares, religiosas, entre outras, ficamos em dúvida sobre como seria nossa vida pós-pandemia. Será que tudo voltaria ao normal, como era antes? Durante dois anos, realizamos a Semana Santa, com missas, vias-sacras e outras cerimônias, porém fechadas aos fiéis. Por outro lado, transmitidas ao vivo para todos pela internet, principalmente.

Pois, desde ano passado, com quase tudo voltando ao normal, apesar de certas restrições, eventos como a Semana Santa deram mostra de que voltariam a acontecer dentro e fora das igrejas, sem grandes perdas. Pelo contrário, durante a pandemia, buscamos aprender como utilizar recursos disponíveis na internet para melhorar nossas comunicações, aproximar ainda mais os religiosos em torno dos eventos programados pela Igreja ao longo do ano.

O que notamos durante esse período foi um investimento maior na utilização de mídias sociais. Publicar na internet o calendário e programa da Semana Santa, além do material impresso, tornou-se necessidade.

Ela nos permite assistir à missa, acompanhar o que acontece em nossa paróquia, ou em outra, sem que saiamos do conforto das nossas casas. A paróquia de Resende Costa, ao usar o Facebook e o Instagram em suas cerimônias e comunicações de interesse dos paroquianos, sem abandonar muito do que tem como tradição, deu passos à frente, modernizou-se.

Se nos debruçarmos sobre a programação das cerimônias, veremos que cada cidade possui algo que a distingue das demais, exceto no que diz respeito ao que acontece entre Quinta-Feira e Sábado Santo. O Tríduo Pascal é único, para ele não se admite qualquer alteração. Porém, algumas cerimônias não são realizadas em todos os lugares. O Ofício de Trevas, que dura duas horas e meia, como é realizado na Basílica de Nossa Senhora do Pilar, em São João del-Rei, é exemplo. Para ele, há a necessidade de orquestra e coro capazes de executar repertório criado especificamente para o momento e nem todas as cidades dispõem de grupos musicais em condições de assumir essa tarefa. É preciso notar que outras cerimônias que haviam sido extintas aos poucos vão sendo recuperadas. Entre elas, podemos incluir a Encomendação de Almas, que, desde 2013, voltou a ser realizada em Resende Costa, pelo Coral Mater Dei, em alguns dias específicos durante a Quaresma.  

Para as cerimônias paralitúrgicas, no entanto, não há rigor quanto a dias e horários para sua realização. São as procissões de Ramos, de Depósito, Rasouras e Vias-Sacras, que podem acontecer de acordo com o que pretendem seus organizadores. De certa forma, visando ao brilho maior da encenação do sofrimento, morte e ressurreição de Jesus Cristo, os católicos não se cansam de fazer da sua Semana Santa um ritual cada vez mais brilhante e participativo.

Considerações acerca do Carnaval: não deveríamos tentar realizá-lo no Parque do Campo?

29 de Marco de 2023, por Edésio Lara 0

No início da década de 1940, foi que, podemos dizer, nasceu o Carnaval resende-costense. A contragosto e com forte crítica da Igreja Católica e de setores da sociedade local, alguns jovens se atreveram a sair fantasiados, tocar alguns instrumentos musicais, cantar e dançar. Mais tarde, bailes carnavalescos começaram a ser realizados no Teatro Municipal com músicas interpretadas por instrumentistas da banda de música local.  Além disso, havia os blocos carnavalescos que desfilavam pela Rua Gonçalves Pinto (que chamamos de avenida), o que dava um brilho especial à festa.

No século passado, sambas e marchas carnavalescas eram aguardados por todos e com certa antecedência. Era preciso ouvi-los através do rádio, decorá-los para serem cantados pelos foliões. Eram canções com letras e melodias simples, que facilmente ficavam gravadas na memória do povo. Isso funcionou tão bem que até hoje, depois de décadas, essas músicas ainda fazem parte do nosso repertório. E a primeira canção carnavalesca a fazer sucesso foi composta por uma mulher, Chiquinha Gonzaga, na cidade do Rio de Janeiro/RJ. Numa época em que a participação de mulheres se apresentando como compositoras e instrumentistas era quase nula, ela, em 1899, compôs “Ô Abre Alas”, obra que conhecemos e ainda cantamos no Carnaval.

Para refletir um pouco acerca do nosso Carnaval, comecemos pelo baile carnavalesco, que é bom dizer, não era para todos. O espaço pequeno não comportava todos que lá queriam entrar. Por sorte dos organizadores, muitos jovens, até meados da década de 1970, eram barrados na porta do Teatro Municipal por serem menores de idade. E havia aqueles que, por imposição dos pais, só podiam ficar na rua até as 22h.

É fácil perceber mudanças ocorridas desde aquela época na maneira de realizar o Carnaval em Resende Costa. A cidade cresceu, os dois blocos carnavalescos que desfilavam na avenida desapareceram. Os bailes no Teatro deixaram de ser realizados quando a festa passou a ser toda ela feita na rua. Aos poucos, foram surgindo os blocos destinados a promover uma festa com muitos dias de antecedência das datas oficiais do Carnaval. E foi um sucesso. Esses blocos, que surgiram quase que espontaneamente, mantiveram-se firmes até antes da pandemia. Verificou-se também, nesse período, certo esvaziamento da cidade durante os dias oficiais da folia, quando muitos optavam por aproveitar a festa em cidades vizinhas. Notou-se, então, que algo precisava ser feito a fim de tornar nosso Carnaval melhor, mais atrativo... Enfim, fazer com que foliões se sentissem motivados a permanecer na cidade entre o sábado e a terça-feira.

Algumas ações foram colocadas em prática, como a entrada em cena do disk jockey (DJ), colocação de arquibancadas e tendas para maior conforto dos foliões, banheiros químicos e até contratação de seguranças particulares. Ambientes distintos foram criados para atender os que apreciam funk e pagode, por exemplo, e outro somente com sambas e marchinhas. Porém, uma coisa é certa: não dá para promover um momento de Carnaval para as crianças, oferecendo-lhes um repertório que nada tem a ver com elas. O descaso para com as meninas e meninos é imenso e vem de longa data. Certo dia, sem músicos para tocar e cantar para elas, o prefeito municipal precisou, às pressas, providenciar uma caixa de som para, com celular, colocar música para as crianças. Além do mais, crianças devem ouvir músicas escritas especialmente para elas, jamais funk, pagode ou outros gêneros que lhes são até inadequados.

Por fim, é preciso oferecer aos foliões os banheiros químicos desde o primeiro dia de festa, que ocorre já a partir de uns dez dias antes do sábado de Carnaval. Caso contrário, nossas ruas e becos continuarão a ser mictórios a céu aberto, da forma como aconteceu recentemente. Além disso, o desmonte de arquibancadas, barracas e toldos precisa ser mais rápido, terminada a festa, a fim de desobstruir a área central da cidade.

Penso que passou da hora de tentarmos promover o Carnaval no Parque do Campo, que tem estrutura muito mais adequada para a realização de festas para grande público como essa.

Finalmente, não é só com investimento maior feito pela Prefeitura Municipal que se tem garantia de melhoria da festa. Da mesma forma que não é deixando por conta de empresários que se tem certeza da contração de boas bandas para abrilhantar a folia. E a realização de eventos em bairros, da forma como ocorreu em 2019, deveria ter sido mantida.

A situação precária de muitas estradas de Minas Gerais

01 de Marco de 2023, por Edésio Lara 0

Buraco na pista coloca em risco motoristas que trafegam em dias de chuva (foto Edésio Lara)

A malha rodoviária de Minas Gerais é a maior do Brasil. Ela possui 272.062.090 km. Os dados são do próprio governo do estado. 16% de toda a malha rodoviária do Brasil encontram-se em MG. É muito “chão”, pode-se dizer. Sendo o estado de Minas Gerais territorialmente muito grande, a malha rodoviária que o corta não poderia ser diferente: ela é imensa. Ultimamente, críticas feitas à má qualidade das rodovias que cortam o nosso estado aumentaram e a culpa passou a ser do período chuvoso. Isso não está incorreto, porém a condição precária de muitas estradas vem de antes.

Ano após ano, o que mais ouvimos durante o verão são notícias de muitos acidentes, de tragédias ocorridas devido aos temporais. Deslizamentos, desabamentos, enchentes, trombas d’água e mortes resultantes desses fenômenos acometidos pelo excesso de águas de chuva tornaram-se comuns. Acompanha esses acontecimentos a preocupação de cientistas que se manifestam contrariamente aos desmatamentos, agressões violentas a bens naturais, tais como ocorrem com desmatamentos e queimadas de florestas, que têm ocorrido no Brasil e, também, em outros países. A destruição de florestas, como ocorre com a Mata Atlântica em nosso país, implica, sobremaneira, no aquecimento global. E o resultado disso, sabemos todos, são os desequilíbrios que notamos ao longo das quatro estações climáticas anuais: calor ou frio intensos, secas, chuvas abundantes, ou mesmo a falta delas.

Neste momento, com chuvas fortes desde os últimos meses de 2022, os estragos causados por elas são enormes. O excesso de água causa transtorno e prejuízos para agricultores, danifica estradas, derruba pontes, destrói casas. Em Resende Costa, por sorte nossa, devido à sua localização e condição topográfica, não temos problemas com enchentes, muito menos com desabamentos de edifícios ou deslizamentos de encostas, por exemplo. Por outro lado, notamos que estradas de terra que ligam a sede do município aos seus povoados tornam-se piores e perigosas. Trafegar por elas requer até dos motoristas mais experientes cuidados especiais, atenção redobrada.

Outras dificuldades, percebemos na única estrada asfaltada que nos liga à MG 383, que liga São João del-Rei à BR 040. Quando construída, no início da década de 1980, a rodovia ficou muito boa. Ao contrário, os serviços de manutenção da via, desde antão, nunca foram muito bons. Prova disso são os constantes buracos que surgem na estrada em qualquer época do ano. Os motoristas que circulam com frequência por ela já sabem quais são os mais perigosos e até onde ficam.

Durante o dia, desviar dos buracos é possível, mas à noite não. Somam-se a essa quantidade enorme de buracos os prejuízos com rodas empenadas, amortecedores danificados e pneus estourados. Vira e mexe o Departamento Estadual de Rodagem (DER) faz aquele tapa-buracos, cujos resultados são pouco eficazes. São remendos que, feitos sobre casca fininha de asfalto, duram pouco. Eles se assemelham àqueles remendos que fazemos em peças de roupa já velhas, esgarçadas. Quando você costura de um lado, defeitos aparecem noutras partes delas. É melhor descartar a peça e comprar outra. Tomemos como exemplo o asfaltamento da Av. Alfredo Penido. Depois das obras malfeitas por empreiteira contratada pela Copasa, a solução foi mandar recapear a avenida inteira.  

O descaso com a manutenção das estradas estaduais é enorme. Há lugares em que motoristas de ônibus e caminhões precisam parar os veículos que dirigem antes de atravessar as enormes crateras que encontram pela frente, a fim de evitar estragos nos veículos e acidentes. Quam sai de Resende Costa em direção ao estado de São Paulo ou do Rio de Janeiro sabe bem disso. É lamentável, é de dar vergonha o péssimo estado de conservação das rodovias.

A impaciência de motoristas é grande. Sabendo que restaurações são poucas e demoradas, apelam por realizar serviços voluntários, ao que parece. Na entrada de Resende Costa, buracos têm recebido pedras, formando “pequenos calçamentos” dentro deles. É um quebra-galho para nós e para quem nos visita, apesar de não ser a solução. O governo estadual, que arrecada muito com IPVA e outros tributos, precisa cuidar bem das nossas estradas.  

Breve relato sobre o Padre João Monteiro

26 de Janeiro de 2023, por Edésio Lara 0

O livro “Memórias do antigo Arraial de Nossa Senhora da Penha da Lage: desde os proêmios de sua existência até os dias presentes”, escrito por José Maria da Conceição Chaves (1904/1978) – o Juca Chaves – e publicado pela Associação de Amigos da Cultura de Resende Costa (Amirco) em 2004, é um primor. Rico em detalhes e cheio de informações importantes sobre pessoas e bens materiais do município, tornou-se obra de referência para todos que têm interesse em assuntos relacionados à nossa cidade.

Juca Chaves nasceu aqui na Vila do Arraial da Lage, morou nos “Quatro Cantos” (entroncamento da rua Assis Resende com as avenidas Monsenhor Nelson e Prefeito Ocacyr Alves de Andrade) e permaneceu em Resende Costa até completar 40 anos de idade. Em 1944, foi morar no distrito de Jacarandira e, posteriormente, em Passa Tempo, por lá permanecendo até 1960. Apesar de ter se afastado de Resende Costa por motivos de trabalho, não abandonou a atividade de pesquisador, iniciada na juventude. Durante esse período de sua vida, manteve contato com o professor Antônio de Lara Resende, grande memorialista, e pesquisou muito, tanto no Arquivo Público Mineiro quanto no Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, ambos localizados em Belo Horizonte, sempre em busca de depoimentos e documentos fundamentais para seu trabalho. Quando foi morar em Itatiaiuçu e depois em Arcos, ambas cidades mineiras, seu trabalho já estava pronto, só não havia sido publicado. Juca Chaves, bem que tentou, mas não conseguiu apoio necessário da Prefeitura Municipal de Resende Costa para poder publicar sua obra.

Em 2004, quando criamos a Amirco, Agenor Gomes Neto, advogado e professor resende-costense, sabendo dos propósitos da nossa associação, nos disse acerca “dos manuscritos” deixados pelo pesquisador e que se encontravam sob guarda da família desde seu falecimento, ocorrido em 1978. Os contatos se iniciaram e, em 2014, com verbas do Fundo de Educação e Cultura (FEC) do Governo do Estado de Minas Gerais, o livro foi publicado. Faz parte da Coleção Lageana, criada pela Amirco, e que contém outras obras de autores da cidade, cujos títulos podem ser conhecidos através do site da associação: amirco.org.br.

Certamente, seu distanciamento de Resende Costa, pelos motivos apontados acima, pode ter contribuído para que ele não fosse mais adiante com sua pesquisa. Cito como exemplo os sacerdotes que elencou em seu trabalho e, para os quais, dispensou comentários relativos principalmente à data e local de ordenação, bem como da primeira missa celebrada em Resende Costa.

Recentemente, de posse de partitura de um Te Deum, composto em São Tiago/MG em 1883 por Firmino Bispo de Paula, vi anotado pelo maestro Joaquim Pinto Lara, em uma parte musical, o seguinte: “Resende Costa, 8 de dezembro 1949. Missa nova do Revmo. Pe. João Monteiro de Resende.” A pesquisa, que no momento se destina a analisar manuscritos musicais, nos fez procurar no livro de Juca Chaves informações sobre o padre. Foi quando, na página 96, deparamos com o nome do sacerdote, acrescido somente da ordem à qual pertencia: lazarista. Nada mais, além disso.

A curiosidade me fez procurar pessoas da família Monteiro. E quem tinha as informações sobre o sacerdote foi Leila Monteiro, sua sobrinha. Segundo ela, João Monteiro de Oliveira Resende, um dos 10 filhos do casal resende-costense José Monteiro de Resende e Francisca de Oliveira Resende, nasceu na Fazenda Capão Seco, localizada em Lagoa Dourada, no dia 24 de julho de 1922. Ainda jovem, ingressou no conceituadíssimo Seminário Menor do Caraça, em Minas Gerais, e concluiu os estudos em Filosofia e Teologia em Petrópolis/RJ. Ordenou-se em Petrópolis e “cantou a primeira missa” na Matriz, em Resende Costa, antes de ser encaminhado para exercer sua função de missionário em Blumenau/SC.

Ele deixou o sacerdócio entre os anos 50 e 60 “não por falta de vocação, mas por não ter resistido à conduta rígida imposta por um superior”, segundo disse a familiares. Nem por isso deixou de contribuir com a Igreja Católica, oferecendo cursos de batismo, crisma e para casais, sem jamais deixar de frequentar a Santa Missa. Posteriormente, dedicou-se à docência, lecionando História na capital paulista e na Escola Homero Rubens de Sá, em Guaratinguetá/SP, até se aposentar. O ex-padre contraiu matrimônio por duas vezes e não teve filhos. Aposentado, passou a morar em Pomerode/SC, onde permaneceu até falecer e ser sepultado no dia15 de fevereiro de 2011.

 

Dedicatória: À Mariana, lembrança do Pe. João Monteiro, missionário. Resende Costa, 23-1-1950

Banda de Música Santa Cecília e aspectos da formação musical em Resende Costa

21 de Dezembro de 2022, por Edésio Lara 0

A Banda de Música Santa Cecília, de Resende Costa, é mais que centenária, uma vez que nasceu em meados do século XIX. É um grupo musical muito importante para nós. Sua função principal se volta para a participação ativa em eventos cívicos, populares e religiosos da cidade. Qualquer que seja a festa municipal, lá está ela tocando seus dobrados, suas marchas. Quando nos voltamos para as festas religiosas, todas realizadas pela Igreja Católica ao longo do ano, também ela se faz presente. Durante o Carnaval, parte dos seus integrantes, voluntariamente, participam tocando repertório específico atrás dos blocos que se formam para essa festa. Portanto, não é possível imaginar a cidade sem esse conjunto musical, ele é fundamental.

Durante todo o tempo de sua existência, foram muitos os que se destacaram como instrumentistas, regentes e compositores. Alguns permaneceram na cidade trabalhando e participando da banda de música. Evidentemente, outros precisaram se mudar para buscar emprego em outros lugares. Estou entre esses, quando precisei me mudar para São João del-Rei e, posteriormente, aos 18 anos de idade, para Belo Horizonte. Aprendi a tocar requinta, uma clarineta pequena, e recebi aulas de música do professor e regente Geraldo Sebastião Chaves. É certo dizer que, distante de Resende Costa, houve os que não abandonaram a prática de tocar seus instrumentos musicais, iniciada na banda de música.

Na capital mineira, optei por dar continuidade aos estudos. Estudei na Schola Cantorum, da Fundação Clóvis Salgado (Palácio das Artes), para, em seguida, me graduar em regência na Escola de Música da UFMG. Cito o que ocorreu comigo a título de exemplo.

Os espaços destinados aos ensaios de bandas de música no Brasil, desde que esse tipo de formação de grupo musical foi se consolidando a partir da primeira década do século XIX, passaram a funcionar como centros de formação musical. Sem escolas de música, como são os conservatórios municipais ou estaduais, era na banda de música que muitos obtinham aulas de teoria, de solfejo e ritmo, mais a prática de um dos instrumentos que compõem uma banda de música. Se esse conjunto musical não tinha sede própria, era nas residências dos regentes ou mesmo de outros músicos mais experientes que os interessados se iniciavam no estudo da música. Percebemos a importância que têm esses grupos, já que é quase impossível uma cidade deste país não possuir uma banda de música. Somente em Minas Gerais, com seus 853 municípios, há mais de 1000 bandas.

Uma das frentes de trabalho escolhidas por ex-integrantes da nossa Banda de Música Santa Cecília foi a militar. Alguns, como o José Gilmar Silva (Gilmar do Aderson) e o Antenor Noé de Souza, por nós conhecido pelo apelido Tilú, ambos saxofonistas, tornaram-se profissionais da Banda de Música do 11º Batalhão de Infantaria sediado em São João del-Rei. Assim que começaram a prestar serviço militar, apresentaram-se na condição de músicos e seguiram carreira até completarem seus tempos de serviço, dando baixa, isto é, se aposentando. Gilmar, 2º Sargento Músico, nunca se transferiu de São João del-Rei. Tilú, 1º Tenente Músico Antenor Noé de Souza, foi regente da Banda de Música do 11º BI Mth no período de 2010 a 2014, quando se aposentou.

Incorporou-se nas fileiras do Exército Brasileiro no ano de 1977 como soldado no então 11º RI (Regimento de Infantaria), hoje 11º BI Mth
(Batalhão de Infantaria de Montanha), em São João del- Rei. Naquela época, aconselhou-se com o conterrâneo Gilmar a fim de se alistar e atuar como músico no batalhão. Na função, serviu nas cidades de Uberlândia e Três Corações (MG), Caçapava e Campinas (SP), Foz do Iguaçu (PR), São Gabriel da Cachoeira (AM) e encerrou sua carreira militar na cidade de São João del- Rei (MG), após 37 anos de serviços prestados à Pátria como Regente da Banda de Música do 11º BI Mth, no posto de 1º Tenente.

Aposentado, Tilú não deixou de atuar como instrumentista. Por vezes, era visto tocando em festas, bares e restaurantes até se juntar à banda do Chá Preto, grupo formado por violonistas, percussionista e cantores que se dedicam à interpretação de música popular. Ele faleceu e foi sepultado no último dia 19 de novembro, momento em que instrumentistas da nossa Banda de Música Santa Cecília e da Banda do 11º BL Mth se juntaram para, ao som de Amigos para Sempre, duas marchas fúnebres e outra própria dos militares, dele se despedirem, prestando-lhe justa homenagem.