A Congada na festa do Rosário em Resende Costa
23 de Novembro de 2022, por Edésio Lara 0

A festa do Rosário é tradição em nossa cidade. É possível que ela venha sendo realizada aqui desde o nascimento do Arraial da Laje, ocorrido em 1749. A origem dela, no Brasil, remonta a séculos passados, mais precisamente por volta de meados do século XVII, quando o tráfico negreiro começou a se tornar mais intenso na Colônia. Caracterizada por danças e músicas, grupos se apresentam cantando e tocando seus instrumentos de percussão e até violões ou acordeons. Entre eles, desfila um casal que faz referência histórica à coroação de reis e rainhas do país africano do Congo ou de Moçambique. Além de Nossa Senhora do Rosário, há homenagens à Santa Ifigênia e São Benedito, ambos negros.
Ano após ano, vimos inúmeros grupos de cidades vizinhas que se juntam aos nossos para a festa. Antes mesmo – na hora do almoço oferecido a todos na Escola Municipal Conjurados Resende Costa – haviam chegado à cidade 22 deles. Um, da cidade de Congonhas, participa ininterruptamente da festa há 42 anos. E assim fazem outros que se sentem felizes em nos brindar com suas apresentações, louvar Nossa Senhora do Rosário, a padroeira dos congadeiros, que dá nome à festa, a qual se caracteriza pela presença marcante de negros, os principais responsáveis por ela.
Há o que ser destacado nesse evento: a participação de crianças nos grupos, o número expressivo de mulheres e o comando de um homem mais velho, na liderança dos congados. É aquele que se incumbe de cantar louvores à Nossa Senhora para ser respondido pelos demais componentes do grupo, que tem à frente uma pessoa – geralmente uma mulher – a quem cabe exibir uma bandeira ou estandarte com imagem de uma santa ou santo católicos. É comum ver pessoas se inclinando e beijando essas imagens nessa forte manifestação da identidade negra em nosso país.
A encenação das congadas é um grande espetáculo. Pela cidade, e mais precisamente na Praça do Rosário, grupos se emparelham e nos brindam com suas performances. A imensa superposição de sons, ritmos e cores nos encanta. Em certo momento, todos param para assistir à breve apresentação de cada congado diante de palco montado, quando recebem certificado de participação e agradecimento de nossa parte. É o momento ideal para todos serem fotografados, filmados e aplaudidos pela multidão.
Alguns fazem seu show à parte. Nesse momento, não podemos deixar de destacar o ótimo grupo Moçambique Nossa Senhora Aparecida, da cidade vizinha de Passa Tempo. Bem preparado e equipado, é um dos melhores que nos visitam todos os anos. Destacou-se, também, um garotinho que subiu ao palco para nos cativar ao tocar seu tambor e cantar. Ali estava assinalada como se dá a perpetuação desses conjuntos quando os mais velhos trazem para perto de si aqueles que um dia os substituirão na função de manter vivo esse forte componente cultural do nosso país.
Coube ao Congado São Camilo de Léllis abrir a festa dos congadeiros. Este congado foi criado há 12 anos, aproximadamente, por Renato Rodrigues dos Santos (42), cuidador de idosos, desde que começou a trabalhar na Casa de Repouso São Camilo de Léllis, de Resende Costa. Segundo Renato, os idosos amam a festa, visto que, ao longo de suas vidas, sempre a apreciaram e participaram dela. Apoiados pela Irmã Cirlene, responsável pelo Lar, eles contam com a ajuda de funcionários e voluntários que os acompanham até em viagens para outras cidades. Algumas das músicas que cantam são de autoria do próprio Renato, outras do Vino Marciano, congadeiro de prestígio da cidade. Quem se apresentou como rei foi o senhor Antônio, com 86 anos de idade, e dona Inácia, a rainha, que completou 101 anos de vida. Todos, esbanjando felicidade, são retratos vivos da força que tem essa festa.
Engana-se quem pensa que tal manifestação cultural, artística e religiosa está em decadência. Ao contrário, permanece muito forte. O povo gosta; pelo menos, é o que demonstram os que participam dela em Resende Costa, sejam eles turistas ou do lugar.
Os 100 anos de vida de dona Cecília
25 de Outubro de 2022, por Edésio Lara 0

Dona Cecília de Oliveira Ramos completará 100 anos de idade no próximo dia primeiro de novembro
Ela é uma senhora de estatura mediana, adora um lenço na cabeça e passa boa parte do tempo sentada no sofá da casa da filha Terezinha e de terço enrolado na mão direita. Católica, faz orações durante o dia todo. Com Roberto Ribeiro, (Roberto da Micaela), e muitas pessoas que vão visitá-la, bate uma boa prosa, relembrando acontecimentos e se inteirando de tudo o que fazem seus familiares, principalmente os netos, bisnetos e tataranetos. Lúcida, tem uma memória de dar inveja. Segundo o seu neto Jonas (o Teco), geralmente ela o adverte sobre algo que deve ou deixou de fazer. Assim é dona Cecília de Oliveira Ramos, que está pronta para festejar seus 100 anos de idade no próximo dia primeiro de novembro.
Dona Cecília é natural de Passa Tempo/MG. Desde pequena, juntamente com a única irmã que teve, foi criada pelos avós Antônio e Claudelina, depois que o pai se separou e a família e a mãe foram morar em Belo Horizonte. Desde o início, sua vida não foi fácil. O avô a colocou para trabalhar ainda pequena na roça, ajudando-o a semear e a colher tudo o que plantavam. Era obrigada a cuidar da casa, das galinhas e dos porcos que criavam. O avô, segundo ela, era um homem difícil, bravo; e a avó, ao contrário, mais dócil e delicada com as netas.
Sempre quis namorar, mas qualquer contato com um rapaz era sinal de problema: o avô sempre colocava empecilho, o que a deixava bastante chateada. Certo dia, conheceu um moço, chegado da Bahia para trabalhar em uma festa de rodeio em Belo Horizonte e que reunia fazendeiros de bastantes cidades mineiras. E de lá ele foi convidado para prestar serviços na fazenda do senhor Moacir, em Passa Tempo. Ele, nascido na divisa dos estados de Minas Gerias e Bahia, onde fica Guanhães, apaixonou-se por ela e nunca mais voltou à sua cidade natal, muito menos reviu seus familiares. Rapidamente, e às escondidas, se casaram na igreja Matriz de Nossa Senhora da Glória, de Passa Tempo, em junho de 1940. Ela, com dezoito anos; e ele, com vinte e cinco. O avô, ao tomar conhecimento do casamento, quis matá-los. “Ele saiu de revólver em punho nos procurando. Ele sempre quis que eu ficasse na roça trabalhando, que não namorasse, não me casasse com ninguém”.
Trabalhando duro na fazenda, logo foram transferidos para Resende Costa, vindo para a Fazenda do Pinhão, alugada que foi pelo senhor Moacir. Depois se transferiram para o Curralinho do Andrade, acompanhando o patrão, até se estabelecerem definitivamente no Ribeirão de Santo Antônio, onde possui uma casa que fica em frente à escola do povoado. “Eu e meu marido sempre trabalhamos muito. Ele era retireiro e eu cuidava da roça e das crianças, guiava carros de boi, fazia de tudo mesmo. Nossa vida era muito difícil, a gente ganhava (dinheiro) muito pouco. Fiquei viúva depois de trinta e cinco anos casada com ele”.
A vida de dona Cecília tornou-se mais difícil quando, aos setenta e dois de idade, sofreu um acidente no trabalho. “Estava na roça, meu chinelo ficou agarrado em um galho e eu caí. Quebrei minha perna, mas, mesmo assim, continuei trabalhando. Então comecei a mexer com artesanato”. Mãe de sete filhos (cinco já faleceram), certa vez um médico de Desterro de Entre Rios aconselhou-a a parar de fumar. “Eu fumava cigarro de palha para espantar os mosquitos, pernilongos. Desde que larguei o cigarro, passei a cheirar rapé e nunca mais parei”. Ao ser perguntada se além do cigarro, gostava de tomar vinho, por exemplo, respondeu firme e sorrindo: “Vinho, não. Tomava mesmo era pinga, todo dia. Uma antes do almoço e outra antes da janta”. E esse costume de tomar uma pinguinha para abrir o apetite ela o manteve até completar noventa de seis anos de idade.
Atualmente, dona Cecília fala sempre da casa que ainda possui no Ribeirão, lugar de que gosta muito. Sai pouco de casa. Porém, não recusa um convite de algum neto para matar porco na roça. Imediatamente pede seu avental e se prepara para cortar o toucinho, relembrando as inúmeras vezes em que se dedicou a esta e tantas outras atividades no Catimbau, na fazenda do Prestes, do Ademar Aarão, além de outras. Atualmente, quietinha em casa, não se cansa de dizer que está bem. “Estou com a cabeça muito boa. Posso morrer tranquila porque sempre fui honesta, não tenho inimizades e não devo um centavo a ninguém”.
Manoel Dias de Oliveira e sua música celebrados em concertos alusivos ao Bicentenário da Independência do Brasil (1822-2022)
21 de Setembro de 2022, por Edésio Lara 0
No final do último mês de agosto, foram realizados em Resende Costa, Tiradentes, Prados e São João del-Rei concertos destinados à celebração do Bicentenário da Independência do Brasil. Com verbas do governo federal e projeto encaminhado pelo Núcleo de Pesquisa Ciências da Performance do Curso de Música da Universidade de São Paulo (USP) – campus de Ribeirão Preto/SP –, instrumentistas e cantores apresentaram repertório variado de gêneros da música brasileira.
Quem assistiu aos espetáculos realizados em quatro igrejas das cidades citadas não apreciou somente repertório sacro; pôde ouvir também músicas populares, com destaque especial para dois lunduns, duas modinhas, três canções populares utilizadas por Heitor Villa-Lobos em obras corais de sua autoria, além de “Carinhoso”, de Pixinguinha, e um “Pensamento Sentimental”, obra composta em 1886 pelo Padre José Maria Xavier na cidade de Ouro Preto. Uma surpresa essa obra, visto que poucos sabem que o padre e compositor são-joanense é mais conhecido pela volumosa obra que nos deixou de música sacra, a qual estamos acostumados a apreciar durante cerimônias litúrgicas, especialmente na Semana Santa.
Além do repertório escolhido para o programa, o público presente recebeu do maestro Rubens Russomanno Ricciardi informações importantes sobre história da música brasileira, principalmente dos séculos XVIII e XIX. Além das modinhas pradenses, cujos autores ainda são desconhecidos, foram incluídos o Salve Regina e o Tercio, de José Joaquim Emerico Lobo de Mesquita (1746-1850), compositor natural da Vila do Príncipe, agora Serro/MG, além do Miserere, de Manoel Dias de Oliveira (1734/5-1813), este natural da vila de São José, atual cidade de Tiradentes. Essas três composições são muito apreciadas tanto no Brasil quanto no exterior. Em Resende Costa, o Miserere é peça fundamental para nós que a interpretamos ano após ano durante a Semana Santa. E seu compositor tem muito a ver conosco, com a nossa cidade.
Até 1911, todos sabemos disso, Resende Costa pertencia a Tiradentes. Até então, o Arraial da Lage mantinha relação estreita com a Vila de São José, recebia de sua sede sacerdotes para celebrações litúrgicas, certamente artistas para abrilhantar suas festas e militares. Em pleno século XVIII, por exemplo, aqui esteve o padre Toledo (Carlos Correia de Toledo e Melo), natural de Taubaté/SP, nascido em 1713 e com participação direta na Inconfidência Mineira. Fazendeiro, padre Toledo foi proprietário da casa – toda de pedra a vista – de número 12, localizada na Praça Cônego Cardoso, a poucos metros da Matriz de Nossa Senhora da Penha de França. Além dele, Manoel Dias de Oliveira, o organista, calígrafo e compositor, aqui prestou seus serviços como militar. Em 1771 foi promovido de alferes a Capitão da Ordenança de Pé dos Homens Pardos Libertos no Arraial da Lage, tendo permanecido com essa patente pelo resto de sua vida. Utilizou em suas composições textos em português do padre paulistano Ângelo de Siqueira (1708-1776), momento em que manteve contato com figuras de destaque da Conjuração Mineira, tais como: Padre Toledo, Alvarenga Peixoto e, certamente, os Resende Costa, pai e filho.
Filho de um organista e uma escrava, Manoel Dias se destacou como artista, tendo sido bem remunerado pelas composições que lhe eram encomendadas, principalmente pela Irmandade do Santíssimo Sacramento. Teria ele composto uma das suas obras aqui no Arraial da Lage? Ainda não sabemos, mas é possível que alguns dos seus trabalhos artísticos tenham sido realizados aqui.
Durante os concertos promovidos para celebrar os duzentos anos da Independência do Brasil, tivemos o prazer de interpretar o seu Miserere na igreja de São João Evangelista, em Tiradentes, ao lado da tumba nº 2, diante do altar, onde o músico foi sepultado e estão seus restos mortais. Foi emocionante.
Universidades federais em crise
17 de Agosto de 2022, por Edésio Lara 0
Próximo das eleições para presidência da República, governadores, senadores e deputados, tanto federais quanto estaduais, um tema bastante corriqueiro reaparecerá nos debates entre os candidatos de todos os partidos políticos brasileiros: educação. Todos se enchem de entusiasmo para, em seus discursos, colocar a educação como prioridade. Em grau de importância, a saúde pública é outro tema bastante discutido entre os que pedem votos nesta época. Muitos eleitores acreditam nesses discursos, outros nem tanto. É que estamos bastante acostumados a ver que o que é prometido nem sempre é cumprido.
Quem acompanha o noticiário ou dialoga com professores, técnicos ou estudantes universitários deve saber muito bem das dificuldades que as universidades federais têm enfrentado para se manterem funcionando bem. Há anos, o que mais se ouve é a notícia de que o governo federal fez cortes nas verbas destinadas às 69 universidades federais do país, que atendem um milhão e trezentos mil estudantes. Aos reitores, que insistentemente lutam para que os cursos oferecidos não sejam prejudicados, não cabe alternativa: são obrigados, a contragosto, reduzir custos com serviços fundamentais para o bom funcionamento das instituições que dirigem.
Os serviços de manutenção têm sido terceirizados, a oferta de bolsas destinadas a alunos envolvidos com extensão universitária e pesquisa vem sendo suspensa. Laboratórios, bibliotecas e até restaurantes universitários são prejudicados com verbas sendo diminuídas. O impacto também implica na redução lenta, porém gradual, do quadro de servidores e professores. Não tem sido fácil contratar novos profissionais para substituir os que se aposentam. Falta dinheiro para cumprir compromissos, como o de pagar contas de energia elétrica, de telefone e de fornecimento de água, por exemplo. Do jeito que está, ninguém se surpreenderá com cursos sendo extintos. Onde iremos parar?
Durante a pandemia do coronavírus, entre os anos de 2020 e 2021, essa crise passou um tanto despercebida. De portas fechadas e com todos trabalhando em casa, foi possível economizar um pouco. Mas, o problema ressurgiu com a retomada das aulas presenciais e com o anúncio feito no fim do último mês de maio pelo governo federal de que haveria mais um corte de R$ 3,2 bilhões da verba prevista para o MEC em 2022. Com o objetivo, segundo o governo federal, de atender ao teto de gastos, o bloqueio atinge em cheio institutos e universidades federais.
Essas ações respingam em todos nós que estamos próximos de institutos federais e da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). Quantos não são os alunos universitários de Resende Costa e de outras cidades vizinhas impactados com decisões desastrosas desse tipo?
O curioso, nisso tudo, é que não faltam recursos para o fundo eleitoral e para o misterioso orçamento secreto. Do fundo eleitoral sabemos, por meio do próprio Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que há polpuda verba de R$ 4,9 bilhões do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC), destinada aos partidos políticos para as Eleições Gerais de 2022.
E o malfadado orçamento secreto? Quanto de dinheiro público há nele para ser gasto pelos parlamentares? Ninguém sabe. E o fato de ser “secreto” nos leva a considerar que boa coisa não é. No entanto, podemos imaginar que deve ser robusto o bastante para encher os bolsos de políticos – muitos deles corruptos – que farão uso do nosso dinheiro para investir em obras, senão, bancar suas campanhas eleitorais.
Veremos, até o próximo dia 2 de outubro, e de forma descarada, a ação de parlamentares dizendo da importância da educação para o desenvolvimento do país. Não serão capazes de dizer que ações do governo federal visam exclusivamente ao enfraquecimento dessas escolas públicas, ao seu interesse em desprestigiar o ensino público e gratuito brasileiro. No entanto, essa política é vista com bons olhos pelos que defendem o ensino privado... e eles estão lá dentro mesmo do Congresso Nacional.
Shows caríssimos em discussão: o caso envolvendo Gusttavo Lima
21 de Julho de 2022, por Edésio Lara 0
Causou tititi enorme a notícia de que um show do cantor Gusttavo Lima, agendado para ser realizado na cidade de Conceição do Mato Dentro/MG, no último dia 20 de junho, havia sido cancelado. O motivo do cancelamento: a repercussão negativa ante o cachê milionário que o cantor receberia no valor de R$ 1.200.000,00. Isso mesmo: um milhão e duzentos mil reais. Tudo isso para uma apresentação que geralmente dura em torno de uma hora.
Fazendo uma conta fácil, um trabalhador brasileiro que recebe por mês R$ 1.212,00 (mil e duzentos e doze reais), que corresponde a um salário mínimo, precisaria trabalhar exatos 990 meses, ininterruptos 30 anos, para atingir o valor cobrado pelo cantor para apresentar seu show na cidade mineira. E esse grupo de trabalhadores não é pequeno, ele corresponde a 38,22% do total da força de trabalho brasileira. É muita gente, uma loucura.
Não entram aqui outras despesas relacionadas ao transporte, alimentação e hospedagem para grupo de 40 profissionais que acompanha o artista e que exige hotel mais luxuoso da região e comida “de primeira”.
A cidade de Conceição do Mato Dentro, considerada a capital mineira do ecoturismo, fica a 169 km da capital mineira, em local bastante procurado por turistas interessados nas belezas naturais da Serra do Cipó. Com 18.126 habitantes, conforme apurado pelo IBGE em 2017, cada morador iria pagar, de forma indireta, o valor correspondente a R$ 66,21 por ingresso. Por que tanto dinheiro para um show? Convenhamos, é muita grana. Por isso mesmo o Ministério Público entrou em cena, com o intuito de investigar este e tantos outros que também foram cancelados em cidades pequenas e pobres da região Nordeste brasileira. Afinal de contas, por que gastar tanto dinheiro que, se aplicado em ações artísticas e culturais, mais saúde, educação e segurança, traria resultados positivos para todos ao longo de um ano?
Não discutimos aqui quanto vale um show do Gusttavo Lima. Preço pelo trabalho que realiza, cada um põe o seu. Cabe-nos aceitar ou não. Também não colocamos para reflexão as qualidades artísticas do cantor e seu repertório. Afinal, gosto não se discute, cada um tem o seu. Ele, ante tantos shows cancelados, sente-se perseguido, injustiçado. Nas redes sociais manifestou interesse em ir embora do país, quando muitos responderam: pode ir.
O bafafá, que teve início ao longo do primeiro semestre desse ano, deixou empresários e artistas insatisfeitos. Afinal de contas, vozes começam a ser ouvidas vindas daqueles que se preocupam com o bem-estar da população. Muitos desses municípios pequenos não produzem riqueza. Eles dependem de verbas que chegam do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) para custeio de despesas fundamentais, como manutenção de serviços públicos de saúde e educação. Portanto, não é incorreto questionar gastos exorbitantes como é o do caso citado aqui. É preciso considerar ainda que as verbas que recebem as prefeituras municipais vêm carimbadas, forma de dizer que não podem ser desviadas a fim de outros serviços, como pagamento de cachês a artistas.
Nossos grupos artísticos vivem de pires na mão, lutam bravamente para poderem manter sua programação de aulas, ensaios e apresentações quase que sem recurso financeiro algum. Alguma verba chega e, principalmente, às vésperas de eleições para vereadores, prefeitos, deputados.
Esses 38,22% da população composta de trabalhadores que recebem mensalmente até um salário mínimo merecem do poder público a atenção de lhes proporcionar momentos de lazer. Além de saúde e educação gratuita, não devem ser deixadas à margem a promoção de festas, sendo que muitas delas são realizadas por grupos organizados dos próprios municípios.
A última edição da festa do artesanato (VIII Mostra de Artesanato e Cultura de Resende Costa) nos serve de exemplo. Foi possível realizá-la ouvindo boa música interpretada por bandas da região sem, com toda certeza, gastar uma fortuna para contratá-las. Já para a Festa do Parque do Campo, nós participamos pagando ingressos para poder assistir aos espetáculos, sabendo que a prefeitura municipal cobre parte dos gastos com a promoção do evento. Em se tratando de dinheiro público, não é incorreto buscar informações sobre todas essas transações.
Enquanto isso, neste momento, há 33 milhões de brasileiros desempregados, na miséria, passando fome.