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Dona Eunice: recordações de aluna e professora da Escola Estadual Assis Resende

18 de Dezembro de 2019, por Edésio Lara

Professora Eunice (centro) e suas alunas (Foto arquivo pessoal)

Ao longo deste ano, demos atenção especial às comemorações pelo centenário da Escola Estadual Assis Resende. Ouvimos alunos, muitos deles matriculados nos anos iniciais de funcionamento do educandário. Através dos seus depoimentos, foi-nos possível ter ideia de como funcionava a escola na primeira metade do século passado. Nesta edição, a última do ano, voltamos nossa atenção para a pessoa de Eunice de Sousa Gomes, que teve sua vida de estudante e de profissional ligada à escola.

Ela nasceu em 23 de junho de 1938 e, sete anos depois, iniciou seus estudos. Concluídos os primeiros quatro anos de escola, fez o “admissão”, curso oferecido em Resende Costa, na época, pelo professor Geraldo Sebastião Chaves e que durava um ano. Imediatamente após o curso, ela se transferiu para São João del-Rei para ficar, em regime de internato, no Colégio Nossa Senhora das Dores, onde cursou o ginásio e o magistério, durante sete anos. Em 1961, já com vinte e três nos de idade, ainda fez um curso de especialização em matemática com a professora Beatriz Alvarenga em São João del-Rei. Terminado esse curso, Eunice sentiu-se preparada iniciar a carreira de professora, o que aconteceu após de ter sido aprovada em concurso público e ser nomeada como efetiva na Escola Estadual Assis Resende, em 1963.

Dona Eunice, como é chamada por muitos, além de professora também foi diretora da escola. Noutro momento, atuou como supervisora da merenda escolar e, também, como inspetora pedagógica, o que a fez viajar por todos os povoados do município. Muitos a viam como diretora dessas escolas, o que era um erro. Suas idas às escolas rurais do município eram periódicas, portanto completamente diferente de quem exerce a função de diretor (a) e que exige presença diária da pessoa no local de trabalho. No Assis Resende ela permaneceu até se aposentar.

Da sua vida na escola como aluna, ela se lembra, com gosto, das trocas de merenda que fazia com os colegas de classe. José Peluzzi, seu pai adotivo, como bom cozinheiro que era, fazia questão de deixar sua lancheira cheia de doces, queijos, salgados e sucos que ela não dava conta de consumir. Por isso mesmo, não titubeava em doar ou fazer trocas de lanches com os colegas. Uma dessas trocas era bastante curiosa: o lanche era permutado por cipós. Isso mesmo, cipós que eram utilizados para a brincadeira que conhecemos de “pular corda”, um dos divertimentos mais apreciados pelas crianças na hora do recreio. Enquanto educadora, seu maior orgulho reside no fato de ter conseguido alfabetizar um aluno que havia chegado à escola com deficiência auditiva. “Eu o coloquei sentado na primeira fileira da sala e ele conseguiu estudar, aprender a ler e escrever. Era um menino muito pobre, cuja família não tinha condições de comprar pilhas para o aparelho de escuta que conseguira. Foi quando o Gilberto, casado com a Anália, minha irmã, começou a trazer as pilhas de Belo Horizonte. Ele doava as pilhas e o menino usava o aparelho somente em sala de aula, para economizá-las”, conta dona Eunice.

Por fim, outra boa lembrança que tem dos muitos anos de trabalho na Escola Estadual Assis Resende foi ter feito muitos amigos. As professoras, naquela época, atuavam com uma mesma classe durante o segundo, terceiro e quarto anos do grupo. Terminados esses três anos de trabalho com a mesma turma, o que se via era a amizade travada entre a professora e seus alunos. Eu, que sou filho de uma professora, sou testemunha disso. São muitos, mas muitos mesmo, os que me abordam para dizer: fui aluna(o) da sua mãe. Tenho muita saudade dela. Assim acontece com dona Eunice e tantas outras professoras que tivemos e das quais temos saudade, guardando respeito e admiração pelo resto de nossas vidas. A dedicatória anotada atrás da fotografia que escolhemos para ilustrar este texto é prova disso. Na pequena fotografia em preto e branco do Foto Scylla, vem escrito: “A D. Eunice uma recordação de suas alunas Aparecida e Maria Geralda. Saudades. 5/11/65.”

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