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Weber Lacerda e suas memórias de Resende Costa

16 de Fevereiro de 2022, por Edésio Lara

Pintura feita por dona Terezinha Lara

Weber Lacerda esteve em Resende Costa em 1948, a convite do Padre Nelson, para realizar um trabalho de pintura na Matriz de Nossa Senhora da Penha de França. Natural de Ubá/MG (nasceu em 15 de marco de 1913 e faleceu em Juiz de Fora, em 7 de agosto de 2007, aos 94 anos de idade), aqui veio desempenhar trabalho idêntico ao feito na igreja matriz de Carandaí em 1947. Weber foi músico – tocava banjo e cavaquinho –, jogador de futebol, funcionário público do Estado de Minas Gerais, atuando principalmente como coletor estadual. Como artista plástico, trabalhou em toda a região da Zona da Mata fazendo pinturas e reparos em igrejas e casas. Em 1973, aposentou-se depois de trabalhar na Superintendência Regional da Fazenda (Zona da Mata) em Juiz de Fora.

Cidadão honorário de Prados e Argirita pelos relevantes serviços prestados nas duas cidades mineiras, recebeu medalha de prata na Primeira Bienal de Belas Artes de Juiz de Fora em 1984. Foi membro da Academia de Letras de Juiz de Fora, da Academia de Poetas e Prosadores de Minas Gerais e Colaborador dos Jornais: Tribuna de Minas, Estado de Minas e Correio da Manhã. Autor de cinco livros. Em um deles, “Coisas do Interior de Minas”, volume II, de 1986, o cronista relata sua passagem pela cidade de Resende Costa em 1948. Ao descrevê-la, deixa claro que sua estada em nossa cidade, antes de seguir em 1949 para São João del-Rei, foi muito produtiva e prazerosa.

No livro, ele descreve nossa Resende Costa como sendo “povoação [...] edificada no dorso de uma montanha, cujo subsolo é uma extensa pedreira, que, em alguns pontos da conformação geográfica da área construída, brota na nudez do granito, conforme se vê na parte dos fundos do prédio da Prefeitura Municipal e no fundo de alguns prédios da rua que desemboca em frente ao prédio do Fórum”. Hospedado na pensão do senhor João Lara, Weber listou número enorme de pessoas com as quais traçou forte e duradoura amizade e que teve início com o José Aristeu, o sacristão da igreja.

Durante o ano em que aqui permaneceu, manteve uma “aula de pintura, atendendo pedido de algumas senhoras e senhoritas da cidade”. Fizeram parte do grupo as alunas D. Pequenita (esposa do farmacêutico Itamar), as professoras Ivone de Souza, Terezinha Lara e Paixão Hannas, além das senhoritas Hilda (filha do seu Bico) e Didinha, esta filha do Francisquinho Mendes. Terminado o curso, no qual não houve homens matriculados, o professor e as artistas organizaram uma exposição dos trabalhos realizada no salão nobre do Fórum, momento em que um coquetel foi oferecido aos visitantes.

Minha mãe, Terezinha Macedo Lara Melo, com a idade de 22 anos e participante do grupo, expôs suas pinturas. Uma delas eu mostrei nesta coluna do mês passado: retrata o sobrado construído ao lado do Assis Resende. Outra é a do quadro que destaco nesta página, com medidas de 22,5 e 24,5 centímetros e que representa o Fórum visto das Lajes da Cadeia, isto é, de trás da sua entrada principal.

Ao apreciarmos a pintura, notamos o quão diferente era o prédio e o seu entorno. Nele, José Peluzi (Zé Pelúcio, como o chamávamos), além de cuidar da edificação, criava muitos coelhos na parte livre do lote. Ainda nele, não foi possível pintar as enormes e fortes grades de ferro anexadas aos portais de pedra em cômodos do térreo. Eles davam frente para a atual praça Rosa Penido e funcionavam como cadeia pública do município.

Weber Lacerda deixou saudade. Levou consigo boas lembranças. Tanto é que aqui retornou em 1951 para rever os amigos que fez. A diversão principal que aqui existia, segundo ele, era o cinema. De propriedade do professor Geraldo Sebastião Chaves, “aos sábados e domingos, se não se realizasse algum casamento ou algum forró, a gente não perdia as sessões cinematográficas”.

Passados 74 anos, a cidade está completamente diferente. O cinema não existe mais. O prédio do Fórum não é o mesmo. Como não são as mesmas muitas residências ou outras edificações daquela época. Algumas construções foram reformadas, ampliadas, como é o caso do Fórum. Outras foram demolidas para dar lugar a novas construções. Se quisermos ter ideia de como era a nossa bela Resende Costa dos séculos XVIII, XIX e XX (até o fim da sua primeira metade), precisamos recorrer aos pouquíssimos imóveis daquela época que ainda nos restam, a fotografias, relatos de pessoas mais velhas ou obras de arte, como a estampada aqui.

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