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Alguma coisa vai mudar?

12 de Julho de 2020, por João Bosco Teixeira

Nesse tempo de pandemia, uma pergunta não nos abandona: quando tudo isso acabar, vai mudar alguma coisa em nossas vidas? Para muitos, tudo continuará como sempre. Para outros, não.

No meu campo específico de conhecimento, educação e escola, tenho absoluta convicção: é preciso mudar. Se vai, não sei. Mas que seria preciso, não tenho dúvida.

Faço algumas considerações relativas apenas ao aprendizado, nos níveis Fundamental II e Médio da rede pública.  O que fazer?

Em primeiro lugar: foco absoluto na leitura. Leitura como capacidade de interpretação, de crítica, de dedução, de indução, de criatividade, como competência para dizer com as próprias palavras o que se leu ou ouviu. Leitura é tudo isso. Longo aprendizado, indispensável num mundo bombardeado com tanta informação. Leitura para se saber ler a vida.

Em segundo lugar: foco nas quatro operações da matemática. Saber que as pessoas se servem de tal conhecimento o tempo todo na vida: sempre se está fazendo cálculo, organizando tempo e espaço, equacionando ofertas que se apresentam a cada instante, ponderando oportunidades.

Foco nessas duas áreas, sem brincadeira, sem concessões.

Em terceiro lugar: reduzir drasticamente os conteúdos das muitas disciplinas. É incrível o que se oferece e se espera dos alunos. O peso das mochilas já o diz suficientemente. São programas imensos que não deixam oportunidade alguma de serem levados a efeito, seja por parte do professor, seja por parte do aluno.

Em quarto lugar: trocar a metodologia do ensino. É hora de acabar com aulas para vinte, trinta alunos. Enganação. Dinheiro jogado fora. O percentual de alunos que aprendem em aula expositiva é baixíssimo. Dentre os poucos que aprendem estão aqueles que não precisariam do professor para aprender. Fazer o quê, então?

É preciso criar o máximo de oportunidade de encontro entre professores e alunos. Encontros individuais ou, quem sabe, em grupos de até três. Grupos maiores já viram brincadeira enganadora. Todos sabem disso.

Não é simples, mas é factível. Imagine-se um professor que dê quatro aulas por semana, de cinquenta minutos, para vinte e cinco alunos: ele terá duzentos minutos à sua disposição. Se atendesse seus alunos individualmente, teria oito minutos para cada um, por semana. Se atendesse dois de cada vez, seriam dezesseis minutos. Se três, vinte e quatro minutos. Não tenho a menor dúvida de que tal tempo seria muito melhor aproveitado que com todos os alunos na sala de aula durante os duzentos minutos. Como é evidente, a metodologia de ensino, o material instrucional, tudo teria que ser revisto.

Algumas dificuldades existem. A maior é vencer o pressuposto de que o professor ensina. Não ensina, o aluno é que aprende. O método, pois, tem que se radicar na atividade do aluno e não na do professor.

A escola precisa mudar, no aspecto do aprendizado. As coisas não são simples. Mas, se a escola e o professorado quisessem, seria possível encontrar caminhos mais gratificantes para o próprio trabalho.

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