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COVID-19

15 de Setembro de 2021, por João Bosco Teixeira

Tive Covid-19. Entrei para o grupo de centenas de milhares de pessoas que disseram a si mesmas: “Eu tive a doença do mundo.” Eu tive a doença com a qual tanta gente morreu, pela qual tanta gente passou. Deixei de contemplar a doença nos outros. Passei a vê-la a partir de mim. E posso dizer que ninguém viveu o que vivi, como não vivi o que antes de mim tantos viveram, tal a imprevisibilidade do que poderia ter acontecido.

Clinicamente, não passei de uma tosse muito forte que, depois de alguns dias, me deixou o corpo moído. Medicamentos, apenas depois de cinco dias, quando a elevação febril recomendou uma tomografia pulmonar. Conhecido o resultado, o antibiótico tornou-se necessário. Nada além dele, exceto os cuidados comuns com a hidratação, a saturação e respeito às exigências do próprio corpo.

O aspecto emocional, porém, levou-me para profundezas, antes desconhecidas. Fui longe. Abati-me. Expandiu-se em mim o tempo da ambiguidade: amar a vida e não temer a morte, levar a vida com coragem para aceitar a morte. Os parâmetros existenciais se manifestaram em novas cores. E tomei contato direto com a verdade de que o juízo do corpo tem o mesmo valor que o do espírito. E o corpo recua diante do aniquilamento. Aquilo de que nossa história está imersa na finitude ficou às claras. Finitude que explica tudo: o ir e vir, a saúde e a doença, o amor e o desamor, o saber e a ignorância. Experimentar isso confirmou que “viver é perigoso”. Verificar a verdade de que um grande amor pela vida significa não se prender ao transitório, ao passageiro.

E como não indagar sobre Deus em situação que parece negar Deus? Enxerguei que Deus se torna presente em mim quando me torno presente a mim mesmo, em verdade e simplicidade. Confirmei a verdade de que o humano e o divino não são realidades que se excluem. O humano é a porta que nos permite entrar no divino. O humano é o único caminho para o divino.

Hoje celebro, tanta gente comigo, o momento sagrado da vida, que poderia ter sido interrompida. Todo dia é sagrado. A celebração, porém, é o sinal de que o sagrado nos acolhe, nos fala, nos espia e desafia, nos anima e, por vezes, acabrunha.

Sei que “a imaginação é a metade da doença; a tranquilidade é a metade do remédio; a paciência é o primeiro passo para a cura”. Saber disso não me fez mais forte. Como controlar uma imaginação incontrolável, diante de fatos e realidades? Como ficar tranquilo diante do imponderável? Assumi em plena paciência: não sou, não preciso ser super-homem. Basta-me a simples humanidade. Não sabia o que poderia vir a acontecer. E sabia de tanta coisa já acontecida a tanta gente.

Tive Covid-19. A vacina foi fator-chave para a cura. Com tanta ajuda, tudo continua em superação. Em celebração. E muito agradecido.

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