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CUIDADO

20 de Janeiro de 2021, por João Bosco Teixeira

Um programa de televisão indagou de certo número de pessoas qual a palavra que melhor sintetizava o que a população viveu em 2020.

Houve uma série de respostas, como se pode imaginar. Ao final, concluiu-se pela palavra CUIDADO, que superou outras igualmente significativas, quais “generosidade”, “responsabilidade”, “solidariedade”.

Houvesse eu sido indagado, também teria dito a palavra CUIDADO. Do latim arcaico coitare, significa pensar em, pensar sobre. Dar atenção à saúde. Uma palavra síntese, portanto, de tudo quanto se fez em dois mil e vinte, face à Covid-19. De fato, além do CUIDADO notável por parte dos profissionais da saúde, parte notável da população esteve, direta ou indiretamente, transitória ou permanentemente, envolvida, preocupada no dispensar CUIDADO às pessoas, contaminadas ou não pelo vírus destruidor de vidas, aniquilador do bem-estar social e limitador das manifestações de carinho e afeto.

CUIDAR é dimensão essencial da vida. É no dispensar cuidado que as pessoas tomam consciência dos limites da vida, na fragilidade da existência e, por conseguinte, se supera a arrogância, incompatível com qualquer postura humana. Mas é também pelo CUIDADO que se alcançam e se conhecem os valores da existência. Pelo CUIDADO é que se chega ao outro, que se acolhe o outro na realidade que o envolve. Pelo CUIDADO é que se pode chegar a uma forma de situar-se no mundo, com a delicadeza espiritual expressa na empatia e no sentimento de admiração. Sem o CUIDADO, nada de humana interação. Pobreza de vida.

Além do mais, o CUIDADO, a atenção dispensada ao outro, o preocupar-se com o outro traz consigo um outro fator de importância capital para a vida saudável das pessoas.  Quem se sente CUIDADO, sente-se RECONHECIDO. Que riqueza de atitude: prestar reconhecimento ao outro. Que pobreza de atitude: não prestar reconhecimento ao outro na sua peculiar característica. Sem o CUIDADO não há reconhecimento. E sem reconhecimento ninguém é gente, ninguém é nada, a pessoa não existe. Se numa pessoa nada se vê, nada se reconhece, é o mesmo que dizer da sua inexistência. Pois bem, é o CUIDADO que leva alguém a reconhecer o outro. E como cuidar é também dar atenção à saúde, quando se cuida se está dando atenção à vida. Nada mais essencial.

O grande biólogo chileno – Maturana – escreveu em um de seus livros: Sustentei muitas vezes que, se não todas, a maior parte das doenças que nós seres humanos contraímos, têm sua origem no desamor e, igualmente, se curam pelo amor no amar. Ora, expressão maior do amor é o CUIDADO.

Dois mil e vinte e um chegou. Vamos festejá-lo. E levá-lo com CUIDADO, pois festejar é partilhar, é ter com quem se encontrar, é reconhecer que outros, além de nós, fazem jus à festa em que, mais que qualquer coisa, é preciso ter CUIDADO, pensar no outro como possuidor do direito a uma vida reconhecida.

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