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Dois Paulos, duas grandezas

14 de Outubro de 2021, por João Bosco Teixeira

Não houvesse outros brasileiros para solucionar os enormes problemas que temos, estes dois PAULOS, Freire e Arns, seriam suficientes para fazerem o Brasil menos feio.

Com um deles, aquele pernambucano “arretado”, pautaríamos a educação como uma energia para a transformação e a libertação, destituída de sua roupagem alienante e alienada. Uma educação orientada para a tomada de decisão, para a responsabilidade social e política.

Com o outro, o catarinense que tinha como arquétipo básico de sua existência a ternura e a coragem, as pessoas teriam, como fonte inspiradora de suas vidas, o absoluto respeito pelos direitos civis, o fim da exclusão de todo tipo, a absoluta convicção de que a pessoa humana vale mais que qualquer dinheiro, a certeza de que o amor a Deus se manifesta no amor ao povo, ao lado do qual é indispensável estar.

E não deixa de haver uma enorme aproximação entre o pensamento e a ação transformadora desses dois brasileiros. Foram homens para os quais as palavras têm vida, pois elas se referem ao seu trabalho, à sua fome e à sua dor. Em ambos, um radical compromisso com a vida. Em ambos, o amor qual fonte inspiradora de transformação. Amor feito de coragem, exigência do compromisso com a causa do outro.

Em Paulo Freire a amorosidade percorre toda a sua obra, materializa-se no afeto como entendimento com o outro e se faz engravidado de solidariedade. Em Paulo Arns, a preocupação com os menos possuídos o faz vender o suntuoso palácio episcopal de São Paulo por cinco milhões de dólares e o leva a comprar mil e duzentos terrenos na periferia da capital para atender às necessidades dos desfavorecidos. 

Em ambos, o ser humano é entendido como um ser intrinsecamente social e político, um ser da relação. Existe uma pluralidade de relações do homem com o mundo, relações que jamais serão de dominação ou domesticação, pelo contrário, sempre de libertação.  Por isso Paulo Freire vê as palavras com seu significado real, na sua referência a situações reais. Para ele são palavras grávidas. E o processo educativo se faz caminho e abertura para uma história concreta libertadora e não uma mera idealização da liberdade. 

Em Paulo Arns, a evangelização o faz deixar a sacristia e ir ao encontro dos carentes de qualquer liberdade. Oito dias após sua posse como arcebispo de São Paulo, já era contado entre os subversivos, porque contra a proibição da liberdade. Os órgãos executores da política opressora fizeram contra ele mais de mil e quinhentas citações. Tais órgãos várias vezes se viram quase invadidos por ele e, mais de uma vez, marcou ele presença junto ao mandatário maior do governo ditatorial em defesa dos perseguidos.

Freire, o educador que concebia a educação como prática da liberdade. Arns, o Cardeal da periferia, da resistência, dos direitos humanos, da esperança, da libertação.

O mundo celebra o centenário de nascimento dessas duas grandes figuras. O Brasil, menos. Incrivelmente.

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