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Dor de fome

16 de Junho de 2021, por João Bosco Teixeira

Morre mais gente de fome no mundo que devido à Covid-19. Oitocentos e vinte milhões é o número de pessoas que passam fome no mundo. No Brasil, são dezenove milhões.

Que pessoas são essas? É gente para quem a fome é o único sinal de sua existência. É gente para quem o amanhã não conta, pois que essa gente vive a incerteza de tudo, na certeza do nada. É gente para quem a fome constitui parte integrante da vida.

E a fome dói. Dói em quem a contempla. Dói mais em quem a padece. Se Epicuro tem razão em dizer que “Importa menos saber o que se come do que saber com quem se come”, ele também sabia que, sem ter o que comer, não faz sentido ter com quem comer.

“Se tens um coração de ferro, bom proveito. O meu é de carne e sangra toda hora”, é o que se lê em Saramago. Não nos faltam motivos para termos um coração que sangra, nesta hora de pandemia: muitas mortes, muita fome causadora de morte. 

Organizações sociais e políticas promovem campanhas de solidariedade para levar comida aos que dela precisam, nesse período tão cruel da nossa história. Mas há uma indagação que paira no ar: O que um cidadão, isoladamente, pode fazer diante de um quadro tão triste?

Há uma enorme dificuldade inicial: grande parte do dinheiro do país está nas mãos de apenas 10% da população brasileira. E tais 10% não têm interesse algum em acabar com a fome, pois, se tal acontecesse, poderia faltar comida para eles. Nada a fazer, pois? Não. Se você acredita, como dizia Elisabeth Leseur (+ 1914) que uma alma que se eleva, eleva consigo o mundo”, você poderia seguir as orientações da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Ela recomenda:

. reduza o consumo de carne, já que diversos recursos naturais são usados ​na sua produção;

. não desperdice comida: pois estará desperdiçando recursos usados em sua produção;

. utilize menos água: elemento básico na produção de alimentos;

. descarte corretamente eletrônicos e medicamentos, que contaminam os solos e os lençóis freáticos com seus elementos químicos.

. consuma produtos locais: eles podem ajudar a combater a poluição, reduzindo as distâncias e o transporte.

Se se pode matar a fome de algum faminto, o ideal é fazê-lo. Mas, creia, seguir as orientações da FAO é assunto igualmente notável. Se você entrar nessa onda, ninguém vai saber se colabora ou não. Mas você poderá sentir uma grandeza que vem dos nobres ideais. 

Somos, isoladamente, parcela mínima na população. A TERRA, no espaço, é também parcela mínima. E ninguém diz que seja insignificante e sem importância.

O angolano José Eduardo Agualusa diz: “Só me interessam as revoluções que começam por sentar o povo à mesa”. Enquanto tal revolução não acontece, elevemos o mundo, elevando-nos.

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