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O celebrar não interrompe o viver

17 de Marco de 2020, por João Bosco Teixeira

A conversa com aquela senhora sobre a missa prolongou-se. Dizia-lhe eu: “É preciso, pois, participar da missa com a idade que se tem.”

Falemos do começo da missa. Quantos de nós não tomam consciência de que a missa tem início com a confissão dos pecados: Confesso a Deus e a vós irmãos e irmãs. Que beleza! A presença de Deus que exige a paz com os irmãos. Mesmo porque se responde à saudação que o sacerdote faz, dizendo: Bendito seja Deus que nos reuniu NO AMOR DE CRISTO. Isto é, estamos ali na igreja porque Deus nos chamou. Não se está ali porque se é obrigado. Não se está ali porque o padre tal é que vai celebrar. Não! Estamos ali para acolher o Amor de Cristo por nós. Isso não é uma coisa insignificante.

O fiel adulto vai à igreja para acolher a Palavra que será anunciada. É verdade, muitas vezes é mal anunciada, com leitores menos preparados, com som defeituoso. Então, por que não chegar um pouquinho antes e correr os olhos pelos textos que serão lidos, ou, quem sabe, ler o comentário que a maioria dos folhetos traz? Isso facilita ouvir as várias leituras e até acolher a palavra do sacerdote.

Por que, também, não se dedicar à leitura de algum livro sobre o PAI NOSSO? Há tantos ótimos: de Pagola, de José Tolentino Mendonça, de Comblin, de Leonardo Boff. É mais uma atitude para nos ajudar a celebrar melhor a Eucaristia. Afinal, o Pai Nosso nos leva para a comunhão.

Não vou comentar toda a liturgia eucarística. Prefiro lembrar que celebrar é “fazer brotar, tornar visível, inegável e inevitável a presença do Ressuscitado-entre-nós”. Dizemos, erroneamente, que se tem na missa um momento sagrado. Sagradas são nossas vidas. E quando estamos em partilha, em comunhão com os irmãos, “o sagrado nos acolhe, nos fala, nos espia e desafia, nos anima”.

Falo tais coisas, mas não se pense que a missa é assunto para os conhecedores de teologia, os estudiosos. Não, não é isso. Pois crer em Deus não é pensar Deus, mas SENTIR Deus, a partir da totalidade do nosso ser. A religião, embora possua uma dimensão racional, não se confunde com a razão. “É o coração que sente Deus, não a razão”, como dizia Blaise Pascal.

Então, quando se fala que é preciso celebrar a missa com a idade que se tem, não significa querer colocar a razão, o pensamento, a crítica antes da emoção. Não se trata disso. Na missa, nossa inteligência vem saturada de emoções e de afetos. Por isso a celebração eucarística é uma festa, alegre, feliz, cantante. E saber superar a materialidade da vida, mesmo em suas manifestações de emoção, é próprio da vida adulta, que é preciso levar conosco para todo lado, inclusive para a igreja.

O celebrar não interrompe o viver.

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