A Quaresma se apresenta aos cristãos como “tempo oportuno, como dias propícios à salvação ”. Por isso é que ela pede dos cristãos: “oração, jejum e esmola”.
Na simplicidade da fala e do conversar, vem-me o desejo de apresentar alguma consideração sobre a oração. E tudo começa com Renato Teixeira: “Como eu não sei rezar, só queria mostrar meu olhar, meu olhar, meu olhar...”
Acho que é mesmo assim: “não sei rezar”. Nessa hora, porém, que para muitos é angustiante, os grandes místicos e o próprio São Paulo, na sua carta aos Romanos (8,26-27) vêm em nosso auxílio: “Assim também o Espírito socorre a nossa fraqueza. Pois não sabemos o que pedir como convém; mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis”.
Eis a grande, bela, intocável verdade: “O Espírito reza em nós”. Por isso: ... “só queria mostrar meu olhar...” No olhar está toda a verdade; os olhos contêm toda a vida.
Nossa oração, frequentemente, se perde porque não parte do sopro divino que há em nós. Ela permanece uma tentativa inútil de palavras que partem de nós mesmos.
Partir da escuta de Deus simplifica cada esforço, pois é muito mais fácil escutar que inventar fórmulas de oração; é mais fácil deixar-se moldar pelo Senhor e depois responder-lhe, buscando dizer-lhe apenas o necessário do nosso íntimo.
Muito antes que a palavra, muito antes que pensamento formado, a oração é a percepção da realidade que instantaneamente floresce no louvor, na adoração, no agradecimento, na súplica de misericórdia àquele que é a fonte do ser e do existir.
Nossos sentimentos emergem e se configuram como ingredientes nessa experiência espiritualmente concreta. E, então, a oração brota com a percepção da futilidade das coisas alheias ao projeto de Deus; e ela se transforma em súplica para que sejamos nós mesmos salvos da desídia, da insignificância e da nulidade.
A oração nasce da percepção da presença daquele que é plenitude; da autenticidade da relação de comunhão com o único Senhor e Salvador.
Com a oração, a gente se dá conta da vontade do Pai como norma absoluta de vida; e a oração deixa de ser a tentativa de dobrar a vontade divina à nossa, mas a convicção sempre renovada de conformar o nosso desejo à vontade do Pai (Mt 6,10; 26,39-42).
Sabedores da presença do Espírito em nós, a oração nos leva a vivenciar a consciência de quem somos e abre-nos para a relação com todas as criaturas e todo o criado.
A oração é o grande meio de abertura ao Reino de Deus que se instaura nos corações dos humanos.
A oração coloca-nos em sintonia com a cruz, vitória sobre o mal, e se faz, então, uma súplica para que a justiça se instale no mundo e se possa viver a esperança da Jerusalém celeste, onde tudo é santo.
Com os místicos aprendemos a rezar: eles sabem das coisas, sabem do mundo porque sabem que tudo está em Deus. Sabem “Sentir Deus em todas as coisas e todas as coisas em Deus” (S. Inácio). Por isso é que a oração nos leva a viver a antecipação da vida sem fim.