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Os clássicos

15 de Julho de 2021, por João Bosco Teixeira

Certa feita, esbarrei-me em um pensamento que jamais saiu de minha mente:  Lemos os clássicos, não para conhecermos uma história, mas para sabermos com quais de seus personagens nos identificamos. Isto é, o que faz de um escritor um clássico é sua capacidade de identificar as muitas manifestações da vida, na variedade das personalidades.

Nesta pandemia, a quarentema tem me proporcionado ocasião rica para muita leitura. Inclusive, e novamente, de clássicos. Assim, retomei Homero, em recente tradução do grego, por notável especialista português. Mais recentemente, criei coragem e li, de Ariano Suassuna, a Pedra do Reino. Carlos Lacerda assim fala dessa obra: Não há que buscar nele o folclore, o regional, o ocasional, o circunstancial e, sim, o universal, o permanente. Como em Dom Quixote.”

O paralelismo entre Suassuna e Cervantes, feito pelo político brasileiro, levou-me de volta ao clássico espanhol. Reli, usufruindo muito mais que há anos, dada a evolução de minha vida. E, então, não pude deixar de, mais uma vez, entender que os “clássicos” não morrem. Eles vão além do tempo. Eles transcendem.

Outros humanos não transcendem. Agarram-se ao transitório da vida. Assim parecem viver os participantes da CPI da Covid-19. Dado o seu comportamento, pode-se deduzir que eles consideram a aventura humana um equívoco.

Aventura humana que convém levar com ética.A ética tem a ver com morada, com habitação. Por isso, é necessário querer um mundo que valha a pena nele habitar. Ora, o cenário da CPI apresenta um abusado desvio de comportamento que ofende a ética; ofende a vida privada, ofende a alteridade: uma autêntica aventura desventurada. Ali, virtude e loucura não se separam. E, então, o ridículo impera, com a anulação do sublime. Contrariamente ao que acontece com Quixote, que, segundo o grande Santiago Dantas, passa por cômico, porque é santo; passa por louco, porque é virtuoso. Na CPI, nem cômicos, porque não santos; nem loucos, porque não virtuosos. Trágicos, porque falta-lhes coisa essencial: humildade, qual esplendor da verdade. Dizem que estão buscando isso: a verdade. O objetivo final, entretanto, macula todo o comportamento deles, de cunho abertamente politiqueiro, distante da vida do povo, que necessita, isso sim, de Política.

Equívoco. Na CPI em curso, há gente que parece buscar uma missão superior, o que é sublime. Mas julgar-se possuidor de tal missão, é um equívoco. Há gente querendo salvar tanta coisa, o que também é bom. Julgar-se, no entanto, um salvador, é um equívoco. Trata-se, na verdade, de mistificadores, servidores de ideologias. Não separam o heroísmo da fantasia. Caem na ridicularidade.  Acreditam que, no excesso de convicção, conseguirão tornar certo o que está errado. Para eles as coisas não precisam ser como são, basta-lhes que sejam como eles.

Não se vai a lugar algum quando falta ética, quando falta algo pelo que vale a pena viver.

Voltemos aos clássicos. Identifiquemo-nos com nobres personagens.

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