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Pode ser bom silenciar

05 de Abril de 2020, por João Bosco Teixeira

DOMINGO DE RAMOS, Jesus que chega a Jerusalém. Domingo que inicia a semana em que ocorre o tríduo sagrado, preparação para a maior festa cristã: a Ressurreição de Jesus.

Que semana! Ramos. Procissão do Encontro. Ceia Pascal. Senhor Morto. Vigília Pascal. Páscoa.

Quanta festa. Sim, festa, pois grande aglomeração de pessoas. Festa, porque ramos para o Rei, montado num jumentinho. Festa, porque um solene encontro de uma Mãe com o Filho condenado. Festa, porque uma linda celebração para a bênção dos óleos reservados para vários sacramentos. Festa, porque se comemora a instituição da Eucaristia, ocorrida em volta de uma mesa. Festa porque, superada a triste memória da flagelação, coroação, caminho do calvário, crucifixão e morte ignominiosa, entoa-se, proclama-se o maior de todos os anúncios:  Ele ressuscitou.

Este ano, entretanto, que festa? Onde a aclamação vibrante de Hosana ao Filho de Davi?  Onde os ramos de oliveira para, com eles, aclamar a chegada do rei? Onde o desfile de fiéis acompanhando uns a Mãe, outros o Filho, até seu comovente Encontro? Onde a Missa da Ceia do Senhor? Onde a bela cerimônia do lava-pés, a lembrar-nos o que a cada um de nós compete fazer? Onde a emocionante cerimônia do descendimento da cruz? Onde a beleza da adoração da cruz: “povo meu, o que foi que te fiz?” Onde a multidão acompanhando o esquife a transportar a imagem de Jesus, enquanto a verônica, chorosa, indagava: “Ó todos vós que caminhais pelas estradas, dizei-me se existe dor semelhante à minha?” Onde foi parar o sublime anúncio pascal na noite de sábado? A igreja nas trevas que, de repente, se faz toda de luz, movida pela verdade do canto: Só tu, noite feliz, soubeste a hora em que o Cristo da morte ressurgia?

Para tudo isso, o silêncio. Por que? Porque, se para viver o espiritual gostamos tanto de nos servir do corpo, das cores, do incenso, da matraca, da música, dos sinos, das figuras bíblicas teatrais?  

Mais vale perguntar que responder. A verdade é que temos a oportunidade de viver uma intensa semana, sem sermos incomodados por tanta festa, por tanta solicitação, por tanto atrativo. A sós, é o que viveremos nos próximos dias. O silêncio de tais dias, que não é o silêncio de Deus, não nos fazer surdos e cegos pela ausência de estímulos belos, embora não necessários, válidos, embora não indispensáveis.

Esta semana é para se crer sem intermediação externa. É para se celebrar, ainda que sem celebração. É para se festejar, ainda que sem festa.  É para se aprofundar a verdade de que Deus não exige cruz para nossa salvação; mas quer que a busquemos, apesar da cruz.

Esta despojada semana vai nos permitir entender que tudo o que nela ocorre só faz sentido se se entende que o essencial é o que depois dela acontece: “Por que procurais, entre os mortos, Aquele que vive? Ele não está aqui; ressuscitou” (Lc 24,5s).

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