Há, em nossas vidas, questões singelas, umas; complexas, outras.
Entre as singelas, isto é, que se deslindam sem muito esforço, esta: ministro do Supremo Tribunal Federal que se orgulha de ser comunista. Nada mais simples. Ele tem invejável aposentadoria e não menos invejável plano de saúde. Direitos adquiridos no seu fugaz tempo de senador. É muito cômodo se dizer convicto comunista nessa situação.
Outro exemplo: os plenos e absolutos poderes que os ministros do STF se concederam. Eles criaram, formaram e forjaram a convicção de que lhes cabe uma MISSÃO MESSIÂNICA. Se assim é, nada de LEI, nada de CONSTITUIÇÃO. Eles são uma e outra coisa. A messianidade, de que estão imbuídos, os isenta de qualquer vínculo que não tenha neles sua origem, neles o entendimento dos fatos, com eles e por eles a definição de qualquer matéria. Pelo que se orgulham de serem o baluarte e a salvação da democracia no país. Mera observação: nenhum deles foi eleito pelo povo.
Existem, no entanto, situações muito complexas. A primeira delas: a temática relativa ao aborto. Que tema difícil! Quantas ponderações sérias e discutíveis, ao mesmo tempo: a mulher é senhora de seu corpo; a gravidez indesejada prejudica a relação educativa mãe/prole; a vida precisa ser respeitada desde sua concepção; ter ou não ter filho hoje em dia; basta de homens legislando direito das mulheres etc. Temática séria, passível de muita discussão, sem nenhuma garantia da obtenção de unanimidade na consideração do problema. Minha opinião, discutível, controversa: onde houver vida, ela deve ser preservada.
Outro tema complexo: o processo do ensino no Brasil, bombardeado por todos os lados. Apenas algumas considerações. Ponto nevrálgico da questão está, também, na metodologia do ensino e do aprendizado. Assunto que envolve toda a escola e, particularmente, a coordenação de ensino e os professores. Estes, pela situação que enfrentam: além de lhes faltar tantos estímulos, lidam com uma criançada que passa o dia todo se movimentando, numa interação e atividade intensas, em casa ou com os colegas, presencialmente ou não, e são submetidas, na escola, a um regime de aprendizado nada compatível com a vida que levam. Não dá para exigir de tais crianças que fiquem, na sala de aula, em silêncio durante trinta, quarenta minutos, “ouvindo” um professor falar. Silêncio que não significa disciplina. Ouvir que não com é condição indispensável de aprendizado. Carece-se de metodologias em que os alunos sejam, realmente, protagonistas de seu aprendizado. Metodologias com as quais os meninos possam interagir, discutir, falar, brincar. As coordenações de ensino lidam com descabidas exigências curriculares, seja na sua organização, seja nas propostas de conteúdo, imensas, inconciliáveis com os tempos escolares. Sempre a meu aviso: objetivo do ensino fundamental, do ponto de vista do ensino, é aquele de a criança, ao final do nono ano, ser capaz de ler (interpretar, criticar, induzir, deduzir, criar, expressar o próprio pensamento, verbalmente ou não...) e trabalhar com as quatro operações. Com as atuais orientações curriculares, parece-me impossível a conquista de tal objetivo.
Questões singelas, desprezíveis e revoltantes.
Questões complexas, relevantes e desafiadoras.