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Tecnologia e sabedoria

19 de Agosto de 2021, por João Bosco Teixeira

Nosso futuro é uma corrida entre o potencial de crescimento da tecnologia e nossa sabedoria ao usá-la. Precisamos garantir que a sabedoria vença”, escreveu Stephen Hawking (1942-2018), o grande físico inglês.

Há ano e meio, a maioria esmagadora de nossas escolas de educação básica não utilizava tecnologia alguma de ensino. Por falta de recursos tecnológicos instalados, por despreparo de nossos professores e por outras muitas razões.

De repente, nada mais que de repente, as escolas, para tentar minorar o prejuízo que a pandemia veio causar, passaram a se servir da internet, dando origem ao ensino a distância, nos ciclos fundamental e médio. A utilização de tal tecnologia, mesmo sem os devidos cuidados relativos ao preparo do professorado, à inexistência de recursos por parte notável dos alunos, veio para ficar. Nossas escolas, mesmo públicas, nunca mais serão as mesmas de antes da pandemia, do ponto de vista do ensino. Do ponto de vista da educação, nada de novo, porque a educação acontece com o estabelecer-se de uma relação interessante entre os muitos atores da escola.

A novidade surgida exige sabedoria. Além de competência e habilidade na utilização dos recursos tecnológicos, entendo, com absoluta clareza, que as escolas deveriam ter coragem para radicalizar no aspecto relativo aos conteúdos: REDUZI-LOS DRASTICAMENTE. Quem tem algum interesse em escola, se tomar nas mãos os livros utilizados no ensino fundamental e no médio, não vai acreditar que seja possível ajudar os alunos a adquirir tantos conhecimentos. É exageradamente demais. Que bom, dizem alguns, os meninos sairão da escola com uma invejável cultura geral. Não, não é verdade. Basta considerar que, para o aluno ser aprovado, a escola considera que obter um quatro ou um cinco nas avaliações seja suficiente, esquecida de que os demais pontos que faltam para alcançar o dez possam conter o essencial de um programa.

Nem mesmo com a melhor das tecnologias de ensino o excesso de conteúdo não deixa tempo para que o essencial aconteça: aprender a ler, no sentido amplo da palavra. No mundo atual, quem sabe ler não precisa de uma escola que lhe forneça conhecimento. Quem não sabe ler, aliena-se. A ausência da leitura é responsável pelo apagão educacional que todos lamentamos. A ausência da leitura é que provoca o analfabetismo político que presenciamos e que se constitui como clara manifestação de nossos problemas educacionais. Quando o povo souber ler, seremos um país melhor.

Para que a tecnologia produza seus frutos, é necessário trabalhar estrategicamente, isto é, com a identificação de esquemas de intervenção que tornem a ação mais eficaz. Isso é sabedoria. E, em termos de ensino, a sabedoria exige uma radical redução dos conteúdos para que se possa cuidar do essencial: aprender a ler.

Que os recursos tecnológicos aconteçam. Que os preceda a sabedoria, a garantir-lhes eficácia.

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