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Festa Junina

18 de Junho de 2019, por Cláudio Ruas

Mudou de tempo, esfriou, estação nova, dia curto, muda um tanto de trem. As festas mudam. As comidas mudam. Nós mudamos. Isturdia era carnaval e quando pensa que não vêm as rezas, as primeiras festas de roça, o carro de boi, a poeira e a pingaiada. Tempo bão.

O frio esfria a vida de um lado e esquenta do outro. O frio pede pinga e abraço. Caldo de feijão e pimenta também. Frio pede festa pra esquentar a alma. Na roça, então, onde o povo vive sozinho e longe – e no frio – festa é fundamental. E com fogo. Nós humanos somos bichos que precisamos uns dos outros. Precisamos de calor humano e de calor de fogo mesmo. Aliás, foi o próprio fogo que nos tornou humanos. Aprendemos a cozinhar e as coisas mudaram.  

Repara procevê que nessa época do ano todo mundo fica animado com festa junina. Que hoje em dia já se prolongou para julho e, se deixar, vai longe. O povo gosta desse tipo de festa, e não é só no interior não. Na cidade grande também. E não é só a comida não. É uma vontade de voltar no tempo, de voltar pra roça, de ser mais simples e feliz.  

Vivemos em um mundo cada vez mais pasteurizado, padronizado, gourmetizado – e tantos outros “ados”. E esse mundo novo que veio alterou um bocado dos nossos costumes antigos, das nossas tradições. A música, então, nem se fala. Somos de um país, de um estado e de uma cidade e região riquíssimos culturalmente. Mas essa riqueza vai se tornando cada vez mais reservada, oprimida, engolida pelo sistema. Calada pelo barulho da música alta (e chata) nos carros, casas e festas. Ofuscada por outra cultura que vem de fora e que só tá chegando no seu ouvido, olhos e boca por interesses financeiros (já pensou nisso?). Triste e pobre mundo!

Mas aí vem a Festa Junina (e julina). Um respiro de cultura raiz, de comida brasileira, de simplicidade, coletividade e religiosidade. Por isso que todo mundo gosta dessas festas. Pelo menos por aqui. Interessante que essas festas de meio de ano ainda preservam um caráter solidário aqui no interior, muitas vezes com fins de se arrecadar fundos, coisa rara nos tempos de hoje, sobretudo nos grandes centros. O caldo feito por mãos solidárias são os mais gostosos, os mais temperados e quentinhos.

E festa junina na roça com desfile de carro de boi? Tem coisa mais bacana que essa cultura milenar dos carros de bois, viva até hoje na nossa região? Riqueza verdadeira. Temos que agradecer e nos orgulhar disso. Mas também temos que tomar cuidado para que essa e outras manifestações culturais não se percam de vez para essa outra cultura que vem tomando conta aí. O som do chiadô do carro de boi vem sendo abafado pelo som dos carros e caixas de som enormes, madrugada adentro, até em plena roça. Muitas de nossas festas vêm perdendo seu propósito original e se tornando lamentavelmente grandes baladas. Precisamos acordar.

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