Os dois parecem irmãos: são sanduíches, de “pão com carne”, de comer em pé, na rua e só com a mão. Populares, baratos e típicos da cultura americana que ganhou o mundo. Mas no fundo, é coisa de alemão. Até no fator “fazer mal” os dois andam juntos, embora seja possível um consumo saudável.
Lá na cidade alemã de Hamburgo, resolveram moer carnes duras, moldá-las e temperá-las para não estragar. A receita ficou famosa e conhecida como o “bife de Hamburgo”, que chegava a ser carregado entre a sela e o lombo do cavalo. Foi levado para os Estados Unidos pelos marinheiros, ganhando em seguida uma roupa nova, o pão. A praticidadedo preparo e consumo era perfeita para servir muita gente, não só em eventos, mas no trabalho. Era tempo de revolução industrial e até a comida tinha que ser feita por linha de montagem. Logo vieram as grandes redes de lanchonetes e o hambúrguer espalhou-se por esse triste mundo fast food em que estamos vivendo.
Noutra cidade alemã, Frankfurt, a turma gostava muito de salsicha, linguiça e coisa e tal. Diz a lenda que um vendedor de salsicha de rua procurava uma embalagem para servi-la aos clientes. Aí tiveram a ideia brilhante de usar um pão e o sucesso foi imediato. Só foi batizado de “hot dog - cachorro quente” quando desembarcou nos EUA, em alusão ao cachorro Bassê, também de origem alemã e que realmente parece uma salsicha ambulante.
Receita e modo de consumo de comida que saíram para o mundo sempre variam bastante. Aqui no Brasil, então, aparece cada coisa dentro do sanduíche que dá até medo. Ao contrário dos americanos, que costumam comer seu hot dog apenas com mostarda, ketchup e conserva de pepino (ou repolho), por aqui colocam de tudo, milho e batata (como em Minas), ovo de codorna (como no Rio) e até purê de batata (como em São Paulo). Bairrismos à parte, prefiro a versão mineira, porém, substituindo a salsicha por uma linguiça. É uma troca bacana, tanto pelo sabor quanto pela questão alimentar, já que essas salsichas comuns não são nada saudáveis. Além do excesso de sal, sódio, corantes etc., aquela massa do recheio tem de tudo, menos carne. Um gole de vinho tinto no molho de tomate e uma semeada de salsinha fresca por cima do sanduíche também valem a pena.
O caso do hambúrguer é o mesmo. Os americanos costumam comê-lo geralmente com queijo, cebola e também com pepino em conserva, mostarda e ketchup. Já os brasileiros colocam até abacaxi entre infinitas opções de ingredientes. E chegam até a substituir o bife de Hamburgo por coração de galinha(!), como já vi no Rio Grande do Sul. Acompanhamentos à parte, o que faz a diferença principal é o bife, quanto mais artesanal melhor. Da mesma forma que as salsichas comuns, os hambúrgueres industrializados têm de tudo, menos carne. E fazer em casa é mais fácil e barato do que parece. Use uma carne bem fresca, moída na hora e de preferência que tenha um pouco de gordura, ou que seja moída com bacon. Tem gente que faz até com picanha, mas gosto muito da fraldinha, que é saborosa, tem uma gordurinha no jeito e custa a terça parte. Inclusive com músculo dá pra fazer, obviamente pedindo ao açougueiro pra moer umas quatro vezes. Gosto também de um hambúrguer de porco, feito com o recheio de uma linguiça crua. Acompanhando o hambúrguer que for, além da mostarda e do queijo meia cura derretido por cima - vai bem um molho com bastante cebola em tiras, cozida com um gole de cerveja escura e molho barbecue (ou ketchup).
Acho interessante que hoje em dia esse tipo de comida vem sendo mais valorizada – e reinventada - na gastronomia, mas ao mesmo tempo sinto falta dos trêileres de hambúrguer e carrinhos de cachorro quente do passado, ainda mais presentes no interior e nas periferias, feitos com mais carinho e com preço justo. Encerro lembrando também dos divertidos tempos de adolescência esfomeada e sem dinheiro, em que era possível jantar um cachorro quente por um real, ao final da exposição agropecuária, no sistema self service à vontade de acompanhamentos. Tinha direito até ao xingamento do dono da barraca, de tanta coisa servida.