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Mantiqueira Sul-Mineira

15 de Agosto de 2018, por Cláudio Ruas

Minas são muitas. Realmente. De Manga, no norte, até Extrema, no sul, são 1.277km. Cada canto tem seu encanto. Mas existe uma região bem especial, a Mantiqueira Sul-Mineira. A parte que beira propriamente a Serra da Mantiqueira, mais na divisa com São Paulo. Tem muita coisa por lá, de paisagens deslumbrantes a uma gastronomia riquíssima. Um passeio de primeira.

Altitude é o que não falta por lá. Clima frio, águas límpidas e abundantes. Ambiente propício para produção de muitas coisas. A começar pelos cafés, como os de Carmo de Minas e Cristina, considerados os melhores não só do Brasil mas do mundo! Altitude propicia à produção de outras coisas interessantes também, como as trutas de Wenceslau Braz. Perto de Maria da Fé, cidade que produz muita batata – e muito frio – e onde ocorreu a primeira extração nacional de (excelente) azeite extravirgem, há 10 anos.  

Fazendo jus à máxima de que “onde se faz azeite se faz vinho”, os vinhos sul-mineiros também seguem cada vez mais fortes e especiais, com vinícolas desenvolvendo excelentes trabalhos, inclusive de reconhecimento internacional. As condições favoráveis e o trabalho dos produtores estão aí. O que falta mais é apoio do poder público (sobretudo, de ordem fiscal) e mudança de postura dos consumidores, que ainda sofrem com o abominável complexo de vira-latas em relação aos vinhos nacionais.

Queijo bom também é o que não falta na Mantiqueira Sul-Mineira. Região que sofreu influência da imigração italiana e que abraçou técnica diferente da utilizada no queijo minas artesanal. O queijo de lá é inspirado no parmesão da Itália e vem ganhando cada vez mais reconhecimento, até mesmo Brasil afora. Queijos realmente muito bons e singulares, como os produzidos artesanalmente na cidade de Alagoa, por exemplo. Ou até os feitos em escala industrial, como numa grande fazenda de Cachoeira de Minas, que produz queijo tipo grana padano para nenhum italiano botar defeito. E mascarpones, presuntos crus e salames também.

Preciosidades gastronômicas é que não faltam nessa região. Seja o arroz vermelho e a banana de Piranguçu, o pinhão de Delfim Moreira, a marmelada de Marmelópolis, o polvilho de Conceição dos Ouros, a alcaparra de Brasópolis, o pé-de-moleque de Piranguinho e a farinha de milho de Santa Rita de Caldas. Todas elas encontradas juntas no antigo e simpático Mercado Municipal de Itajubá.

Falando em farinha de milho, logo já pensamos numa iguaria bem tradicional da região – o pastel de milho. Não, ele não é recheado de milho, como muitos imaginam. Aparentemente se confunde com o pastel de angu, muito tradicional na região central do estado, mas há uma relevante diferença: a massa do de milho é feita com a farinha de milho e polvilho. E não vai ao fogo. Fica mais fina e crocante que o de angu. E seus recheios variam, sendo o de carne com batatinhas o mais típico deles. Uma beleza, sô!

Interessante como a distância desse “sulzão de Minas” com a capital reflete na sua cultura, no sotaque cantado e também no modo de preparo de alguns pratos clássicos da culinária mineira. Caso do tutu de feijão. Na região central ele é feito de uma forma mais requintada, com o feijão batido e os pertences que o compõem (ovo, couve, linguiça, molho de cebola) dispostos de forma separada na travessa. Já o tutu sul-mineiro é mais rústico, “tropeiro”. O feijão é desmanchado na própria panela, com fogo e mistura. Se usa farinha de milho e os pertences são todos misturados ao feijão. Um jeito muito interessante, gostoso e que permite uma troca maior de sabor entre os ingredientes.  

Assunto é o que não falta, mas o melhor mesmo é ir lá, ver e sentir aquele “terruá” de perto. Aproveitar uma ida à Aparecida (como gostam de fazer muitos resende-costenses) e parar no caminho. Se deslumbrar com as vistas das montanhas, se esbaldar nas cachoeiras geladas. Comer e beber de toda aquela fonte de riqueza cultural caipira. Ouvir – e acreditar – nas histórias do Saci. Se emocionar com as poesias e músicas que retratam aquele pedaço do mundo. Mantiqueira, em tupi-guarani, significa “montanha que chora”. Naquelas bandas, com certeza, até as montanhas se emocionam.

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