Adriano Valério Resende*
Na sociedade atual, o consumo de bens materiais, muitos deles descartáveis ou de pequena duração, é incrivelmente grande. A destinação final ambientalmente adequada dos resíduos (o “lixo”), como produto final dessa mentalidade consumista, tem sido objeto de preocupações por parte dos gestores públicos. De maneira geral, as Prefeituras, como responsáveis legais pela coleta, transporte, destinação e disposição final dos Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) têm enfrentado dificuldades, desde financeiras até operacionais, para destiná-los adequadamente.
Pensando mais holisticamente, conforme estabelece a Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei Federal nº 12.305/2010), além da disposição em aterros (aterro sanitário, aterro controlado ou lixão), existem outras formas de destinação final e também processos e ações que ajudam a diminuir o volume de resíduos a ser enterrado. Com relação à destinação final adequada tem-se, por exemplo, a incineração, que apesar de ser um processo que praticamente não deixa passivo ambiental é significativamente mais caro. Os processos voltados para a diminuição do volume de resíduos dispostos em aterros consistem basicamente na instalação de Usinas de Triagem e Compostagem (UTC) e na coleta seletiva. As ações principais consistem em redução, reciclagem e reutilização, destacando-se aqui a educação ambiental como peça-chave. Ressalta-se que esses processos/ações podem propiciar geração de renda por parte da população envolvida, trazendo, portanto, além dos benefícios ambientais, benefícios sociais para a comunidade.
A implantação de UTCs e as campanhas de divulgação sobre a necessidade de se separar os recicláveis na origem (residências e estabelecimentos comerciais) têm sido as principais ferramentas dos órgãos públicos e da sociedade civil organizada para otimizar a questão da destinação final dos RSU. A UTC é um sistema que consiste na “separação manual da matéria orgânica, materiais recicláveis, rejeitos e resíduos especiais presentes no lixo”. Os recicláveis (plástico, papéis, vidros etc.) são segregados e vendidos; a parte orgânica é destinada ao pátio de compostagem para produção de compostos orgânicos ricos em húmus e nutrientes minerais, que podem ser utilizados em paisagismos, na recuperação de áreas degradadas, entre outros; e o que não pode ser aproveitado é direcionado ao aterro. Resende Costa, infelizmente, ainda não dispõe de UTC.
A coleta seletiva tem como principais objetivos a separação dos resíduos recicláveis nas fontes geradoras. Reciclar traz vários benefícios econômicos, ambientais e sociais, como diminuição do resíduo a ser aterrado (aumentando a vida útil do depósito de lixo), preservação dos recursos naturais, economia de energia, diminuição da poluição do ar e das águas e geração de empregos. Destaca-se que está previsto na legislação mineira (Leis nºs 13.803/2000, 14.128/2001, 18.031/2009) a responsabilidade pública para com o fomento à coleta seletiva, à reciclagem e à organização e inclusão social dos catadores.
Em Resende Costa, os princípios de uma separação de resíduos aconteceram por volta de ano 2000, quando alguns resíduos recicláveis eram separados na carroceria do caminhão de coleta de lixo. Em 2009 a prefeitura comprou um caminhão compactador, que inviabiliza a separação dos recicláveis. Assim, a partir de 2010, a prefeitura iniciou a implantação da coleta seletiva na cidade, inicialmente no centro, depois nos bairros e escolas. Trabalham no processo, além de funcionários da prefeitura, pessoas cadastradas pela Secretaria de Assistência Social, que recolhem os resíduos nas casas e alguns presos, que trabalham voluntariamente na separação, prensagem e pesagem dos resíduos no Parque do Campo e na área do antigo matadouro. Os equipamentos utilizados foram recebidos por doação: prensa, balança, elevador e carrinhos de mão. Reconhecendo os esforços inicias e as dificuldades na continuidade, a coleta seletiva e a consciência ambiental precisam avançar em Resende Costa.
*Mestrando em Geografia (tratamento da Análise Espacial, na PUC Minas) e Analista Ambiental da Fundação Estadual do Meio Ambiente.
(A coluna “Meio Ambiente” é uma parceria entre Jornal das Lajes e a ONG Instituto Rio Santo Antônio (IRIS).
Leitor do JL - 21/10/2012
Como profissional responsável e como cidadã reforço a afirmação do colunista ao dizer que "a coleta seletiva e a consciência ambiental precisam avançar em Resende Costa". Após dois anos ainda temos de corrigir questões como a rotina da coleta, o recebimento de material reciclável misturado com restos de comida ou banheiro e tantas outras.
Hoje precisamos do apoio da população colocando o material do lado de fora de suas casas! Lamentavelmente não temos condições de manter o corpo a corpo, pois é uma forma muito demorada de coleta. Mesmo que tenhamos mais pessoas envolvidas nesta ação, não será possível retomar a forma de coleta batendo nas portas das casas. Atualmente temos as portas abertas para famílias, mas elas não estão participando por motivos diversos. Então estamos realizando a ação somente com os presos que dividem os ganhos resultantes do processo de coleta, prensagem e venda de forma igualitária. Se compararmos os valores das primeiras vendas e as de atualmente fica muito claro que houveram avanços, mas não podemos ficar satisfeitos se ainda há tanto por fazer.