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A expansão da agropecuária no Brasil e em nossa região

16 de Fevereiro de 2022, por Instituto Rio Santo Antônio

O Brasil, nos últimos anos, vem passando por um processo de primarização da economia, ou seja, um aumento na participação do setor primário (especialmente agropecuária e mineração) no PIB. E para sustentar tal crescimento, ocorre a expansão da fronteira agrícola para áreas nativas da Amazônia e do Cerrado. Inclusive, em nossa região, estamos acompanhando um aumento na área plantada por lavouras comerciais.

Devido à crescente necessidade chinesa por alimentos e matérias-primas, o Brasil intensificou o velho modelo primário-exportador de baixa intensidade tecnológica. Além de possuírem pouco valor agregado, o aumento na venda de produtos agrícolas (especialmente soja, açúcar, celulose, café), pecuários (carnes de frango e bovina) e minerais (minério de ferro e petróleo bruto) demanda a incorporação de áreas nativas, o que contribuiu para o aumento do desmatamento. A participação do setor no PIB era de 5,1% em 2019, 6,8% em 2020 e 7,9 no primeiro trimestre de 2021. Já o setor secundário, as indústrias, perdeu espaço nas exportações e também no mercado interno devido ao crescimento das importações, o que sinaliza a possibilidade de um processo de desindustrialização.

Os biomas mais impactados com a expansão da fronteira agrícola são a Amazônia e o Cerrado. O desflorestamento na Amazônia, especialmente para a formação de pastagens para o gado, é bastante divulgado pela mídia. O INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), no final do ano de 2020, divulgou que o Cerrado, o maior bioma inteiramente brasileiro, também está sendo destruído para dar lugar à agropecuária comercial. O desmatamento foi significativo: aumento de 8% em 2021 se comparado com 2020.

Com relação ao minério de ferro, as principais áreas de extração são: Quadrilátero Ferrífero (MG), Serra dos Carajás (PA) e Maciço do Urucum (MS). Em Minas, por volta de 2009, deu-se início às explorações fora do Quadrilátero e, assim, várias mineradoras montaram estruturas visando à exportação. Inclusive, em 2014, uma empresa foi autorizada a explorar minério de ferro no município de Passa Tempo, perto do distrito de Jacarandira.

A mesorregião do Campo das Vertentes está oficialmente dentro do bioma Mata Atlântica (Lei 11.428/2006). No entanto, segundo o Mapa de Vegetação do Brasil, elaborado no âmbito do projeto RADAMBRASIL em 1983, existem algumas áreas chamadas de enclaves fitogeográficos (“manchas de ecossistemas típicos de outras províncias, porém, encravadas no interior de um domínio de natureza totalmente diferente”) de Cerrado, com formação campestre Gramíneo-Lenhosa, dentro da região fitoecológica Floresta Estacional Semidecidual (Mata Atlântica). Inclusive, se analisarmos mais detalhadamente, o noroeste, o oeste e o sudoeste de Resende Costa possuem uma vegetação que já se caracteriza como enclave ou, mais propriamente, de transição entre Mata Atlântica/Cerrado. A título de localização geográfica, essa mancha é visível entre os povoados dos Pintos, Ribeirão e Cajuru. Regionalmente, temos um significativo enclave de Cerrado a sul de São João del-Rei, Madre de Deus de Minas e Piedade do Rio Grande.

Nos últimos anos, temos presenciado uma expansão da agricultura comercial em nossa região, especialmente com lavouras de milho e de soja. O destaque é a ampliação das plantações comerciais nos três municípios anteriormente citados. Tradicionalmente, Lagoa Dourada e Carandaí se dedicam à olericultura, mas as lavouras têm aumentado. Em Resende Costa, a anexação de áreas para o plantio comercial tem acontecido no nordeste do município, divisa com Lagoa Dourada e Entre Rios de Minas, sentido povoados dos Curralinhos dos Paulas e Maia. Essa região é de Mata Atlântica e as plantações estão acontecendo em áreas de pastagens, especialmente braquiária.

Ressalta-se que essa agricultura comercial traz vários problemas ambientais devido ao uso de agrotóxicos e de herbicidas. Como consequências, temos morte de abelhas (o que dificulta a polinização), de pequenos répteis, de peixes (visto que, quando da chuva, parte dos insumos utilizados é carreada para os cursos d’água), contaminação de nascentes (o que afeta moradores locais) e o desmatamento. Por fim, essas questões ambientais precisam ser mais bem estudadas e monitoradas.

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