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Alerta para a degradação do Cerrado

11 de Marco de 2015, por Instituto Rio Santo Antônio

“Na prática, o Cerrado já está extinto como bioma... a devastação do Cer­rado vai produzir também o desaparecimento dos reservatórios de água [...]”. Essas frases são de uma entrevista que o jornalista Elder Dias fez com o professor da PUC de Goiás, Altair Sales Barbosa, intitulada “O Cerrado está extinto e isso leva ao fim dos rios e dos reservatórios de água”. Você certamente já deve saber que o município de Resende Costa possui basicamente dois tipos de formação vegetal: Mata Atlântica (Floresta estacional semidecidual) e Cerrado. A título de localização geográfica, a vegetação de Cerrado é visível nas localidades: Restinga, Pintos, Ribeirão, Cajuru e Jacarandira. A partir desses povoados, sentido oeste e norte, o Cerrado praticamente domina a paisagem.

O Cerrado é formado por árvores quase sempre baixas, retorcidas e espaçadas, com uma formação campestre, muitas vezes rala. Nos vales e grotas mais úmidos as árvores possuem porte maior. Infelizmente essa vegetação, que ocupava grande parte do Brasil Central está acabando, não restando mais que 30% dela. Já para a Mata Atlântica a situação é ainda pior, sobram menos de 8%. Em Resende Costa, grande parte da vegetação nativa de Cerrado se tornou plantação de eucalipto ou “brachiaria”.

Segundo o professor Altair Barbosa, dos ambientes vegetais do planeta Terra, o Cerrado é o mais antigo. A história recente da Terra começou há 70 milhões de anos, quando foi extinta mais de 99% da vida e o planeta começou a se refazer. Os primeiros sinais de vida, principalmente de vegetação, que ressurgiram na Terra se deram no que hoje constitui o Cerrado. Isso é uma das justificativas para a afirmação de que o Cerrado é uma matriz ambiental que já se encontra em vias de extinção.

Esse bioma é um tipo de am­biente em que vários elementos vi­vem intimamente interligados uns aos outros, isto é, já chegou ao seu clímax evolutivo. Assim, uma vez degradado não vai mais se recuperar na plenitude de sua biodiversidade. A título de comparação, a Amazônia terminou de ser formada há apenas 3 mil anos, um processo que começou há 11 mil anos, com o fim da glaciação no Hemisfério Norte. Assim, a configuração que tem hoje existe na plenitude só há 3 mil anos. A Mata Atlântica tem 7 mil anos. São ambientes que, se degradados, é possível recuperá-los, porque são novos, estão em formação ainda.

Continua o professor, o solo do Cerrado foi degradado por meio da ocupação agrícola intensiva. A plantação de gramíneas exóticas (vindas da África e da Austrália) para o pastoreio modificou radicalmente a estrutura do solo. Isso significa que naquele solo, já modificado, a maioria das plantas nativas não conseguirá brotar mais. Além disso, o Cerrado foi incluído na política de expansão da fronteira agrícola por ser fácil de trabalhar, visto que as áreas são planas e com duas estações bem definidas. A alteração na qualidade do solo afeta os lençóis subterrâneos e, sem a vegetação nativa, a água não pode mais infiltrar na terra.

Mas o mais importante de tudo isso é que as águas que brotam do Cerrado são as mesmas águas que alimentam as grandes bacias brasileiras e drenam grande parte das regiões Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste. É daqui que saem as nascentes dos rios São Francisco, Doce, Grande, Paranaíba etc. Os rios nascem de aquíferos. Um aquífero tem sua área de recarga e sua área de descarga. O local onde ele brota, formando uma nascente, chamamos de área de descarga. Como ele se recarrega? Nas partes planas, com a água das chuvas, que é absorvida pela vegetação nativa do Cerrado. Essa vegetação tem plantas que ficam com um terço de sua estrutura exposta, acima do solo, e dois terços no subsolo. Assim, quando a chuva cai, esse sistema radicular absorve a água e alimenta o lençol freático. Outra questão, as plantas do Cerrado são de crescimento muito lento. Quando Pedro Álvares Cabral chegou ao Brasil, os Buritis (palmeiras que crescem nas veredas) que vemos hoje estavam nascendo. Eles demoram 500 anos para ter de 25 a 30 metros.

 

Um dado nos assusta: em média, dez pequenos rios do Cerrado desaparecem a cada ano. Esses riozinhos são alimentadores de rios maiores, que, por causa disso, também têm sua vazão diminuída e não alimentam reservatórios e outros rios, de que são afluentes. Com o passar do tempo, as águas vão desaparecendo da área do Cerrado. A água, então, é outro elemento importante do bioma que vai se extinguindo.

Adriano Valério Resende

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