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Alterações na qualidade das águas do rio Santo Antônio

15 de Janeiro de 2014, por Instituto Rio Santo Antônio

Você, prezado leitor, deve se lembrar de que em edição anterior falamos que as águas da bacia do rio Santo Antônio, que banha grande parte do município de Resende Costa, estavam com qualidade inferior à estabelecida pela legislação, conforme verificado na maioria das análises realizadas entre 2012 e 2013. Ou, em outras palavras, foram identificadas alterações na qualidade das águas do rio Santo Antônio e do ribeirão do Mosquito ao longo de seus percursos. Agora, vamos falar sobre as três causas principais de tais alterações.

Primeiro, o lançamento de esgotos pelas sedes urbanas que estão localizadas dentro da bacia, uma vez que as mesmas ainda não possuem sistema de tratamento (ETE – Estação de Tratamento de Esgoto) para os efluentes sanitários gerados pela população. Falando de cada cidade em particular, temos situações diferentes. Coronel Xavier Chaves, apesar de possuir rede coletora de esgoto já implantada em toda a cidade, lança o esgoto sem tratamento diretamente no leito do ribeirão do Mosquito. Em Ritápolis, os bairros Carioca e Dutra lançam esgoto não tratado em afluente da margem direita do córrego da Carioca, afluente do rio Santo Antônio.

Em nossa Resende Costa a situação não é diferente, apesar de grande parte dos esgotos de banheiro ser jogada em fossas negras (o que também não é ambientalmente recomendado), os efluentes de cozinhas, de banhos e de lavagem de roupas são direcionados para os cursos d’água. Dessa forma, os esgotos são lançados sem tratamento no córrego do Tijuco (após a captação da COPASA), nas cabeceiras do córrego do Mosquito (que nasce a leste do bairro Varginha), ambos afluentes do ribeirão do Mosquito, nas cabeceiras do ribeirão do Pinhão (que recebe águas do córrego da Cruz – que drena a parte oeste do bairro Várzea, do Horto Florestal e do córrego Tabatinga – saída para São Tiago) e do riacho dos Pinheiros (que recebe águas do córrego Picada – situado entre os bairros do Canela e Pôr do Sol – e do córrego da Aguada – entre os bairros do Canela e Santo Antônio),  esses localizados na sub-bacia do rio Santo Antônio. Destaca-se que a ETE de Resende Costa está sendo construída após a captação da COPASA, nas extremidades do Bairro Bela Vista, e futuramente receberá todo o efluente (esgoto) a ser tratado.

Segundo, as águas da bacia do rio Santo Antônio possuem regular capacidade de autodepuração da carga orgânica proveniente dos esgotos sanitários. Autodepuração é a capacidade dos cursos d’água se autolimparem, ou seja, estabilizarem naturalmente a carga orgânica (poluição) neles lançada. Isso depende da quantidade e qualidade das águas e da distância entre os lançamentos das cargas orgânicas. Assim, o rio Santo Antônio e o ribeirão do Mosquito conseguem limpar parte do esgoto sem tratamento que é lançado em seus leitos. Cabe aqui um destaque: se existem indústrias na bacia do rio Santo Antônio, o lançamento de efluentes não tratados poderia agravar a qualidade das águas.

Terceiro, as cargas difusas (chamadas assim por não terem um ponto exato de geração e lançamento no curso d’água) provenientes de erosão hídrica, mineração e atividade agropecuária são significativas na bacia do rio Santo Antônio. Ao longo das margens dos cursos d’água, especialmente do leito principal do rio Santo Antônio e do ribeirão do Mosquito, é visível pontos onde os barrancos das margens estão sem cobertura vegetal e, consequentemente, erodidos. Destaca-se que esse tipo de erosão se agrava no período chuvoso, devido ao aumento da vazão do rio. Ressalta-se ainda que, os diversos processos erosivos existentes ao longo da bacia, especialmente as voçorocas, são os mais importantes contribuintes para o aumento do aporte de sedimentos para a calha dos cursos d’água, especialmente na estação chuvosa.

 

As atividades minerárias mais significativas estão próximas ao Povoado do Penedo, na divisa entre os municípios de Resende Costa e Ritápolis, com extração de manganês. Merecem destaque ainda as extrações de areia no leito e margem de vários cursos d’água e as extrações de pedra para construção (ganisses). As áreas abandonadas pela mineração, os chamados passivos ambientais, também devem ser mencionadas entre as causas das cargas difusas, a exemplo de antigas áreas de extração de cassiterita, no Barro Vermelho, localizado entre as cabeceiras dos córregos do Retiro e Barro Vermelho, esse afluente do córrego Rochedo. Com relação às atividades agropecuárias, as práticas extensivas e não preservacionistas contribuem para aumentar o carreamento de sedimentos para os leitos dos corpos d’água, principalmente com a formação de extensas áreas de pastagens degradadas.

 

 Adriano Valério Resende

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