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As consequências da expansão da pecuária bovina na Amazônia

19 de Janeiro de 2022, por Instituto Rio Santo Antônio

Luisa Gabriela de Castro Machado*

Adriano Valério Resende*

 

Uma questão é notória: a floresta amazônica é a maior floresta tropical ainda existente e nela se encontra grande parte da biodiversidade do planeta. Os especialistas são unânimes em afirmar a necessidade de preservá-la, mas parte da sociedade ainda insiste em sua depredação.

Para reafirmar a importância da Amazônia, vamos apresentar algumas informações. Ela abrange aproximadamente 6,9 milhões de km² de área e se alonga por 9 países sul-americanos. No Brasil, é chamada de Amazônia Legal, envolvendo 60% do país (5,2 milhões de km²) e se estende pelos estados do Acre, Amazonas, Amapá, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins.

Além da extensa variedade de fauna e flora, a bacia hidrográfica amazônica abriga a maior rede hídrica do planeta e escoa cerca de 1/5 do volume de água doce do mundo. Inclusive, por meio dos chamados “rios voadores”, ela é responsável pela manutenção do período chuvoso nas regiões Sudeste e Centro-Oeste. No entanto, a floresta já perdeu praticamente 20% de sua cobertura vegetal, o que compromete sua função de reguladora do clima e de maior sequestradora de carbono do planeta.

Nesse sentido, a ampliação das atividades econômicas não sustentáveis tem sido o principal vetor do desmatamento. Destaca-se que, no mês de dezembro de 2021, a mídia divulgou a informação de que a área desmatada na Amazônia foi a maior nos últimos dez anos.

Na região, há significativas atividades de extrativismo mineral e vegetal, boa parte ilegal. Outra atividade relevante e que tem crescido é a pecuária bovina. De acordo com os dados da Pesquisa da Pecuária Municipal, realizada pelo IBGE em 2018, a Amazônia Legal apresentou um crescimento de 22,5% nessa atividade, sendo que a média nacional foi de apenas 4%. Ela detém aproximadamente 40% do rebanho nacional, o que equivale a 89 milhões de cabeças.

Para se ter ideia da grandiosidade da questão aqui discutida, de acordo com o Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), a pecuária bovina é responsável por 65% do desmatamento na região da Amazônia Legal. Com o intuito de ampliar suas áreas, muitos fazendeiros invadem terras, matam ou expulsam os seus ocupantes, em uma luta desleal contra os indígenas, quilombolas e ribeirinhos.

Apesar dos benefícios, as atividades econômicas têm trazido consequências danosas, pois a expansão da fronteira agropecuária contribui para o aumento nas taxas de desmatamento, para a ocupação ilegal de florestas públicas (grilagem) e para a invasão de terras indígenas. E os conflitos pela posse das terras traz à tona um problema social: a ocupação ilegal de terras constitucionalmente reservadas aos índios e às comunidades tradicionais.

Dentre os programas federais, cabe mencionar a implantação, em 2004, do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal – PPCDAm, constituído por uma série de medidas para reduzir de forma contínua o desmatamento e criar um modelo de desenvolvimento sustentável. Entre os anos de 2008 e 2015, o plano obteve êxito significativo, uma vez que as taxas de desmatamento foram sendo gradualmente reduzidas. Todavia, a partir de 2016, os índices voltaram a subir e o programa perdeu força. Infelizmente, em 2020, o Plano foi encerrado.

Ressalta-se que a preservação da floresta amazônica passa, em primeiro lugar, pela superação da ideia de que ela é uma espécie de paraíso, que deve permanecer intocada, servindo apenas para a contemplação. Os moradores locais são cidadãos brasileiros como quaisquer outros e querem, merecem e necessitam das benesses e confortos proporcionados pelo desenvolvimento econômico.

Mas, para tanto, deve ser levada a sério pelos governos e cidadãos a sustentabilidade econômica da região, por meio de atividades que proporcionem a coexistência harmoniosa entre o ser humano e o meio ambiente, como o ecoturismo, o extrativismo sustentável, a agricultura familiar e a indústria cultural. De maneira concomitante, o poder público deve aumentar a fiscalização e a punição quanto àqueles que insistem em realizar intervenções ambientais ilegais. Caso contrário, passa-se a mensagem de que as práticas de infrações ambientais compensam, especialmente do ponto de vista financeiro.

 

*Aluna do Curso Técnico de Meio Ambiente – CEFET/MG

*Professor CEFET/MG

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