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Aumento no uso de agrotóxicos no Brasil

17 de Marco de 2021, por Instituto Rio Santo Antônio

Giovanna dos Santos Leal*

Adriano Valério Resende**

Infelizmente, não faltam evidências de que o uso de agrotóxicos em solo brasileiro é crescente. Pelas informações da UM Contrade (United Nations Commodity Trade Statistics Database), a partir dos anos 2000 o Brasil obteve um acréscimo de 760% nas importações de agroquímicos, o que garantiu ao país o status de maior consumidor mundialdesde 2008. No período de 2007 a 2013, segundo o Greenpeace, a utilização de pesticidas duplicou, ao passo que a área cultivada aumentou apenas 20%. De 2017 em diante, conforme a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), a liberação de agrotóxicos, em território nacional, foi superior a 400 produtos por ano. Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), junto à consultoria Phillips McDougall, só em 2013 o país gastou US$10 bilhões em agrotóxicos.

A história do surgimento dos agroquímicos e do crescimento tão vertiginoso de sua utilização está atrelada às relações capitalistas de produção e à Segunda Guerra Mundial, quando se percebeu que determinadas substâncias criadas em laboratório para fins bélicos eram letais aos insetos. No Brasil, eles foram incorporados no contexto da Revolução Verde, especialmente a partir da década de 70, com a suposta finalidade de erradicar a fome, contando com o apoio financeiro do governo federal, por intermédio de isenção fiscal na instalação de unidades fabris e de promoção de linhas de crédito rural.

O nobre objetivo serviu de máscara ao real propósito da empreitada capitalista, que pretendia transformar a produção de alimentos em lucro para mega empresas. Nessa lógica, os agrotóxicos são responsáveis, no panorama do agronegócio, pela maior parte da receita de empresas como a Monsanto e a Syngenta, reforçando, assim, a ideia de que o benefício financeiro da indústria agroquímica foi sobreposto à segurança alimentar da população.

Hodiernamente, é impossível não estar em contato com esses venenos, seja através da alimentação ou de formas mais diretas, na sua utilização. Logo, ainda que o modelo de agricultura baseado na Revolução Verde tenha ampliado a capacidade de produção, ele gerou impactos socioambientais preocupantes que se estendem da poluição ambiental, perda de biodiversidade e contaminação de trabalhadores até intoxicações crônicas.

Conforme informações da literatura especializada sobre o tema, dos agrotóxicos pulverizados, menos de 10% alcançam seu alvo, sendo que grande parte é levada das folhas das plantas por meio da atividade pluvial ou da irrigação. Devido às suas propriedades bioacumulativas, restos de alguns desses agentes químicos acumulam-se no corpo de aves, peixes e toda a sorte de animais. Por isso, pesquisadores, que realizam testes em animais, julgam quase impossível encontrar espécimes que não estejam contaminadas.

Mesmo após provas científicas dos danos à saúde do ser humano e da natureza, os agrotóxicos banidos em outros países permanecem sendo comercializados no Brasil. A exposição ao Glifosato, por exemplo, utilizado intensamente no país, pode causar convulsões, vômitos, danos ao fígado, doenças de pele, câncer, entre vários outros problemas.

Na contramão do que acontece no Brasil, o Butão, pequeno país localizado na Ásia, aderiu a um novo indicador social denominado Felicidade Interna Bruta (FIB). Esse índice tem como princípios a conservação do ambiente natural, a sustentabilidade, a boa governança e o fomento aos valores culturais. A fim de cumprir com essas premissas, a nação deseja permitir apenas agricultura orgânica, na qual os agroquímicos são terminantemente proibidos.

Por fim, na tentativa de fugir de sua responsabilidade e de continuar obtendo lucros massivos às custas de prejuízos à natureza e à saúde do corpo social, a bilionária indústria do agronegócio e a mídia procuram culpabilizar os trabalhadores rurais pelos casos de contaminação, afirmando que o maior problema dos agrotóxicos consiste no seu uso inadequado por parte dos pequenos agricultores. À vista disso, é necessário que movimentos como a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida sejam apoiados e os movimentos sociais de base sejam fortalecidos para que se possa romper os abusos de um modelo exploratório e insustentável de produção agrícola.

 

*Aluna do Curso Técnico de Meio Ambiente – CEFET/MG

**Professor - CEFET/MG

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