Resende Costa é uma cidade privilegiada no que se refere à coleta e tratamento do esgoto sanitário. O sistema é operado pela Copasa e atende cerca de 60% da cidade. Apesar dos inegáveis benefícios socioambientais, sua operação gera alguns percalços, como a questão dos odores emitidos no processo.
Segundo dados do documento “Panorama de abastecimento de água e esgotamento sanitário”, elaborado pela SEMAD (Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável) em 2021, Minas possuía 87,64% da população urbana atendida com rede coletora e 53,72% com tratamento de esgoto. Dos 853 municípios mineiros, apenas 195 tinham tratamento de esgoto que atendia no mínimo 50% da população urbana. Dentre as cidades com menos de 20 mil habitantes, como é o caso de Resende Costa, a situação era pior. Dos 702 municípios, apenas 134 estavam contemplados. Destaca-se que a nossa cidade não está incluída nesse grupo.
A Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) de Resende Costa, construída no final do bairro Bela Vista, entrou em operação em março de 2017 e tem uma capacidade para tratar 19,6 l/s de esgoto. O sistema de tratamento é constituído por um reator anaeróbio (Reator Anaeróbio de Fluxo Ascende ou UASB), um filtro percolante (sistema aeróbio utilizado como pós-tratamento depois do reator) e um decantador. Além da ETE, há as redes interceptoras e coletoras e três elevatórias (localizadas na ETE e nos bairros Nova Resende e Nossa Senhora da Penha). Com a construção das três elevatórias restantes e das respectivas redes, obras já licitadas em junho, nossa cidade vai entrar no seleto grupo de sedes urbanas que têm tratamento para a maioria da população. A pretensão é a de tratar o esgoto gerado por cerca de 90% dos imóveis da cidade.
A operação da ETE de Resende Costa enfrenta alguns desafios, que são comuns em todo tratamento do esgoto. Primeiro, a rede coletora não deve receber água pluvial, pois o tratamento previsto não suporta a vazão na época das chuvas. Conforme a Copasa, faz-se um monitoramento constante da rede para dirimir a questão. Um problema de solução mais delicada é a vazão do córrego do Tijuco, receptor dos efluentes tratados. Na época da seca, a quantidade de água do córrego diminui bastante, o que prejudica a diluição do efluente, uma vez que o tratamento não retira 100% da carga orgânica. Outra questão é que na ETE não há tratamento específico para retirada de resíduos dos produtos de limpeza, especialmente o detergente. Deve-se mencionar ainda que bovinos não bebem água diretamente no córrego, mesmo estando a alguns quilômetros à jusante do ponto de lançamento do esgoto tratado.
Um último desafio é a questão do odor emitido no processo de tratamento. Os principais gases gerados são o metano (CH4), que pode ser utilizado como combustível, o biogás e o sulfeto de hidrogênio ou gás sulfídrico (H2S). Em grande quantidade, eles são tóxicos e inflamáveis; por isso, devem ser queimados dentro da própria ETE. Destaca-se que o gás sulfídrico é o responsável pelo cheiro desagradável exalado nos processos de decomposição de material orgânico.
O mau cheiro pode acometer também as redes interceptoras e, consequentemente, chegar até as casas. Esse foi o caso do esgoto bombeado da elevatória instalada no bairro Nova Resende. Como o esgoto permanece um tempo significativo dentro da elevatória (maior que 30 minutos) e o recalque é lento (devido ao diâmetro dos tubos e da pequena quantidade de esgoto transportado), dá-se, naturalmente, início ao processo de decomposição e de liberação de gases. No caso, quando o esgoto atinge a área onde se localiza o terminal rodoviário da cidade, inicia-se um deslocamento rápido por gravidade a caminho da ETE. E nesse percurso declivoso os gases iam para as redes coletoras laterais e para as casas provocando um mau cheiro horroroso.
A solução encontrada pela Copasa foi a construção de uma rede interceptora auxiliar para receber somente o esgoto da elevatória e, antes do encontro das duas redes no final da rua José Bosco de Resende, a instalação de um filtro para retirada dos gases. Esse consiste em uma manilha de 60 cm acoplada ao poço de visita, na qual se alojou uma bombona que foi preenchida com carvão vegetal, limalha de aço e serragem. Trata-se de um sistema simples, mas que se mostrou eficiente na remoção dos odores.