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Desenvolvimento sustentável e sustentabilidade: uma reflexão

16 de Fevereiro de 2018, por Instituto Rio Santo Antônio

Os conceitos de desenvolvimento sustentável e de sustentabilidade foram construídos ao longo do século XX em um processo histórico contínuo e complexo. Após décadas da apresentação de modelos e de teorias sustentáveis e das indicativas de intervenções propostas principalmente pelas Conferências Mundiais sobre o Meio Ambiente realizadas pela ONU, cabe perguntarmos sobre os reais resultados alcançados.

Historicamente, não há dúvidas de que as transformações socioeconômicas advindas a partir das Revoluções Industriais transformaram substancialmente o modo de produzir, de consumir e, portanto, de explorar os recursos naturais. No século XX, a humanidade ficou marcada pelos efeitos do rápido crescimento econômico e, concomitantemente, pelos consequentes danos à natureza. Por outro lado, esse foi o século no qual a questão ambiental se abriu para debates.

Assim, as alterações ambientais, motivadas por essa exploração crescente dos recursos naturais e pelo aumento da degradação do meio ambiente, juntamente com questões sociais, têm levado a humanidade a buscar novos caminhos para o seu futuro e, em especial, a buscar um modelo de produção e de consumo mais sustentável. Dentro dessa ótica, surge o princípio do desenvolvimento sustentável, oficialmente estabelecido na ECO-92, segundo o qual o desenvolvimento econômico deve ser feito com base na exploração racional dos recursos naturais. Seus três pilares básicos são: crescimento econômico, preservação ambiental e justiça social.

Nessa perspectiva, faz-se o questionamento: “É possível um desenvolvimento sustentável que integre o social, ambiental, econômico nesse modelo econômico vigente?” (DEBUS; RIBEIRO FILHO; SILVA, 2015). Certamente, o pilar mais forte desse tripé é o econômico. O sistema capitalista tem se mostrado extremamente eficiente nesse quesito. O crescimento da produção econômica mundial, fruto da internacionalização econômica e das constantes inovações tecnológicas, é inquestionável, embora não seja equitativo entre os países. Já a preservação ambiental é um fator limitante e, ao que nos parece, inversamente proporcional ao primeiro pilar.

Os acordos, as convenções internacionais e as legislações ambientais de vários países têm se mostrado, em certo sentido, bastante contundentes. No caso brasileiro, o aparato legal é expressivo e os órgãos ambientais são atuantes, mitigando parte dos impactos causados ao meio ambiente. No entanto, está evidente que as questões econômicas e políticas ainda são dominantes em relação às variáveis socioambientais. A terceira dimensão, a social, é a mais frágil e de difícil implementação. A desigualdade e a exclusão social são inerentes ao sistema capitalista, questioná-las significa questionar o próprio sistema. Nessa dimensão parece estar a chave para a transformação: não se construirá um novo paradigma, que seja socialmente justo e ambientalmente correto, sem transformação no modo de pensar e de agir da sociedade.

Ressalta-se que o desenvolvimento sustentável relaciona-se com outro conceito, o de sustentabilidade. Esse último está ancorado em cinco dimensões: ecológica, econômica, social, espacial e cultural (SACHS, 1993). Assim, a sustentabilidade está relacionada com um novo modelo na organização da sociedade e da produção, o que tem sido alvo de extensos debates. Isto é, a sustentabilidade “[...] deve estar presente nas diversas esferas da sociedade, indo desde a preservação de recursos naturais, passando pela defesa da democracia e pela garantia da própria vida humana.” (OLIVEIRA, 2007).

Para alguns autores, o desenvolvimento sustentável é uma utopia para o século XXI. Têm-se várias vertentes e interpretações, mas poucos exemplos efetivos de como implementá-lo. Assim também é a sustentabilidade, que nos padrões da sociedade urbano-industrial atual tem se mostrado inatingível. E uma das maiores expectativas para o século XXI é descobrir os caminhos para sua implantação. Por fim, o desafio está posto: tornar realidade o sonho de uma sociedade sustentável. Ou melhor, precisamos sair do discurso e da filosofia para chegarmos à prática. Mas, será que estamos realmente no caminho certo?

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