Fernando Chaves
Diversas empresas souberam lucrar com a conferência Rio + 20 sobre o desenvolvimento sustentável. A grande mídia brasileira, como de costume, pautou o evento com seu discurso bom-mocista e contraditório. Grupos empresariais como Natura e Panasonic enxergaram na conferência uma grande oportunidade para impulsionar seu eco-marketing. Associar a imagem empresarial a posturas verdes tem sido uma rentável estratégia de marketing para vários segmentos do mercado. Enquanto os ambientalistas mais aguerridos apontam para a incompatibilidade entre os atuais padrões de consumo e a noção de sustentabilidade ambiental, diversos segmentos do mercado utilizam o marketing verde para se posicionarem melhor frente ao consumidor e aumentar suas vendas. Lamentavelmente, em boa parte dos casos, a postura verde não vai muito além do marketing.
Além de um bom negócio para muita gente esperta, a conferência da ONU não produziu grandes coisas. A questão econômica pautou mais uma vez a discussão ambiental. A crise financeira dos países desenvolvidos, principalmente os europeus, foi um dos entraves que impediram a criação de um fundo verde para financiar internacionalmente o desenvolvimento sustentável. Países em desenvolvimento, como o Brasil, propuseram o estabelecimento do fundo internacional que alcançaria 100 bilhões de dólares em 2018, mas a proposta foi rejeitada pelos países ricos. Ainda esperamos pelo dia em que a questão ambiental irá pautar as discussões econômicas do G-20. Até o momento, o que se vê são questões financeiras pautando as conferências ambientais. Enquanto isso, as possibilidades de uma guinada sustentável para a economia mundial mínguam aceleradamente, como apontam a comunidade científica internacional e os movimentos sociais.
Cento e cinco academias científicas de várias partes do mundo assinaram um documento encaminhado aos chefes de estado que participavam da Rio + 20. O texto aponta o crescimento demográfico e o consumismo como dois dos maiores desafios do mundo no caminho para a sustentabilidade. “Os padrões atuais de consumo, especialmente em países ricos, estão corroendo o capital natural em taxas que comprometem severamente os interesses das futuras gerações”, alerta o documento. Infelizmente, houve uma distância considerável entre o posicionamento dos líderes políticos que participaram da conferência e as preocupações da comunidade científica internacional.
Não houve consenso sobre um dos principais temas da Rio + 20: a chamada Economia Verde, que é uma proposta de reconfiguração econômica do mundo, visando ao melhoramento das relações do homem com a natureza e à sustentabilidade no uso dos recursos naturais. Esperava-se o estabelecimento de critérios e metas objetivas para sua gradual implementação, o que não aconteceu. Se por um lado, os países ricos não se mostram dispostos a transformar seu padrão de consumo, por outro, as nações em desenvolvimento receiam que uma reconfiguração da economia internacional traga restrições aos seus produtos tradicionais, agravando sua situação econômica, visto que a implementação de uma cadeia produtiva verde demanda investimentos significativos. Um fundo internacional para financiamento de tecnologias sustentáveis pelo mundo, aliado a mecanismos de transferência desse tipo de tecnologia dos países desenvolvidos para os países em desenvolvimento são fundamentais para que a chamada Economia Verde não se converta em um arranjo geopolítico excludente em relação às economias nacionais mais fragilizadas.
Se a comunidade científica não se sentiu representada na cúpula das nações, a coisa não foi diferente com relação à sociedade civil organizada. Os movimentos sociais reunidos na Cúpula dos Povos, evento paralelo à Rio + 20, manifestaram de diversas maneiras sua frustração com a conferência da ONU. As entidades civis se sentiram excluídas do debate e afirmam não compactuar com o documento assinado pelos 191 países participantes. Solicitaram, inclusive, que fosse retirado do texto final assinado pelas nações o trecho "com total participação da sociedade civil". Ironicamente, o trecho foi mantido pela ONU.
O último a sair que apague as luzes.