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El niño e La niña e a influência na chuva da região Sudeste

13 de Maio de 2020, por Instituto Rio Santo Antônio

Fenômeno conhecido como ressurgência (fonte: httpsyoutu.be_SaNsxrkieI)

Annalyce Amorim Fernandes Gomes1

Adriano Valério Resende2

Clima é entendido como a sucessão de diferentes tempos atmosféricos em uma região, monitorados ao longo de 30 anos. Tempo é o estado momentâneo das condições atmosféricas. Assim, quando falamos que o dia está quente ou chuvoso, estamos nos referindo ao tempo e não propriamente ao clima daquele local.

O clima de uma região é definido por vários fatores, dentre eles: latitude, altitude, continentalidade, maritimidade, vegetação, solos, disposição do relevo, correntes marítimas e massas de ar. Alguns acontecimentos naturais interferem significativamente no clima e são classificados como anomalias climáticas. Por exemplo, tem-se a ocorrência de fenômenos atmosférico-oceânicos capazes de interferir no clima do mundo e do Brasil, como o El niño e a La niña.

De origem espanhola, a palavra El Niño refere-se à presença de águas quentes que todos os anos aparecem na costa norte do Peru, sempre na época do Natal. Daí os pescadores peruanos e equatorianos chamaram esse fenômeno de El Niño, em referência ao Niño Jesus (Menino Jesus). Já a La niña (a menina) teria efeitos contrários.

Vejamos como esses fenômenos acontecem. Em condições normais, os ventos alísios (ventos que surgem devido à rotação da Terra e que sopram de leste para oeste a uma velocidade média de 15m/s) transportam a água, aquecida pelo sol, pelo Oceano Pacífico Equatorial, indo do litoral do Peru e do Chile para oeste, isto é, sentido à Oceania (Austrália e Indonésia). Essa massa de água aquecida fica “empilhada” nessa região, onde ocorre a transferência de calor do oceano para o ar atmosférico. Consequentemente, esse ar torna-se mais leve e úmido, provocando sua condensação e precipitação (chuva). Curiosamente, o nível das águas do oceano Pacífico nas proximidades da Austrália é cerca de 20cm superior ao nível nas proximidades oeste da América do Sul.

Na costa americana, também em condições normais, a água fria mais profunda do oceano é erguida para a superfície, ocorrendo o fenômeno conhecido como ressurgência. Como as águas oceânicas mais profundas e frias são ricas em nutrientes, elas estimulam o desenvolvimento de fitoplanctons, que servem de alimento aos pequenos organismos e peixes, aumentando assim a fauna aquática. Esse fenômeno é responsável pelo aumento da produtividade local de pescado.

Com a ocorrência do El niño - que é o aquecimento anormal das águas superficiais no litoral oeste da América do Sul devido ao enfraquecimento dos ventos alísios, o que ocorre em intervalos de 2 a 7 anos - essa dinâmica é alterada. As camadas de águas superficiais quentes do Pacífico não conseguem se deslocar sentido Austrália e Indonésia. Como resultado, as chuvas acontecem na costa do Peru e do Chile (o que não é comum) e a ressurgência é enfraquecida. No Brasil, os efeitos são aumento das chuvas na região Sul e parte do Sudeste e seca extrema no Nordeste (Sertão) e no extremo Norte. As regiões Sudeste e Centro-Oeste sofrem também uma elevação na temperatura durante o inverno.

Na La niña, que tem efeitos contrários ao El niño, os ventos alísios se fortalecem, intensificando o transporte de água superficial quente em direção à Oceania. As águas do oeste da América do Sul, que já são naturalmente menos quentes devido à existência de uma corrente marítima fria (a corrente de Humboldt), se tornam ainda mais frias. Logo, a ressurgência aumenta na região. O fenômeno é responsável pelo aumento de precipitação e vazões de rios nas regiões Norte e Nordeste. No Sul ocorrem severas secas e aumento das temperaturas. O Centro-Oeste e o Sudeste são áreas com baixa previsibilidade sobre os efeitos, podendo ocorrer secas, inundações ou tempestades.

Resumidamente, o El niño acontece devido ao aquecimento anormal das águas superficiais do Oceano Pacífico Equatorial nas proximidades do litoral do Peru e do Chile e a La niña é o seu resfriamento. Ambos os eventos são responsáveis por anomalias climáticas em nível mundial e, no Brasil, de tempos em tempos, alteram os padrões atmosféricos, como o regime de chuvas e de temperaturas. Isso mexe com a rotina das pessoas, uma vez que provocam enchentes, secas ou calor exagerado.

1 - Aluna do Curso Técnico de Meio Ambiente – CEFET/MG.

2 - Professor do CEFET/MG.

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