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Minas, mineração, barragens

13 de Janeiro de 2016, por Instituto Rio Santo Antônio

Minas Gerais lembra mineração até no próprio nome. Tudo começou entre 1693 e 1695, quando os bandeirantes paulistas encontraram ouro na Serra da Mantiqueira. Depois foi na região do rio das Velhas (Mariana, Sabará e Ouro Preto). Já no início do século XVIII, no norte, Serra do Espinhaço (Serro e Diamantina) e na direção de Paracatu. Nas imediações do rio das Mortes o ouro foi encontrado em 1702.

Visando a controlar as disputas pelas áreas mineradoras, em 1709, Portugal criou duas Capitanias em substituição à de São Vicente (São Paulo e Minas do Ouro e Rio de Janeiro) e a primeira vila para ser a capital: Ribeirão do Carmo (hoje Mariana). Depois surgiram Vila Rica (Ouro Preto) e Vila Real do Sabará. Em 1714 instalaram-se as Vilas de São João del-Rei, a quarta de Minas e sede da recém-criada Comarca do Rio das Mortes, e de São José del Rei (Tiradentes). Em 1720, São Paulo e Minas do Ouro foram desmembradas, surgindo a Capitania Real de Minas Gerais, com capital em Vila Rica. Com o advento da República, em 1889, as Capitanias passaram a ser denominadas de Estados, ficando apenas Minas Gerais.

Em alguns locais de extração de ouro foram encontrados depósitos de minério de ferro, o que transformaria a realidade econômica e minerária de Minas. Os primeiros altos-fornos de ferro-gusa (primeiro produto da redução do minério de ferro) começaram a funcionar em 1814. Ao longo do século XX, a mineração de ferro e a siderurgia alavancaram a economia mineira. O Quadrilátero Ferrífero se transformou na principal área de exploração. A Região Metropolitana de Belo Horizonte é um exemplo dos benefícios econômicos dessa atividade.

Nossa sociedade é dependente do ferro e consequentemente do aço. Vários produtos que utilizamos todos os dias contêm aço: carros, eletrodomésticos, máquinas etc. Para se ter uma ideia da magnitude, o Brasil possui a 5ª maior reserva do mundo, sendo o 2º produtor. O ferro é o minério que mais gera recursos na exportação. Minas Gerais possui as maiores reservas e é o principal produtor.

Por outro lado, em relação às questões socioeconômicas e ambientais, as críticas são enormes. Citam-se algumas: impacto visual em nossas serras; alterações na qualidade das águas; diminuição da vazão de nascentes nas áreas próximas às cavas; desmatamento; pressão social (aumento dos gastos com saúde, educação, segurança pública etc.) nas cidades que recentemente receberam empreendimentos minerários; baixa arrecadação de impostos (CFEM); exportação de minério bruto a preço muito baixo; construção de enormes barragens para contenção de rejeitos. Eis aí nossa questão.

O ferro não é encontrado puro na natureza. Junto a ele estão vários minerais que devem ser retirados, as chamadas impurezas. O teor de ferro no minério em Minas é alto, chega a atingir 65%. O restante deve ser retirado e vira rejeito, que é o material descartado resultante do processo de beneficiamento e geralmente é disposto em barragens. Nesse processo, grandes quantidades de água são utilizadas para lavar e retirar as impurezas, formando uma mistura sólido/água, em forma de polpa (lama e rejeito de flotação).

Recentemente acompanhamos o rompimento da barragem de Fundão da mineradora Samarco em Mariana. Infelizmente não foi o primeiro caso e não será o último. Existem várias dessas em Minas. Barragens são construídas em etapas e sofrem vários alteamentos ao longo do tempo para nelas caberem mais rejeitos. Esse foi o caso de Mariana, uma barragem aumentada várias vezes e que não aguentou o peso da lama. Os impactos ambientais e principalmente sociais de um rompimento são incalculáveis.

 

É sabido que os minérios com altos teores de ferro estão se tornando de difícil exploração no Quadrilátero. Nos últimos anos, a expansão da mineração para praticamente toda Minas foi um fato questionável, uma vez que são minérios com baixos teores de ferro. Consequentemente gera-se mais rejeito e a necessidade de barragens maiores. Nossa região faz parte dessa história. Uma empresa visando a minerar o ferro está se instalando nas proximidades de Jacarandira, sentido Desterro de Entre Rios. Fica uma pergunta: qual será o seu futuro socioeconômico e ambiental?

 

Adriano Valério de Resende

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