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O terceiro setor e as ONGs ambientais

23 de Maio de 2012, por Instituto Rio Santo Antônio

Fernando Chaves


As ONGs (organizações não governamentais) têm ocupado um espaço crescente na sociedade brasileira já há cerca de duas décadas.  O terceiro setor, isto é, a sociedade civil organizada, se diferencia em relação ao primeiro setor (estado) e ao segundo setor (mercado) e atua em múltiplos campos: cultura, meio ambiente, defesa de minorias, reforma agrária, combate à pobreza etc. A sigla ONG é uma denominação genérica das entidades do terceiro setor, e abarca todo tipo de associação sem fins lucrativos e com finalidade coletiva. As ONGs atuam nas lacunas deixadas pelo setor público (união, estados, municípios) e pelo setor privado (empresas) e trabalham com a ideia de auxílio na resolução de problemas sociais e na fiscalização dos setores público e empresarial.
 
O avanço das ONGs reflete a debilidade dos nossos sistemas político e econômico, além da complexidade da sociedade em que vivemos. O estado não consegue ser onipresente. Não dá conta de representar a imensa variedade de classes, anseios e minorias. E, em tempos de internet, não pode mais calar os debates e forjar identidades. Por seu turno, a economia de mercado não consegue mais emplacar grandes ilusões. A destruição ambiental que nosso sistema econômico produz é uma das molas propulsoras para a emergência do ambientalismo, um dos campos sociais mais ocupados pelas ONGs.

Recentemente, um escândalo de corrupção envolvendo ONGs conveniadas ao Ministério dos Esportes foi intensamente noticiado pela mídia. O problema é que a cobertura noticiosa tradicional muitas vezes ocorre sem a devida contextualização, gerando interpretações reducionistas e preconceituosas.  Assim, a cobertura do escândalo contribuiu para ofuscar injustamente o papel importante que a maioria das entidades civis realiza no Brasil.

Não se trata de defender romanticamente a epopeia das ONGs. O terceiro setor não emerge para salvar o mundo dos reveses da economia de mercado, ou da ineficiência e corrupção estatais. Ele é fruto de um cenário de demandas sociais e políticas e convive com contradições e distorções próprias. Assim como no mundo político e empresarial existem boas e más condutas, também no terceiro setor existem comportamentos heterogêneos.

Há grande desinformação, descrença, desconfiança e indiferença em relação às ONGs, especialmente as ambientais. O que são elas, afinal de contas? O que podem as ONGs ambientais?  Quais suas limitações, suas potencialidades? Como funcionam? Se não funcionam, por quê? Qual o verdadeiro papel de uma ONG ambiental numa comunidade? Tenho a certeza empírica de que a maioria das pessoas têm dificuldades para responder a essas questões, talvez até para formulá-las. Predominam as opiniões superficiais, muitas vezes injustas e preconceituosas.É comum, por exemplo, grupos sociais enxergarem as ONGs ambientais com desdém, como se elas se dedicassem a questões de menor importância, frente a assuntos como a produção econômica ou a geração de empregos. Muitos não conseguem separar das ONGs a pecha do interesse político. Em alguns casos, cobra-se das entidades civis soluções imediatas para questões em que o próprio poder público esteve omisso por décadas.

 Ademais, ao avaliar o trabalho das ONGs, desconsidera-se frequentemente o baixo índice de participação popular da cultura política brasileira, o que torna a mobilização de militantes um grande desafio para as entidades do terceiro setor. A grande missão das ONGs talvez seja esta: mobilizar uma sociedade historicamente pouco participativa, e retirá-la da postura de eterna pedinte em relação ao poder público.

Para além de suas limitações reais e dos estereótipos a elas atribuídos, as ONGs ambientais se mostram viáveis e necessárias em diversos níveis, como na denúncia e revelação de problemas ambientais, na educação ambiental, no auxílio técnico a populações que lidam com o meio ambiente, na fiscalização da atuação empresarial e estatal, na implementação de projetos ambientais visando à disseminação de atitudes sustentáveis (efeito de exemplo), no apoio e assessoria ao poder público, no estímulo à produção de conhecimento ambiental técnico e acadêmico, na implementação direta de projetos de recuperação ambiental e no resgate de identidades culturais ligadas ao manejo sustentável do ambiente.
 
 

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