Adriano Valério Resende
Quem nunca ouviu falar que Resende Costa está na região dos Campos das Vertentes? Então, a pergunta: onde está localizada a Serra das Vertentes que empresta o nome à nossa região? Muitos de nossos conterrâneos veem todos os dias a serra ou até mesmo moram nela. Do mirante de ambas as lajes podemos ver a Serra das Vertentes despontando no horizonte ao longo da estrada para o Ribeirão, atrás do bairro Nova Brasília ou sentido Barracão/Floresta. Mais ainda, nós resende-costenses vemos todos os dias o Sol nascer por detrás da Serra das Vertentes.
Com relação ao relevo, o município está localizado num cinturão orogenético conhecido como Planalto e Serras do Atlântico Leste-Sudeste e no domínio morfoclimático dos “Mares de Morros”, segundo o geógrafo Aziz AbSaber. Das terras do município, 60% são onduladas e 20% montanhosas. Isso justifica porque nossa região está sujeita a fortes processos erosivos e a movimentos de massa (deslizamentos de terra). Esse Planaltoé regionalmente subdivido em várias serras: Serra da Galga na divisa com São Tiago e Passa Tempo, Serra do Corisco na divisa com Desterro, Serra do Florentino ou de São Miguel na divisa com Ritápolis, Serra da Cebola nas proximidades do Cajuru e a famosa Serra das Vertentes.
A Serra das Vertentes nasce em Resende Costa, a uma altitude de 1170 metros (na Matriz é 1140 metros), nas imediações do povoado do Ribeirão de Santo Antônio. Do alto da estrada, no entroncamento que desce para o povoado, a Serra das Vertentes fica nítida ao fundo, uma montanha recoberta por floresta. Vários cursos d´água brotam da serra: a oeste, as nascentes do Ribeirão de Cima; a leste, as do Ribeirão dos Paulas, que passa dentro do povoado do Curralinho dos Paulas e ao norte, as do córrego do Estaleiro (afluente do córrego da Cachoeira, que deságua no córrego do Potreiro e depois encontra com o córrego do Cajuru, na divisa com Desterro de Entre Rios, dando origem ao tão conhecido rio Pará).
Dessa história vem a justificativa para o nome da serra e da mesorregião: Vertentes. Entendendo melhor, em termos geográficos, vertente é a superfície topográfica compreendida entre o talvegue (a parte mais baixa) e a crista (parte mais alta, que geralmente é um divisor de água, ou seja, separam nascentes) do relevo. Assim, a Serra das Vertentes é uma cumeeira (um conjunto de cristas alinhadas) que corta o centro-oeste do município e de onde brotam vários cursos d’água: as nascentes dos córregos do Tijuco (que é o principal manancial de abastecimento da cidade, o outro é o ribeirão Pinhão), das Lavras, Quilombo, Barracão e Floresta (vertente oeste, afluentes do rio Santo Antônio); e córregos Gentil, Ponte Grande, do Andrade, Samambaia (vertente leste, afluentes do ribeirão dos Paulas). A Serra das Vertentes ainda preserva a maior parte da vegetação florestal nativa no município, significativos remanescentes de espécies da floresta tropical (Mata Atlântica). A partir da divisa com Resende Costa, a serra segue sentido das cidades de Lagoa Dourada (a cidade está no sopé da serra), município de Casa Grande e termina ao sul da cidade de Cristiano Otoni, onde se encontra com o início da Serra do Espinhaço nas imediações da BR-040.
Curiosamente, em Resende Costa a serra é o divisor de águas entre as bacias do rio Pará; do rio Paraopeba, que recebe as águas do ribeirão dos Paulas e do rio Santo Antônio (afluente do rio das Mortes), que se forma no encontro dos ribeirões de Cima e de Baixo. Ainda mais um detalhe, os dois primeiros rios são afluentes do São Francisco e o terceiro do rio Grande, duas importantes bacias nacionais que banham Minas Gerais. Localizando melhor, do Alto do Jacarandá, além da bela visão da cidade, principalmente à noite, tem-se a divisa natural entre as duas bacias: rio São Francisco, sentido Curralinho e rio Grande, sentido Resende Costa. Mais interessante ainda é saber que as águas do ribeirão dos Paulas vão desaguar, após passar por várias hidrelétricas, no Nordeste do Brasil, na divisa entre Alagoas e Sergipe, após cortar Bahia e Pernambuco, e as águas do córrego do Tijuco ajudarão a formar o rio Paraná, que deságua no oceano, na divisa entre Uruguai e Argentina.