“Quem abandona suas origens, entra sem norte no porvir. Caminhante sem farol na noite escura, assim é o povo quando levado apenas pelo interesse imediato. De fato, não mais poderá ser chamado autenticamente de povo. Formará um imenso agregado humano, deambulando sem rumo. Despencará para a condição de massa. Seus integrantes serão apenas átomos perdidos e isolados no turbilhão estonteante da civilização contemporânea.”(Péricles Capanema Ferreira e Melo)
Patrimônio Cultural é tudo aquilo que conta a história de um povo, aquilo que mantém sua identidade e que o diferencia de outros grupos humanos. O patrimônio cultural ajuda a preservar a memória de uma comunidade e permite que os indivíduos sustentem vínculos de pertencimento com um lugar, com uma tradição, com uma sociedade.
No que se refere aos indivíduos que compõem uma comunidade, a preservação do patrimônio cultural lhes oferece um lugar na história, um senso de participação. Preservar a memória de um povo é investir na cidadania, no sentimento de coletividade, no reconhecimento de cada sujeito como cidadão e agente de uma história maior. Do ponto de vista da comunidade, perder sua identidade cultural e patrimonial resulta na sua indistinção. Um povo sem identidade e memória elimina sua capacidade de diferenciar-se em meio à massa globalizada que caracteriza grande parte da humanidade em nossos dias.
A perda da identidade de um povo, a extinção de sua memória histórica e a destruição de seu patrimônio cultural são fatos que podem trazer consequências bem palpáveis. Dentre elas, destacamos uma: a inviabilidade de se sustentar o moderno e rentável empreendimento chamado turismo. Quem visitará uma cidade sem características próprias? Quem se interessará em conhecer um local que não consegue sequer contar a sua própria história? Como atrair turistas para um lugar que perdeu seus traços distintivos, que apagou seus aspectos mais autênticos e diferenciadores?
Em Resende costa, está em andamento o importante processo de tombamento do Núcleo Histórico de nossa cidade, coordenado pelo Conselho Municipal de Patrimônio. Esse tombamento é uma forma de garantir, por meios legais, a preservação das características paisagísticas e arquitetônicas que distinguem nossa comunidade, mais precisamente o Centro Histórico, local onde teve início o povoamento do antigo Arraial da Laje, marco fundador do nosso município.
A imagem de Resende Costa que você contempla quando está chegando à nossa cidade pelo asfalto, na altura do KM 2, se constitui como um exemplo de nosso patrimônio cultural e paisagístico. A curva típica do nosso relevo e a imagem da Igreja Matriz fincada no ponto mais alto de Resende Costa compõem um forte traço de identidade da nossa Terra. Prova disso é que, há muitos anos, já circulam adesivos e outras mídias visuais que divulgam essa nossa característica: uma montanha e uma igrejinha! Você, com certeza, já viu essa nossa marca estampada em algum lugar. Sua ampla disseminação já demonstrou que o resende-costense se reconhece espontaneamente nessa imagem! Essa silhueta da cidade é apenas um dos traços que o tombamento do Núcleo Histórico de Resende Costa pretende preservar.
Não podemos entender nossa cidade como um simples ajuntamento de casas e prédios. Se Resende Costa hoje atrai um fluxo considerável de turistas, é porque a cidade possui uma cultura própria, capaz de despertar o interesse dos visitantes. Dentre nossos atrativos, podemos citar os saberes do artesanato, nossa cultura religiosa (Semana Santa, Festa do Rosário, dentre outras), nosso passado de participação na Inconfidência Mineira, nossa cultura de letras (temos muitos escritores, historiadores, poetas) e é claro: a mineiridade de nosso conjunto paisagístico - aconchegante e típico do interior. Se transformarmos radicalmente o nosso Centro Histórico, com a construção desordenada e verticalizada de prédios modernos, iremos extirpar o que resta de patrimônio arquitetônico e paisagístico em Resende Costa e, junto a isso, poderemos estar matando a galinha dos ovos de ouro e enterrando, para sempre, nosso potencial para um turismo sustentável.
Não é apenas o tamanho de nossa cidade e de nossa população que nos distingue das capitais e dos grandes centros. Se somos diferentes das metrópoles, esse fato deve-se à nossa cultura de interior, à baixa densidade de nossa ocupação urbana, à verticalização moderada de nossas construções, à figura imponente da Matriz, fincada no ponto mais alto da urbe e ao espaço arejado de nossas praças centrais e da nossa famosa e querida laje de cima, parte preciosa do Núcleo Histórico. Esse conjunto de características faz toda a diferença na preservação de nossa atmosfera interiorana, fundamental para a sobrevivência e expansão do nosso turismo no longo prazo.
O tombamento do núcleo histórico de Resende Costa está sendo debatido de forma democrática. Esse debate acolhe todos os cidadãos interessados, além do Conselho Municipal de Patrimônio e dos diversos entes e agentes públicos. Associações que possuem representatividade no setor cultural, como a Amirco e o IRIS, apoiam a iniciativa. Venha participar das nossas reuniões e ajudar na defesa de nossa identidade cultural e urbana.