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Queimadas: ontem e hoje

16 de Setembro de 2016, por Instituto Rio Santo Antônio

O homem utiliza o fogo desde há alguns milhares de anos, essa foi a maior conquista da Pré-História. O seu controle foi uma mudança fabulosa nos hábitos dos primeiros seres humanos: podiam gerar calor e luz, cozinhar alimentos e afastar predadores noturnos. Foi realmente uma revolução. Com o domínio do fogo, a queima de áreas também passou a ser uma prática frequente.

Historicamente, no Brasil, têm-se relatos de tal prática pelos indígenas, desde antes da chegada dos portugueses. A agricultura praticada pelos índios era chamada de coivara. Trata-se de uma técnica de cultivo muito simples. Primeiro, derrubava-se a mata nativa, queimava-se a vegetação e, logo depois, o plantio era feito sobre as cinzas. Como não havia adubação química, como temos hoje, o solo se esgotava em poucos anos, havendo necessidade de novo desmatamento. Essa prática também foi utilizada pelas comunidades quilombolas e pelos pequenos agricultores de subsistência espelhados pelo litoral e pelo interior do Brasil colonial. Era comum até mesmo nas plantações comerciais, como a cana-de-açúcar no Nordeste e o café no Vale do Paraíba no RJ, esse já no século XIX.

Fato curioso é que a cinza pode ser considerada um adubo natural, desde que seja incorporada ao solo, pois contém, em pequena quantidade, magnésio, potássio, fósforo e cálcio. Para se ter uma ideia, o adubo químico é geralmente composto por NPK: nitrogênio, fósforo e potássio. Um detalhe é que a cinza ajuda a reduzir a acidez do solo. A grande dificuldade é que as cinzas são facilmente removidas pelo vento ou pela água da chuva ou da irrigação. Se a enxurrada levar esse material até um curso d’água, tem-se aí o problema da poluição aquática, o que contribui para a eutrofização de rios e represas. Mas, o que efetivamente acontece após as queimadas é a perda de vários nutrientes, além da morte dos micro-organismos que ajudam as plantas em seu metabolismo.

Até hoje, na zona rural, ainda se utiliza a queimada na limpeza de áreas para formação de pasto para o gado ou para a agricultura familiar. Felizmente, a utilização do fogo como forma de limpar e renovar as pastagens está menos frequente. Muitas áreas estão formadas com capins exóticos, como a braquiária. E a queima da pastagem, mesmo que seca, é um prejuízo, uma vez que o gado ainda consegue se alimentar dela. O que não acontece com as gramíneas nativas, quando adultas e secas são de difícil assimilação pelos animais.

Fato comum, infelizmente, nessa época de seca é a queimada das beiras de estradas, que pode se tornar um incêndio de grande proporção, trazendo prejuízos econômicos e ambientais. O corte de vegetação, quase sempre gramíneas, dessas áreas e sem a retirada do material, é um convite ao fogo. Às vezes, uma simples bituca de cigarro jogada do carro pode provocar um desastre.

Apesar de proibida em algumas regiões, a queima da palha da cana-de-açúcar é realizada para facilitar o corte manual. Quem já presenciou, é amedrontador. Geralmente feito à noite, as chamas atingem metros de altura e espalham material particulado (cinzas e outros) para toda área do entorno. Por bem, a região de Resende Costa não vive essa realidade.

No entanto, outra questão atinge nosso município, a produção de carvão vegetal. Essa é uma atividade lucrativa para Resende Costa, mas, como toda atividade humana, tem seus problemas socioambientais. A limpeza da área de eucalipto após a derrubada é geralmente feita com fogo. O cozimento da madeira nos fornos é outra fonte de fumaça. E no período da estiagem, que vai de maio a setembro, no qual os ventos e as chuvas são mais escassos, a fumaça se acumula no horizonte. Para visualizar a questão, basta chegar nas Lajes de Cima e olhar a paisagem, você vai perceber uma névoa esbranquiçada no horizonte, recobrindo principalmente os vales. Essa nada mais é do que fumaça oriunda da produção de carvão.

Por fim, apesar de trazer alguns benefícios em curto prazo, as queimadas prejudicam bastante o equilíbrio ambiental, como, por exemplo, aumento da compactação e da erosão do solo, altera a qualidade do ar, causa morte de animais e, em alguns casos, acarreta danos a redes elétricas e ao patrimônio público. 

Adriano Valério de Resende

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