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Revitalização de rios

16 de Janeiro de 2018, por Instituto Rio Santo Antônio

Entre os dias 28 e 30 de novembro de 2017, aconteceu em Belo Horizonte o III Encontro Internacional de Revitalização de Rios e também o I Encontro das Bacias Hidrográficas de Minas Gerais. Vários assuntos foram discutidos durante o evento, que contou com a participação de representantes de universidades, instituições/associações nacionais e internacionais e membros dos comitês de bacias hidrográficas. Uma das afirmativas foi que a situação ambiental em que se encontram os rios é preocupante, em especial os que cortam cidades. E se não forem tomadas medidas sérias, o prognóstico é de piora.

Historicamente, várias cidades surgiram próximas aos rios. No Brasil, para pontuar alguns exemplos, São Paulo (rio Tietê), Recife (Capibaribe), Aracaju (Aracaju), Porto Alegre (Lago Guaíba), Belo Horizonte (Arrudas).

Vejamos o caso de Belo Horizonte, construída e inaugurada em 1897 para ser a sede do governo mineiro. Várias localidades estavam pleiteando o título de capital do Estado. Inclusive a Várzea do Marçal, na nossa vizinha São João del-Rei, era um dos locais que entraram na disputa. Dentre os critérios para ser a capital estava a proximidade com um curso d’água, que servisse como escoadouro das águas residuárias (esgoto). Foi escolhido um arraial chamado Curral del Rei, aos pés de uma belíssima serra, onde nasciam vários córregos afluentes que convergiam para o ribeirão Arrudas: Cercadinho, Leitão, Acaba Mundo, Serra, Taquaril, Pastinho. Atualmente, grande parte desses córregos já não está mais visível à superfície. Foram canalizados ou como ironicamente dizem os representantes dos comitês, foram encaixotados. Estão debaixo de ruas e de avenidas. E o pior, se tornaram praticamente esgoto. Quanto ao ribeirão Arrudas, que desagua no rio das Velhas, esse parece mais um camaleão, de vez em quando muda de cor. Encaixotado, sujo, com lixo, sem peixe e, em alguns pontos, debaixo de avenidas. Realmente, estamos na contramão do que está acontecendo com os rios europeus que cortam capitais: Sena, Tejo, Mançanares, Tâmisa, Spree.

Citamos também o exemplo do rio Pará, que nasce cristalino nas imediações do povoado do Cajuru. Após ser o receptor final dos esgotos de várias cidades e de receber as águas de um afluente, o rio Itapecerica, que corta Divinópolis, ele está praticamente sem vida. No entanto, não podemos deixar de mencionar um caso de cuidado com cursos d’água em área urbana: Poços de Caldas, cortada pelo ribeirão dos Poços e seus vários afluentes. Os leitos e parte das margens estão bem preservados em grande parte da cidade.

Em nossa região, várias cidades surgiram na busca pelo ouro, assim, as construções foram sendo edificadas próximas aos rios. Como exemplos: São João del-Rei, Tiradentes, Prados, Barroso, Coronel Xavier Chaves. Resende Costa é uma exceção, pois não temos curso d’água atravessando a cidade ou um rio com vazão significativa no entorno da cidade, que foi construída inicialmente no alto de um pontão de granito.

Infelizmente, a história de degradação se repete também nas pequenas cidades: os cursos d’água recebem esgoto in natura e são encaixotados. Mesmo só tendo nascentes (as minas) e alguns filetes de água drenando partes da cidade, Resende Costa está reproduzindo o que presenciamos em cidades grandes. Vejamos alguns exemplos recentes. Com a abertura da nova avenida, no bairro do Canela, as margens do curso d’água (nascentes do córrego Picada) estão sendo degradadas (entupidas com terra e entulho). Destaca-se que mesmo em área urbana, legalmente há uma faixa de 30 metros a partir do leito regular do curso d’água que deve ser obrigatoriamente preservada. Uma nascente no início da avenida foi totalmente desmatada. A faixa de vegetação nativa a ser preservada ao redor de nascentes é de 50 metros. Outro caso, o córrego que cortava a rua Vereador Joaquim Campos, no pé do chamado Morro da Nega, já não está mais visível. Foi colocado dentro de manilhas de cimento, aterrado e edificado sobre o mesmo. Ainda bem que a cabeceira de drenagem é pequena, senão em uma chuva forte todas as intervenções feitas em seu leito seriam arrancadas.

Por fim, parece que temos fobia de água correndo naturalmente em áreas urbanas. Resta-nos saber até quando!

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