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Serra de São José: o recanto das libélulas

17 de Setembro de 2015, por Instituto Rio Santo Antônio

Adriano Valério de Resende

Numa pesquisa realizada pelo Instituto Terra Brasilis em parceria com a UFMG e outros biólogos independentes, foi publicada uma lista de espécies de libélulas da reserva situada na Serra de São José. Você já ouviu falar em libélulas? Você conhece a Serra de São José?

As libélulas, conhecidas popularmente como lavadeiras ou helicópteros, são insetos que voam muito rápido e caçam perto da água parada (poças e lagos temporários) ou áreas alagadas, na maioria das vezes em pleno voo. Alimentam-se vorazmente de outros insetos, especialmente mosquitos e moscas, inclusive o Aedes aegypti, causador da dengue. Prestam um importante serviço para nós. Comem também girinos e peixes pequenos. Felizmente, as libélulas não têm a capacidade de picar, visto que as suas mandíbulas estão adaptadas à mastigação. Algumas curiosidades: as espécies mais rápidas podem voar por até 80 km/h, o que as fazem as mais velozes entre os insetos; não habitam águas com alteração química ou sinal de poluição, por isso, são consideradas ótimas bioindicadores; seus olhos têm até 30 mil facetas, que permitem uma visão de 360º do ambiente ao redor; fora da água, as libélulas têm somente dois meses de vida.

Da cidade de Resende Costa, ou em outros pontos altos do município, uma elevação geográfica se destaca no horizonte em sentido sudeste: a Serra de São José. Com seus 12 km de extensão, está localizada entre os municípios de São João del-Rei, Tiradentes, Santa Cruz de Minas, Prados e Coronel Xavier Chaves. Caracteriza-se por ser uma formação de quartzito (rocha ornamental conhecida como pedra mineira) e meta-pelito (rocha sedimentar de argila). Em Santa Cruz de Minas, há mineração de areia quartzítica para produção de vidro. Na serra, alguns pontões e vários blocos de rocha espalhados são atrativos turísticos do lugar, além de belas cachoeiras e várias trilhas. As altitudes variam entre 900 e 1.350 metros (a matriz de Resende Costa possui 1.140 metros). A serra possui ainda água termal e mineral, magnesiana e radioativa, na vertente leste, o chamado balneário das Águas Santas. A fonte possui a mais alta temperatura conhecida em Minas Gerais, em torno de 27,5ºC.

Em relação à parte biótica, possui espécies de vegetação típicas de Mata Atlântica na vertente sul (no lado da cidade de Tiradentes), Cerrado, Campo Rupestre nas áreas mais altas, além de campos úmidos e brejos de altitude. Nos diversos ecossistemas presentes na serra, já foram catalogadas 633 espécies de plantas, com destaque para as mais de 80 espécies de orquídeas. Quanto às famosas libélulas, são pelo menos 128 espécies. E mais, 32 espécies de anfíbios anuros (rãs, sapos e pererecas), 242 de aves e pelo menos 9 de mamíferos ameaçados de extinção, como o macaco-barbado, o lobo-guará, a onça-parda, a jaguatirica e o jacu.

Devido a essa singularidade natural e biológica, na Serra de São José existem três Unidades de Conservação estaduais praticamente coincidentes. Duas de uso sustentável: a Área de Proteção Especial – APE Serra de São José, criada em 1981, e a Área de Proteção Ambiental – APA São José, em 1990, ambas com 4.758 ha. A terceira é de proteção integral, o Refúgio Estadual de Vida Silvestre Libélulas da Serra de São José, criado em 2004, abrangendo 3.717 ha. Ratificando a importância científica e biológica do local, foi criado pelo Decreto Estadual 44.518/2007 o primeiro mosaico de unidades de conservação de Minas Gerais.

No Atlas para Conservação da Biodiversidade em Minas Gerais, de 2005, a serra e seu entorno foram indicados como área prioritária para conservação em 5 grupos temáticos biológicos: aves, herpetofauna (répteis e anfíbios), invertebrados, peixes e flora; um grupo temático não biológico (fator unidade de conservação);  outro grupo temático não biológico para fatores abióticos. No mapa-síntese há indicação da serra como uma área prioritária com importância biológica extrema.

 

A área é a formação natural mais bem preservada da mesorregião do Campo das Vertentes, apesar de ainda sofrer com expansão urbana, queimadas, mineração e desmatamentos para ampliação de pastagens. Diante desse patrimônio ambiental tão perto de nós, cabe conhecermos e lutarmos pela sua preservação.

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